Lidar as mais indignadas palavras,
e deixá-las em sangue,
a coberto de qualquer expiação.
A fome é um insulto, longamente
desenhado rente à boca.
O negativo que o peso da história nos legou.
Em nome dela, inventamos, desesperadamente,
uns deuses de estimação, a quem culpamos
dos desacertos do mundo.
E dormimos tranquilos, sem lamentarmos
a nossa própria indiferença.
Os nossos protestos não chegam, sequer,
a ser palavras de ordem para uso caseiro.
Graça Pires
e deixá-las em sangue,
a coberto de qualquer expiação.
A fome é um insulto, longamente
desenhado rente à boca.
O negativo que o peso da história nos legou.
Em nome dela, inventamos, desesperadamente,
uns deuses de estimação, a quem culpamos
dos desacertos do mundo.
E dormimos tranquilos, sem lamentarmos
a nossa própria indiferença.
Os nossos protestos não chegam, sequer,
a ser palavras de ordem para uso caseiro.
Graça Pires
De Ortografia do olhar, 1996
obrigado pelas suas palavras, sempre simpáticas e atentas.
ResponderEliminarÉ preciso rasgar
ResponderEliminaras palavras
«Lidar as mais indignadas palavras,
ResponderEliminare deixá-las em sangue,
a coberto de qualquer expiação.»
muito incisivas estas palavras, o tema exige palavras assim.
e se grassa a indiferença, há sempre quem não pode ficar indiferente e escreve um poema assim!
Pois não, Graça...
ResponderEliminareu sei que é pouco, mas pelo menos vão aparecendo palavras, contra esta indiferença, também ela a caminho da globalização...
Abraço
"A fome é um insulto, longamente
ResponderEliminardesenhado rente à boca."
Belo!
Obrigada.
Bom dia Graça!!!!
ResponderEliminaré assim mesmo!
beijo. com fome de que a fome acabe
(impossível, sei)
beijos.
«Da História encarrega-se o tempo.
ResponderEliminarMas quem se encarrega das pessoas?» - pergunta a Yvette Centeno nas "Irreflexões".
Parece uma questão banal. Mas não temos resposta, ou então «inventamos, desesperadamente,/uns deuses de estimação, a quem culpamos /dos desacertos do mundo.»
É tudo tão complicado! E o ser humano, na sua individualidade, é tão vulnerável! Erguemos a voz, mas sentimos a futilidade do nosso protesto no próprio instante em que erguemos a voz. Não havia de ser assim...
Um beijo
Soledade
"Os nossos protestos não chegam, sequer,
ResponderEliminara ser palavras de ordem para uso caseiro. "
Retenho e sei que aqui tb se concentram todas estas palavras.
Uma imagem dolorosa. Forte e chocante, é a realidade deste mundo.
ResponderEliminarA fame é algo terrorífico. Non se pode consentir.
ResponderEliminarUnha aperta.
:)
"nossos protestos não chegam, sequer,
ResponderEliminara ser palavras de ordem"...
mas o teu poema é um libelo. acusatório. malgré lui...
o poema é uma arma. tantas vezes.
Obrigada a todas as amigas e a todos os amigos pelas vossas sensíveis palavras e pelo carinho.
ResponderEliminarUm beijo
Quando vejo fotos dessas sinto uma dor intolerável, algo rebenta cá dentro.
ResponderEliminarEvoluímos? Somos o animal perfeito?
Mas temos estas tremendas desigualdades, esta horrível verdade: morre-se de fome neste mundo, sofre-se de muitas maneiras e não evoluímos o suficiente para impedir este estado de coisas. Às vezes perco a fé na humanidade.
Graça, obrigada pelas suas visitas ao meu blogue e pelos seus gentis comentários.
Graça: que cena tocante...bem triste...Que poesia linda...que espaço maravilhoso o seu,parabéns diretamente do meu Cotidiano.
ResponderEliminarEsta imagem vale por mil palavras... forte, dura e perturbadora...
ResponderEliminarMais perturbador é o que está para além dela... a fome de uns é o alimento de outros... é a fome, nas suas diversas formas (de alimentos, de poder, de amor, de vingança, ...)que alimenta as guerras. É por isso que digo: o Homem é o maior predador de si próprio.
Gostei deste espaço.