Amedeo Modigliani
Já não posso olhar as palavras como dantes.
O tempo apagou-me das mãos tantos desejos.
É possível que a minha boca
se encha de silêncios,
à míngua de alegria,
como se uma noite inquieta
me ardesse nos ossos
e as aves me segredassem
ausências sem recuo.
Porém, já outros pássaros
reiniciam um voo mais que perfeito,
à procura de um lugar
onde, transfigurados,
possam tecer, de novo, as suas asas.
Graça Pires
O tempo apagou-me das mãos tantos desejos.
É possível que a minha boca
se encha de silêncios,
à míngua de alegria,
como se uma noite inquieta
me ardesse nos ossos
e as aves me segredassem
ausências sem recuo.
Porém, já outros pássaros
reiniciam um voo mais que perfeito,
à procura de um lugar
onde, transfigurados,
possam tecer, de novo, as suas asas.
Graça Pires
De Não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos, 2007
tempo de mudança:
ResponderEliminar«Já não posso olhar as palavras como dantes.»
uma mudança dolorosa:
«sem recuo»
mas com réstia de esperança:
o desejo não voltará a ser o mesmo, mas talvez volte, quem sabe, «transfigurado», noutro espaço, noutro tempo...
As palavras, sempre elas, numa viagem de que não se conhece o retorno. Belíssimo.
ResponderEliminarMuito bom. Por mais duras que sejam as mudanças, aprendemos sempre com elas...
ResponderEliminareu diria o mesmo...:(.
ResponderEliminarprefiro as tuas. às minhas.
boa noite.
Deveríamos aprender com os pássaros..a mudar o rumo...qdo td está errado!!
ResponderEliminarAbraços mil!!!
(re)encontrei-te.
ResponderEliminarJoão Carlos
Nos mesmos pássaros
ResponderEliminaras mesmas asas
no vento renovado
Podes, podes...
ResponderEliminarE elas ficam agradecidas...
As palavras que se(nos) refazem.
ResponderEliminarÀs vezes demoram...
Um beijo.
Adoro todos tus poemas,
ResponderEliminargracias por llenar de magia
mis sueños.
parabens.
caterina
gostei das tuas palavras. em vôo perfeito. como "asas do desejo" permanentemente reinventado...
ResponderEliminarÀs vezes acontece-me sentir uma quase repugnância pela palavra poética; parafraseando o título do poema: "nem as posso ver". Fecham-se portas, instala-se uma saciedade, uma premência de silêncio. Mas no fundo espera-se que outro ciclo se inaugure. Será que haverá sempre um novo ciclo, um outro voo "mais que perfeito"? Que misteriosos são os caminhos da criação...
ResponderEliminarMaria e Helena, gostei do modo como leram o poema. A mudança é dolorosa e sem retorno. Fica-nos a vontade de um renascer mais perfeito...Obrigada.
ResponderEliminarAlquimista, tens razão. Mas às vezes não aprendemos assim tanto.
Isabel, não sei o que te diga porque o que escreves é bastante jovem e vigoroso. Obrigada por vires até este meu espaço.
Lia, os pássaros são um motivo grande de inspiração. Queríamos ser como eles, de facto.
João Carlos, reencontraste-me? Então também te reencontrei e fico feliz. Irei visitar o teu espaço com calma.
Mar arável, sempre poético... Obrigada.
Luis bem hajas por confiares nas minhas possibilidades poéticas.
Licínia, é bom e bonito o que dizes... Obrigada.
Caterina, que bom gostares do que escrevo. Que bom se sentes o que digo. Obrigada e volta sempre.
Herético também gostei das "asas do desejo" e do voo permanentemente reinventado.
Soledade, sim são misteriosos os caminhos da criação. Mesmo quando o cansaço das palavras existe continuamos sempre,como se uma força anímica nos transfigurasse...
Um beijo a todos.
poesia com poesia se paga...
ResponderEliminartenho para te dizer um estuário de luz que desagua na boca da manhã
tenho para te dizer os lunários e as contradanças do sonho
os anjos que caíram nas asas deste poema
tenho para te dizer qualquer coisa que não sei como trazer no coração das mãos
qualquer coisa que não tem outro movimento
senão no apertado sentido destes versos
como se eu soubesse que tudo isto não passa de um poema
para te dizer precisamente que acordei contigo nos meus olhos