5.10.20

Não frequentou a escola

Adriano Miranda

Não frequentou a escola 
no tempo de criança que lhe coube. 
O trabalho instalou-se, desde sempre, 
na orfandade de suas mãos. 
Queimava alecrim para incensar 
a cal das paredes por onde gotejava 
a secura dos olhos. 
Um cansaço antigo a transformou 
em filha de si própria. 

Graça Pires 
De A solidão é como o vento, 2020, p. 25

61 comentários:


  1. "Um cansaço antigo a transformou
    em filha de si própria"

    Não haverá solidão maior, saber
    que o nosso mundo é apenas o nosso
    mundo interior. Somos animais
    gregários, gostamos de nos
    reunir, conversar, amar.

    Neste Poema, querida Graça, lemos
    a tragédia de tanta gente. E que
    que no-la mostra.

    Beijinhos
    Olinda

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  2. Que magnífico ser talhado
    na mestria do verso transparente
    Não frequentou a escola, mas
    no âmago transportava a
    energia da origem dos tempos,
    que levedou no ventre, com que alargou paredes no olhar tolhido
    dos dias pequenos e, quando preciso,
    lavou noites tormentosas
    com o seu próprio sal

    Um beijo, muito amigo, Graça Pires.

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    1. Voltei.
      Por tudo e porque sim...
      Pelo excelente poema e para ver de perto a fotografia.
      O Adriano Miranda fixa e revela, como só ele sabe, a expressividade dramatica que enforma os rostos de gente. Uma foto intensa.
      Beijinho, Amiga Graça Pires.

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  3. Um espetáculo de poesia...Nem sempre o tempo de criança pode ser vivido plenamente,como merecido.Pena! beijos, linda semana! chica

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  4. muito imaginativo.. gosto muito

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  5. Que escrita maravilhosa!
    Uma semana abençoada para você. Bjs.

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  6. Tristes vidas que laten desde el sufrimiento.

    Preciosa entrada y la imagen.

    Un placer estar en tu blog.

    Besos enormes.

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  7. " A solidão é como o vento". O absurdo tempo que em nós fica doendo...
    Tão verdade!

    Uma boa semana, com muita saúde minha Amiga.
    Um beijo.

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  8. Boa tarde Graça,
    Um poema doído e belo que fala de quanto era injusta e triste a não frequência da escola substituída precocemente pelo trabalho árduo na infância não vivida, antes sofrida.
    É bom que não nos esqueçamos, hoje, que estes problemas existiram e, se existiram.
    Um beijinho, minha Amiga, e Enorme Poeta.
    Boa semana com muita saúde.
    Ailime

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  9. Tantos portugueses passaram por isso, de pequenos a trabalhar para ajudar os pais, no campo, nas fábricas, até a vender jornais. A pobreza, o analfabetismo, uma realidade que em breve vai ser esquecida.
    Dizia a minha avó quando via um dos ex alunos a queixarem-se da vida:
    - Já não te lembras quando eras criança e ias descalço no inverno para a escola.

    A pobreza continua, muitas vezes escondida.
    Um grande poema!

    Fica segura, é o melhor que podemos fazer porque, por mim, estou cansada de máscaras, de falta de um beijo na face, do distanciamento social, da desconfiança, este país que se tornou assim. E visitam-se os pais e os avós à distância ou nem isso.

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  10. Uma grande maioria das crianças, no tempo dos meus avós, não iam à escola. Iam trabalhar com criadas para os mais ricos. Eram abusadas e/ou abusadas sem crise alguma. Tristes aqueles que delas abusavam, principalmente as raparigas.
    .
    Início de semana feliz
    Cumprimentos

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  11. Graça

    vidas dificeis.
    um poema dorido que nos comove até â alma
    bem escrito como sempre, mas muito forte.
    a imagem escolhida faz um bom suporte ao poema.
    boa semana com muita saúde e paz.
    beijinhos
    :)

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  12. confeço que me estou a ver aqui pois eu tambem nao fiz muito tempo a escola pois fui trabalhar muito criança adorei bjs saude

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  13. Versos que me lembram meus avós, meus pais, versos adaptáveis ​​também a outras histórias dessa época... mais uma prova de que é eterno o ontem.

    Abraço mais que grande Poeta. Cuide-se bem.

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  14. Um pequeno retrato de muitas, diria milhares, de situações idênticas. Um poema para chamar a atenção.
    Obrigado.

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  15. Mestra / Poetisa, Graça Pires !
    Em cada frase, de essência poeticamente
    perfumada, se pode resumir uma história
    de vida...
    Conheço muitas. Porém, nenhuma tão bem
    explicitando emoções.
    Parabéns, uma ótima semana e um fraternal
    abraço, aqui do Brasil !
    Sinval.

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  16. Que imagem linda, numa composição perfeita com a poesia. Adorei!
    Uma feliz semana para ti. Abraço.

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  17. El saber siempre se encuentra en los libros

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  18. Boa noite Graça. Parabéns pelos belíssimos versos. Uma excelente segunda-feira.

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  19. E há tanto quem tenha de proteger-se a si próprio, ainda que possa ter frequentado a escola, póis se o não fizer, quem o fará?...

    Belo!
    Beijinhos e boa semana!

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  20. Amiga, tão triste, tão verdadeiro. Em cada esquina tem várias pessoas assim.
    Uma boa semana.
    Beijo

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  21. As disparidades sociais levaram ao trabalho infantil e ao descurar da escolaridade obrigatória. Uma situação bem triste, mas real.
    Abraço poético.
    Juvenal Nunes

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  22. Este poema da Graça fala-nos da solidão, da orfandade de todas as mulheres que foram privadas em criança de frequentar a escola.
    Tiveram que reinventar-se, filhas de si próprias, numa biografia da imaginação.

    A mulher na fotografia de Adriano Miranda ilustra isso mesmo, inconformismo e rebeldia.

    Beijo.

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  23. Hello Graça,
    What a nice words!! It's very special to read these romantic words.
    And a nice image.

    Big hug, Marco

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  24. H vidas assim: por de mais orfãs, por de mais tristes...

    Dias agradáveis de uma boa semana.

    Beijinho, Poeta amiga.
    ~~~~~

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  25. Solidão, tristeza... uma vida dura....
    Gostei muito...
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  26. Na carne as marcas que nao têm de ser
    obrigatoriamente o estigma dos filhos.
    Felizmente os tempos são outros, mas
    fica neste belíssimo poema um passado
    vivido por muitos de nós.

    " nós éramos assim...
    as crianças adiadas
    quase sempre infelizes e
    quase sempre cansadas..."

    Um beijo, minha amiga Graça.



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  27. Eram tempos dificeis...bjinho

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  28. Infâncias perdidas na dureza da Vida.


    Te abraço com voto de bom resto de semana, minha Amiga.

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  29. É assim, ou foi assim, querida amiga. Muita gente não aprendeu a ler, porque começar a trabalhar era prioritário. Os tempos eram difíceis, em todos os aspetos e havia bocas para alimentar e corpos para vestir.
    A imagem que colocou a encimar o seu excelente poema ainda se vê nos nossos dias, infelizmente.
    Beijos e boa semana.

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  30. Tão dignas e com direito à nossa modesta admiração. Porque a infância e os prazeres da escrita e da leitura lhes foram sonegados e a vida delas foi pobre além da pobreza.

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  31. Es un retrato minival de la vida de una mujer, que fue siempre trabajo para ser. Un abrazo. Carlos

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  32. Um triste relato de uma infância não vivida pelas dificuldades da vida! Melancólico, mas muito real esse poema!
    Beijos!

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  33. Simples, mas bonito, caríssima poetisa!

    Saudações poéticas!

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  34. Olá, amiga Graça,
    gostei imensamente deste teu belo e sentido poema, com a abordagem de um tema que é bastante conhecido tanto no Brasil como na América Latina (a extraordinária cantora argentina Mercedes Sosa dentre sua obra deixou um canto que fala de situação semelhante a do teu poema, qual seja "menino en la calle"). Parabéns!
    Um beijo, uma boa semana. Cuide-se com o vírus.

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  35. gostei especialmente do final, e que imagem bonita e ao mesmo tempo tão cheia de força! um beijo, Graça.

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  36. Uma notável e comovente inspiração, Graça! E uma leitura tão perfeita, de tantas vidas assim... que ainda vamos encontrando, apesar de tudo... e às vezes, numa versão mais recente... tendo frequentado a escola... pois, circunstâncias e oportunidades... às vezes andam de costas voltadas...
    Um beijinho! Votos de continuação de uma excelente e inspirada semana!
    Ana

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  37. belo, grande, dorido Poema, querida Poeta
    não te escondo (porque a compreendes) uma inesperada emoção...

    beijo, Amiga

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  38. Conheci crianças que não puderam " ser meninos "; o seu destino era " ir servir " ( termo usado nesse tempo " para familias mais afortunadas e trabalhavam só pelo prato de comida e uns trapitos que lhes cobrisse o corpo franzino; mesmo assim, era uma grande ajuda para os pais; menos uma boca a comer, menos um corpo a vestir, mais um pouco de tempo para cuidar dos que, abaixo daquele, gemiam de fome e de frio; eram muitos os filhos e não podiam dar-se ao luxo de mandá-los à escola. Tristes os tempos de outrora, tempos em que não havia qualquer tipo de auxilio e os mais pobres socorriam-se de um ou outro vizinho, mais afortunado, sempre pronto a repaRtir com eles a sopa e o pão de milho por eles feito e que tinha de durar, pelo menos uma semana. Sabes, Graça, lembro de um dia, ao passar em minha casa, uma senhora grávida e já com muitos filhos, dizer para minha ( não me lembro a que propósito...), " o que importa é que venha com saúde, pois mais uma malguinha de caldo arranjaz-se sempre". Vivia com muitas dificuldades, essa familia e conheci bem os filhos: foram crecendo e lutando por uma vida melhor, mas nunca conseguiram " ser meninos" Ainda bem, que, neste aspecto a vida está melhor e a todos é dada a opotunidade de frequentarem a escola. Como sempre, um tema pertinente, retratado em belos versos. Um beijinho e, muitos cuidados, querida Amiga.
    Emília

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  39. Bom dia de paz, querida amiga Graça!
    Cuidar de si mesma quando a vida nos deixa abandonada de gente...
    Pior se faz ainda quando até às Letras se afastaram de nós.
    Tenha dias abençoados!
    Bjm carinhoso e fraterno

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  40. Em cada verso um arrepio e no poema uma mensagem, uma dor antiga, um grito de humanidade.

    Beijo, Graça.

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  41. Não gosto de comparar ninguém
    com pessoa nenhuma, mas como
    você, Graça querida, me lembra
    Cora Coralina que depois de 70
    anos publicou seu primeiro
    trabalho. (e que trabalho...).
    Amo a intenção de sua escrita,
    Graça, e os porquês do seu coração
    gritar tão alto.
    Um beijo minha poeta preferida.

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  42. "Filha de si própria"
    Uma imagem poética que traduz uma realidade que por vezes existe mesmo.
    Um poema soberbo, os meus aplausos.
    Bom fim de semana, querida amiga Graça.
    Beijo.

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  43. A Garça tem uma escrita que nos envolve e nos transporta. Adorei este poema.
    A fotografia está qualquer coisa.

    Beijinhos e bom fim-de-semana!
    Vanessa Casais
    https://primeirolimao.blogspot.com/

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  44. A melhor sabedoria não está nos livros, mas na alma de quem a sabe descodificar, mesmo sem saber ler.
    Um beijinho e bom fim de semana

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  45. Tristes tempos esses, que tu magnificamente descreves em poucos versos.
    Querida Graça, sabes que adoro ler versos teus, não sabes?
    Beijo, protege-te, os números sobrem...

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  46. Esqueci de dizer: a foto de Adriano Miranda é simplesmente FABULOSA!!
    Bjs.

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  47. Uma tristeza amarga , esta de ser filha de si própria!
    Um solidão intensa na orfandade de suas mãos .
    E tu, com uma mestria só e tão tua, nos contas uma história tão maravilhosamente real , triste , bela .
    A minha admiração, sempre , Graça
    Para ti , um grande beijo 🌷

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  48. Un poema atrapante y especial, gracias.
    Abrazo

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  49. Passando AQUI para te dar um abraço e te desejar um bom final de semana. E que vejo uma realidade que seja menos real para o nosso presente. Pois lugar de criança na infância é.na escola e aproveitando tudo de brincadeiras e ensinamentos. Bjs querida

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  50. Bom domingo, Graça! Um lindo e denso poema. Agora que estou com uma hortinha e tenho Alecrim plantado, quando vejo referência a ele acho profundo e perfumado.
    O meu abraço e carinho

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  51. O que fazer com esta solidão que dilacera Graça?
    Tem certas tristezas, que superam nossas forças.
    O poema mergulha e extrai uma solidão dolorida amiga.
    Um bom domingo com paz e alegria.
    Beijo de paz.

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  52. Uma vida de trabalho e solidão, retratada num poema sublime.
    Bom domingo e uma excelente semana
    Beijinhos

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  53. Querida Amiga Graça: Foi como ler um livro, onde toda uma historia se revelou. A pobreza, não ter infância, solidão.
    Lindo poema Graça, onde toda a sua sensibilidade veio a tona.
    Beijinhos, muita saúde e paz.

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  54. Vénia, vénia, vénia... extensível a todo este, inspiradoramente, Poético espaço virtual
    Bjo

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  55. E tantas meninas ainda, filhas de si próprias, que não frequentam a escola e resistem com fome de aprender.

    Beijinhos, Graça.

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  56. Que inquietante mensagem, que delicado poema. E a beleza lúcida e comovente com "as filhas de si próprias".
    Um beijo, minha amiga Graça!

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