14.10.07

Contra o peito da noite

Christian Hang


Contra o peito da noite me aconchego
sem medo da manhã.
Sei que não sou rival do vento,
nem é minha irmã a lua cheia.
Urgente de viver, simulo o futuro,
como quem saboreia a pureza
no limiar do pecado.
Deitada sobre a terra gravo,
nas paredes côncavas do firmamento,
uma palavra de amor recém-nascida.
E, nem o mais leve movimento das mãos,
abertas sobre a fantasia,
mostrará a dança das sílabas sobre a boca,
onde existe um barco de vidro gritando por um rio.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

10 comentários:

  1. Não sei se colho o que a poeta semeou. Mas, como Pessoa, acredito que sentir sente quem lê. E a mim cativa-me a afirmação tranquila de impossibilidades que não paralizam, antes impelem à criação, ao sonho de futuro, à "palavra de amor recém-nascida". E no verso final bem se escuta a urgência deste apelo.
    Belo poema, Graça. Para uma boa semana :)
    Um beijo

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  2. sente-se um incentivo à vida, apesar de tudo, um desejo forte de viver.
    gostei!

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  3. Da simplicidade da interrogação que está longe de ser mera especulação. E a poesia aqui habita.

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  4. por mero acaso vim aqui a parar...confesso que gostei do que por aqui se sente.voltarei mais vezes.

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  5. contra o dia...eu diria....todo ele claro.

    todo luz.


    porque é de luz que o teu peito fala na calada da noite.


    belíssimo aconchego!!!!


    beijo.

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  6. "... a dança das sílabas sobre a boca,
    onde existe um barco de vidro gritando por um rio"

    Lindo.

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  7. A noite sempre feiticeira e sobre o peito máis...

    Unha aperta.
    :)

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  8. contra o peito da noite...

    sem medo da manhã...

    deitada sobre a terra...

    onde existe um barco de vidro...

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  9. Soledade, concordo com Pessoa: sentir sinta quem lê... Mas gosto que goste do que eu escrevo.
    Maria a poesia, a minha, é sempre um incentivo à vida.
    Helena, a poesia habita aqui sim...
    Alexandre, obrigada pela visita e volte sempre.
    Isabel, é de luz, sim que o meu peito fala na calada da noite. Lindo.
    Mïr, gosto da tua visita.
    Marinha de Allegue, unha aperta.
    Luis, foi bom teres vindo.
    Um beijo a todas e a todos

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  10. "simulo o futuro,
    como quem saboreia a pureza
    no limiar do pecado..."

    apenas um Poeta maior poderia dizer. assim. tão belo.

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