Nunca te procurei. Não te procuro, tão indolente que sou. E, no entanto, acabas sempre por vir: de mansinho, insidiosa... Ó terrível desventura que salva! Em mim te aconchegas com teu tropel de vozes: lúcida desrazão que acalma, êxtase do que pressinto. E vens, misto de assombro e agonia, estranho dizer, talvez poesia.
Victor Oliveira Mateus
In Pelo deserto as minhas mãos. Sassoeiros: Coisas de Ler, 2004
A poesia, como tudo aquilo que nos deslumbra e nos faz exaltar o mistério da vida e do amor, chega-nos sempre pelos caminhos mais inesperados.
ResponderEliminarPela via da indolência, só pode chegar de mansinho e insidiosa.
A relação do poeta com a poesia, essa "terrível desventura que salva" e que chega inesperada, insidiosa, é muito difícil de explicar. O belo excerto de Oliveira Mateus levou-me à Conta-Corrente, onde Vergílio Ferreira tantas vezes se indaga enquanto escritor. Deixo aqui um excerto que aprecio muito e que a Graça de certeza conhece. Com um beijo e votos de bom fim de semana:
ResponderEliminar«Porque escrevo? Escrevo para criar um espaço habitável da minha necessidade, do que me oprime, do que é difícil e excessivo. Escrevo porque o encantamento e a maravilha são verdade e a sua sedução é mais forte do que eu. [...] Escrevo para tornar visível o mistério das coisas. Escrevo para ser. Escrevo sem razão»
Que simbiose de palavras belas!
ResponderEliminarObrigada Manuel pelas palavras tão cheias de sabedoria. É, sim,"pelos caminhos mais inesperados" que nos chega a poesia. E sempre como se fosse a primeira vez.
ResponderEliminarSoledade, gostei da sua apreciação ao texto do Victor Mateus. Não conhecia o texto do Vergílio pois não tenho a Conta-Corrente. Mas acho as razões que ele refere tão maravilhosas quanto toda a escrita que ele nos deixou. Obrigada e um beijo.
Um beijo Helena e obrigada pelas palavras.
A poesia, sempre vinda do âmago profundo e oculto da vida, nos conjuga na face dos nossos semelhantes e, nesses instantes, somos amor, esperança, êxtase. Octávio Paz chamou a essa chama, a poesia, de "A outra voz", a voz que vem do mistério, do profundo sagrado, de nossa esperança viva. Creio que, o poeta Victor Oliveira Mateus, autor dessa obra prima, o "Pelo deserto as minhas mãos", desejava, justamente, abarcar a vida em suas múltiplas riquezas, em suas raízes essenciais. É isso. Graça, minha queria da amiga, é por acreditar nesse mito pessoal, a poesia, que me faço força e pulsação.
ResponderEliminarGrande abraço do Alexandre.
Você disse, Alexandre. E eu gostei do que disse, como sempre. Um beijo.
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