O SONHO ADORMECE LENTAMENTE
O dia esgota-se. O sonho adormece lentamente.
Enquanto os sentidos farejam a exaltação do dia,
há um ranger contínuo que ecoa dentro de mim
como um sussurro cósmico que abafa todos os silêncios.
Neste farejar de sentidos me perco na complexidade das coisas banais.
Entrego-me ao vago e indefinível e deixo que os meus lábios
respirem o húmus da madrugada. Parece que deixei de encontrar beleza
nas neblinas matinais, nos nocturnos e húmidos afagos,
nessas coisas sublimes que não têm peso nem cheiro.
No respirar íntimo e latejante da noite um sonho estremece bruscamente
o sossego nocturno e um suspiro se evade de mim,
lento como uma gota de água que escorre agonizante na vidraça.
Talvez uma boca ou uma língua ávida venha sorvê-la, abrir-lhe a névoa,
sentir o seu sabor e saciar a sede que lhe arde nos lábios.
Albino Santos
In: A complexidade das coisas banais. Viseu: Seda Publicações, 2025, p. 13

O dia adormeçe, o sonho chega e na noite quanta poesia pode acontecer... Lindo!
ResponderEliminarbeijos praianos, chiuca
Graça, que maravilha de partilha…
ResponderEliminarAs palavras de Albino Santos tocam como um murmúrio antigo,
onde o silêncio ganha corpo e a noite respira.
Há uma delicadeza rara neste adormecer do sonho,
um encanto que se perde e se reencontra em cada imagem.
O texto é uma travessia entre o real e o etéreo,
onde até a gota que escorre tem alma e destino.
Lindo demais, um suspiro em forma de poesia.
Abraços fraternos e uma semana abençoada !
do amigo, Daniel
https://gagopoetico.blogspot.com/2025/10/o-louco.html
Olá. Graça.
ResponderEliminarBelo poema desse autor que desconheço.
Esse ranger contínuo dentro de nós é de fato um sussurro cósmico!
Esse entregar-se ao silêncio da madrugada onde o sonho nos embala.
Tudo pode acontecer...delicadamente como a noite...
ResponderEliminarBeijos e abraços
Marta
Belíssimo poema do Albino Santos.
ResponderEliminarOnde manifesta de uma forma brilhante, o ranger dos sonhos no âmago de nós.
Excelente partilha, amiga Graça.
Gostei bastante.
Beijinhos e boa semana, com tudo de bom.
Mário Margaride
Um texto de rara densidade sensorial, onde a melancolia e a contemplação se entrelaçam com notável subtileza.
ResponderEliminarO Autor transforma o quotidiano em matéria poética, conduzindo-nos por um crepúsculo de emoções que se dissolvem entre o sonho e a consciência.
Um boa escolha de um trabalho poético de Albino Santos.
Boa semana Amiga Graça com saúde e paz.
Deixo um beijo.
:)
Que texto maravilhoso você postou Graça!
ResponderEliminarAlbino escreve com sentimento.
Há nele uma musicalidade rara o tempo desacelera, o sonho respira, e cada imagem parece suspensa entre o real e o etéreo.
A linguagem é densa, mas suave; é como se o poema se movesse no limite entre o corpo e a alma. Esse “sussurro cósmico” que abafa os silêncios é uma das imagens mais belas traduz perfeitamente o instante em que o sonho e a vigília se confundem.
Um texto que não se lê apenas: se sente devagar, como o próprio sonho.
Amo os textos dele.
Boa partilha minha amiga!
Beijinho
Fernanda
La prosa siempre poética de Albino es tan impecable como inspiradora, amiga Graça. Vocé hace bien en amplificarla.
ResponderEliminarAbrazo admirado una vez más!! También para el amigo Albino.
O poema faz uma inflexão bastante interessante. Se se inicia de forma transcendental e etérea:
ResponderEliminar" O sonho adormece lentamente.
Enquanto os sentidos farejam a exaltação do dia,
há um ranger contínuo que ecoa dentro de mim
como um sussurro cósmico que abafa todos os silêncios";
opta no final por uma dimensão imanente, quase corpo adentro, sanguíneo, fazendo lembrar Herberto Hélder e as suas metáforas carnais:
"Talvez uma boca ou uma língua ávida venha sorvê-la, abrir-lhe a névoa,
sentir o seu sabor e saciar a sede que lhe arde nos lábios."
Um belíssimo escrito! Parabéns para o autor A. S. que assim escreve maravilhosamente!
ResponderEliminarGrata por nos mostrar.
Beijinhos e boa semana!
O título do livro é bastante apelativo: A complexidade das coisas banais. Não sei se entendi o poema, as coisas que o poeta afirma sublimes são tão banais quanto as outras (a banalidade, tal como a sua ausência, mora em nós, não é?) As neblinas matinais têm cheiro, por exemplo. Mas talvez ele queira dizer que é sublime o que é da natureza e está fora do domínio humano, o que não pode fechar-se num armário nem cabe numa casa. E cinge-se ao que está ao alcance dos sentidos, as coisas pequenas e breves, perecíveis.
ResponderEliminarBoa noite, Graça
Um poeta que não conhecia. Gostei da amostra.
ResponderEliminarBoa semana.
Um abraço.
Ah, como eu queria ser
ResponderEliminaressa boca, essa língua ávida
e, por isso, te digo
essa seara que dizes ser de outro
é bem nossa
Beijo de fã
Coisas banais que, apesar de assim serem, às vezes roubam a nossa paz.
ResponderEliminarUma bela semana, amiga.
Profunda reflexión. Te mando un beso.
ResponderEliminarQue lindo! Sensível e e forte! Parabéns!
ResponderEliminarOlá. Graça.
ResponderEliminarBelo e inspirado poema. Albino é ótimo com as palavras.
Esse sussurro cósmico que se entrelaça na vigília é fantástico!
Grande postagem, te agradeço.
Bjss, Marli
Um poema em que a inquietação e a insatisfação estão presentes.
ResponderEliminarGostei bastante.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes
Querida Graça
ResponderEliminarInspirador este texto de Albino Santos.
As palavras quase que ganham vida e vêm
saudar-nos e dar-nos a provar o elixir da vida.
Com ele as coisas banais não são banais.
Carregam em si o reclame da luz do quotidiano.
Gostei muito, amiga.
Beijinhos
Olinda
Gostei de conhecer.
ResponderEliminarMinha Amiga, bom resto de Outubro e carinhoso abraço para ti.
Boa tarde Graça,
ResponderEliminarQue admirável poema, em que o Poeta expressa todo o seu sentir de uma forma, que me levou a admirar toda a poesia colada a todas as palavras do poema.
Belo! Belo! Muit belo!
Grata pela partilha, minha Amiga e Enorme Poeta.
Beijinhos e continuação de uma semana com muita saúde.
Emília
Olá minha querida amiga Graça. Muitos autores são desconhecidos no Brasil. Obrigado por dividir ou nos trazer um pouco mais de poesia e em tempos tão difíceis.
ResponderEliminarOlá, amiga Graça, gostei muito deste texto, não conheço o autor, mas agradeço pela partilha.
ResponderEliminarVotos de uma ótima semana, com muita paz e luz.
Beijo, minha amiga.
Eis o Albino Santos com todo o esplendor da sua poética sempre resplandecente cuja arquitetura culmina na sedução amorosa onde a paixão se mistura com uma ternura incomparável do ser amado.
ResponderEliminarBoa colheita , querida Graça.
Parabéns Albino .
Beijinho aos dois
Olá doce Graça
ResponderEliminarQue bom encontrar aqui a beleza das palavras do A.S.
Gosto muito do jeito dele, a forma como trata as palavras com delicadeza, sensualidade e paixão.
Uma excelente partilha.
Abraço e brisas doces ****
Um sopro de vida na seara alheia. Este sopro é como nos dissesse que a beleza está nas coisas banais que muitas vezes não lhes damos atenção. Albino sabe o que faz com as palavras, o chão nunca se evapora sob os nossos pés quando estamos dos poemas.
ResponderEliminarBela partilha!
Um beijo, minha amiga Graça!
Leia-se quando estamos diante dos seus poemas.
EliminarOlá Graça
ResponderEliminarNo crepúsculo da alma, onde o dia se esvai e o sonho adormece, o eu se perde na banalidade dos sentidos, ansiando por um toque que desfaça a névoa e sacie a sede de um anseio profundo e indefinível."
É muito forte a imagem do "ranger contínuo" que ecoa dentro de si, como um "sussurro cósmico" que abafa os silêncios. Isso me faz pensar em inquietações internas, em pensamentos que não se calam, mesmo quando tudo ao redor parece calmo. A perda da beleza nas coisas antes sublimes, como as neblinas matinais, também revela um estado de espírito mais sombrio, onde a percepção da beleza se turva.
E essa gota de água que escorre agonizante na vidraça, com a esperança de ser sorvida por uma boca ávida... é uma metáfora poderosa para o desejo de conexão, de ser compreendido, de ter essa inquietude dissolvida por um outro. É uma busca por um sentido, por um sabor, por uma saciedade que parece distante. O poema capta de forma muito sensível essa dualidade entre o vazio aparente e a ânsia latente.
Beijinhos minha amiga
Bom dia, Graça
ResponderEliminarPoema reflexivo, não conhecia o autor, desejo um excelente final de semana, bjs querida.
Boa tarde, amiga Graça.
ResponderEliminarPassando por aqui, para desejar um feliz fim de semana.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Quanta poesia nos abraça ao cair da noite!
ResponderEliminarGosto muito de Albino Santos!
Um abracinho querida amiga Graça e grata por ter partilhado algo tão belo de ler!
💝👄💝Megy Maia
Nostálgico e belo poema.
ResponderEliminarQue nunca deixemos de admirar e encontrar beleza, nas coisas simples da vida, como a misteriosa neblina da manhã.
Excelente partilha.
Beijos e um bom fim de semana