Georges Seurat
Faço um barco de papel e embarco, rumo às cenas
baralhadas de um sonho qualquer.
É outono e não sei dizer quem sou ou o que quero ser.
Os meus olhos são rios de palavras afogadas,
É outono e não sei dizer quem sou ou o que quero ser.
Os meus olhos são rios de palavras afogadas,
onde só posso ver a minha imagem disfarçada de mim.
Percorro então, uma a uma, as horas por viver
e descubro um arco-íris na minha boca
a gritar uma insónia íntima.
Dentro do meu sono ainda me perturba
Dentro do meu sono ainda me perturba
a tua imagem, miragem do meu deserto
vencido, demora da minha espera.
Era feito de mármore o silêncio
dos teus olhos e por ele escorriam
as palavras que eu dizia, como se fossem água.
Esse silêncio doeu na minha voz,
Esse silêncio doeu na minha voz,
quando as minhas mãos violaram os gestos
e, entre nós, ficou intacto o diálogo.
Sei agora a cor exacta do vinho
Sei agora a cor exacta do vinho
com que brindei à primavera em nome
da presença que tu eras e hoje, ao recordar-te,
sublinhei o sentido dos sonhos e do vento.
Foi o tempo em que a neve presente no teu rosto
gelou os meus lábios até à transparência.
Graça Pires
Graça Pires
De Outono: lugar frágil, 1993
quando as memóriuas tapam o nosso intimo penso que nos perdemos. reencontrar, (re)centar e o mundo está dentro de nós
ResponderEliminarum beijo
Tão belo, Graça!
ResponderEliminarComo é possível falar da separação, da mágoa, do desencanto, de forma tão poética e tão delicada nas imagens lindíssimas que crias!
Simplesmente bonito...
ResponderEliminarLP
http://palavrascomfim.blogspot.com/
ResponderEliminarVisite...LP
Não imaginas o arrepio que senti!
ResponderEliminarLindo, lindo! Que bom ler-te, Amiga!
Beijos.
são belas as viagens. ainda que em barco(s)de papel!
ResponderEliminar... e a lucidez o vinho. na sua cor exacta!
Que haverá no outono que nos impele a estes olhares longos para dentro e para trás, a estas viagens agridoces?
ResponderEliminarApesar de tudo, a memória é uma dádiva.
Um beijo, uma boa noite
Belo! Sublime! soberbo!
ResponderEliminarPalavras e imagem.
Beijinhos
vim embarcar o meu olhar "vagabundo" nesta ortografia outonal.
ResponderEliminartb agradecer a atenção que tem dado a um piano "mudo".
_______________abraço.
Olá,
ResponderEliminarDescobri-a através da HFM. Gostei muito do que escreve e voltarei certamente.
Tão belo e delicado... Fantástico!
ResponderEliminarUm abraço
Navegar num barco de papel alimenta os anseios inquietos dos Homens.
ResponderEliminarUm poema de poemas feitos onde a largura do tempo se estende na memória. Belíssimo e ainda por cima servido de Seurat.
ResponderEliminarUm dia, o primeiro poema dum livro deixou-me sem palavras.
ResponderEliminarJá passou algum tempo mas é sempre bom reler aquilo que nos sabe bem.
É Outono.
Vou mais uma vez procurar esse lugar.
um beijo.
voltei para reler o poema, de que gosto mesmo muito!
ResponderEliminarGraça, gostava de colocar este poema no meu sítio.
posso?
(se entenderes que não, eu compreendo)
"Era feito de mármore o silêncio
ResponderEliminardos teus olhos e por ele escorriam
as palavras que eu dizia, como se fossem água."
E quando a neve veio...
Este Outono de balanços!
Um beijo.
Ortograficamente fico dividido pelas palavras e pelas imagens; enquanto dou graças ao Acaso...
ResponderEliminarabraço.
O Outono é propicio a viagens, em barcos de papel, com todos os perigos e fragilidades das folhas simples...
ResponderEliminarAqui encontro um blog de realmente muito boa poesia.
ResponderEliminarUm abraço.
Deixo-te beijinhos e desejo-te um fim de semana calmo, alegre, pacífico...
ResponderEliminarEsse não é belo, é muito mais. É o próprio esplendor. Beijos. Saudade.
ResponderEliminarQuero agradecer a todas as amigas e a todos os amigos as vossas generosas e sensíveis palavras. Os que vieram a este espaço pela primeira vez, espero que voltem.
ResponderEliminarA todos digo:
"Acendo as mãos para aquecer o olhar de quem atravessa apressadamente o outono. Um morno ruído desdobra o voo quebrado dos plátanos, obstruindo um caminho, desenhado a carvão, por onde passeio, à beira dos acontecimentos e das sílabas, alheia a tudo, como se pudesse passar o resto da vida à sombra do pólen das palavras e adormecer no confluir da transparência e da luz, neste outono: lugar frágil."
Especialmente para ti Pedro, um grande beijo. Sei que, de todos os meus livros, este é o teu preferido. Foram lindas as tuas palavras, meu filho.
Obrigado pela visita ao meu cantinho... ainda bem que gostou!!
ResponderEliminareu também gostei deste... :)))
beijos
Esse poema fala de coisas sobre as quais gosto de escrever: Outono e Insônia.
ResponderEliminarBelíssimo!