Cartier-Bresson
O outono entra-me pela casa.
Ao longo das paredes sublinho a minha cronologia,
num gráfico de sílabas, susceptível à tristeza.
Neste momento, avalio mal o equívoco do silêncio
frente à disponibilidade das palavras.
Acerto os livros pela lombada e vejo,
Ao longo das paredes sublinho a minha cronologia,
num gráfico de sílabas, susceptível à tristeza.
Neste momento, avalio mal o equívoco do silêncio
frente à disponibilidade das palavras.
Acerto os livros pela lombada e vejo,
nas estantes, as sombras de poetas românticos,
com um imenso rio na expressão dos olhos.
A privação de rostos, torna violentas todas as cores.
Coloco as palavras sobre a mesa
A privação de rostos, torna violentas todas as cores.
Coloco as palavras sobre a mesa
e volto à caligrafia da sede.
Onde estão os pássaros de olhos aguados,
Onde estão os pássaros de olhos aguados,
que sobrevoavam, ainda há pouco, as minhas mãos ?
Graça Pires
Graça Pires
De Reino da lua, 2002
o outono, na sua melancolia arrastada, na antecipação do entardecer, do silêncio nocturno, pode tornar-se um equívoco realmente (nunca o tinha pensado assim)... mas as palavras estão lá, e as «aves aguadas» também...
ResponderEliminareste poema é fantástico, Graça!
todo ele. mas diria também que os versos
«Coloco as palavras sobre a mesa
e volto à caligrafia da sede.
Onde estão os pássaros de olhos aguados,
que sobrevoavam, ainda há pouco, as minhas mãos ?»
poderiam ser um poema por si só!
Tão díficil de comentar! Destaco apenas - apenas feito de tudo:
ResponderEliminar"Neste momento, avalio mal o equívoco do silêncio
frente à disponibilidade das palavras.
Acerto os livros pela lombada e vejo,
nas estantes, as sombras de poetas românticos,
com um imenso rio na expressão dos olhos.
A privação de rostos, torna violentas todas as cores.
Coloco as palavras sobre a mesa
e volto à caligrafia da sede."
Os pássaros estarão sempre nos seus olhos e nos seus poemas.
ResponderEliminarSaudações!
Os pásaros estão sempre nos nossos olhos,buscam as palavras em cada migalha...
ResponderEliminarBjs Zita
Os "pássaros" voaram em direção à «liberdade». Deixaram o azul-prata que crescia no horizonte, empurrado pelas nuvens inquietas do desatino. Talvez, os pássaros, agoram vivam em santuários de desejos infatigáveis de palavras ditas de outra maneira.
ResponderEliminarLento vai ser o seu regresso..pois a memória não se inventa...
Abraço
Paulo
nas tuas mãos a sede parece ser serena...
ResponderEliminarpássaro cujo ninho tece a renda dos dias. possíveis.
um beijo.
Estão à espera das tuas palavras...
ResponderEliminarNada a fazer, Graça.
ResponderEliminarNão são apenas os pássaros que voam. Para onde voei eu, que aqui estou, sem estar?
Para onde voamos (voámos) nós, guiados pela sede de não sermos a plenitude de que duvidamos sempre?
Que é feito das nossas penas? De todas elas?
NãO há palavras para descrever um dOm assim...
ResponderEliminarLindO demais..
Obrigada pOr partilhar...
sOl*
Vim deixar-te um beijo,agradecer as palavras certas na hora certa, ler os poemas que fazes com amor e inspiração e dar-te um abraço apertado!
ResponderEliminarMaria, obrigada pelas palavras. Talvez tenhas razão quanto à última parte do poema. Tenho alguma tendência para exagerar...
ResponderEliminarGostei dos destaques Helena.
São e Zita, é bom quando nos visitam e nos dizem coisas assim.
Obrigada Paulo por estas palavras: Os "pássaros" voaram em direção à «liberdade»...
Lento vai ser o seu regresso..pois a memória não se inventa...
Isabel, parece só... A sede nunca é serena, mesmo quando a usamos para fazer o poema.
Luis, gosto do que disseste.
Tens razão João Carlos. "Para onde voamos (voámos) nós, guiados pela sede de não sermos a plenitude de que duvidamos sempre?
As nossas penas? Tentamos redimir-nos do que não somos através da poesia: um lugar de liberdade.
sOl, que visita tão agradável. Volta sempre.
Sophiamar, também te agradeço e digo que gosto muito de visitar o teu espaço, mesmo quando não comento.
Obrigada a todos e um beijo.
Pergunto-me se este poema se sucede cronologica (e logicamente)ao anterior. Alimento a minha curiosidade, não tem de resoponder :)
ResponderEliminarSoledade, este poema tem pelo menos mais dez anos que o anterior. O que quer dizer que as ideias se repetem ou complementam. O facto de se juntarem aqui foi uma coincidência que terá mais a ver com o meu estado de espírito de agora...
ResponderEliminarUm beijo e obrigada.
persitentes os "poetas românticos". e a insaciável sede dos pássaros em vôo picado. sobre a mesa das palavras.
ResponderEliminarbelo, pois claro.