28.9.07

Filho a filho se doendo

Gertrude Kasebier

Há momentos
em que uma orfandade,
esquiva e indefesa,
se me cola ao sangue,
como se me habituasse
às sombras.
A meia-luz que envolve
meus ombros percorre,
longamente, os gestos
das mulheres, intrusas de si próprias,
filho a filho se doendo.
Sobre o meu corpo paira
um insensato rumor que torna
vertical a minha sombra.


Graça Pires
De Não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos, 2007

12 comentários:

  1. perdi as palavras.


    pela beleza do texto.

    e pela magnifica ft.


    a meia luz que aqui nos envolve...

    ____________________.


    bom fim de semana G.

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  2. como é belo o rumor que percorre a tua Palavra poética e (insensato, sem dúvida!) se recolhe na vibração dos sentidos.

    gostei muito.

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  3. «como se me habituasse
    às sombras»...
    como se restasse apenas um vazio...

    e o vazio é penoso, mas o texto que o sugere é muito bonito, Graça!

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  4. (Graça,
    "postei" o teu poema.
    muito obrigada!)

    :)

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  5. Há momentos lindos... em que a sombra se coloca na vertical e faz uma vénia à poetisa...

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  6. (...)torna
    vertical a minha(...) dor!
    .
    (que se escreve, transparente, entre os silêncios). Gostei!
    Abraço.

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  7. Obrigada Isabel. Magníficas são sempre as tuas palavras. Um beijo.

    Herético, obrigada. Tens sempre um modo sensível de analisar o que eu escrevo. Um abraço.

    Sim, Maria, o vazio é sempre triste. As sombras fazem parte da nossa procura de luz. Um beijo e mais uma vez obrigada por tudo.

    Luis, foi encantador o que escreveste. Um abraço e obrigada.

    Obrigada Tinta Permanente pelas palavras. As sombras e a dor confundem-se, é certo...Um abraço.

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  8. eu já tinha lido este poema. sabe-se lá porque não comentei...

    (talvez por os meus filhos estarem a sair do ninho...)

    na realidade não sei se prefiro assim. Ainda não sairam na totalidade: apenas estão a ter as suas vidas próprias

    beijos

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  9. Caramba, Graça! Tu és mesmo uma poeta de mão cheia!

    Beijos**

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  10. Não tem estritamente a ver, mas ao ler o poema lembrei-me de uma carta de Ramon Sampedro em que ele escreve: «As mães deviam fazer sempre de deuses, porque seriam sempre justas. Agiriam sempre com amor.»
    Fico com os olhos nessa "sombra vertical" - imagem de silenciosa solidão materna. É um poema tocante, queixume, mas a aceitação...
    Um beijo

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  11. Olá Teresa. Custa quando os filhos começam a ganhar asas. Mas são sempre nossos e nós nunca mais os largamos, não é? Obrigada e um beijo.

    Obrigada Maria, tu é que és muito generosa comigo... Um beijo.

    Soledade, concordo com Ramon Sampedro. Assim seria mais fácil ser mãe. Sem medos. Sem sombras.
    Obrigada e um beijo.

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  12. Filho a filho se doendo

    corpo na vertical

    sem sombras.

    Belo

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