Trazíamos ainda nos ouvidos o canto
acre e fausto das cigarras. Vinham com ele,
amarrados, os bois, as noras, os carvalhos,
e a voz rouca do cuco e da poupa, o aroma
poroso dos rododendros. Porque é deles
que falas onde quer que te dispas, e des-
nudes, desprevenido e inteiro. Da moldura
partida e do retrato caído no degrau mais
fundo das escadas. Sim, por mais que
digas, falas sempre das abelhas, do mel
adolescente escorrendo dos favos loucos
da alegria. Da alegria perdida, reencontrada,
perdida entre os escombros e as abjecções
do real, mais falso e verdadeiro que todas
as verdades aprendidas, que todos os
dogmas e doutrinas acumuladas nos
compêndios por onde te ensinaram a
vida.
Albano Martins,
Rodomel rododendro, 1989
In: Assim são as algas. Porto : Campo das Letras, 2000
acre e fausto das cigarras. Vinham com ele,
amarrados, os bois, as noras, os carvalhos,
e a voz rouca do cuco e da poupa, o aroma
poroso dos rododendros. Porque é deles
que falas onde quer que te dispas, e des-
nudes, desprevenido e inteiro. Da moldura
partida e do retrato caído no degrau mais
fundo das escadas. Sim, por mais que
digas, falas sempre das abelhas, do mel
adolescente escorrendo dos favos loucos
da alegria. Da alegria perdida, reencontrada,
perdida entre os escombros e as abjecções
do real, mais falso e verdadeiro que todas
as verdades aprendidas, que todos os
dogmas e doutrinas acumuladas nos
compêndios por onde te ensinaram a
vida.
Albano Martins,
Rodomel rododendro, 1989
In: Assim são as algas. Porto : Campo das Letras, 2000
Excelente este exerto que nos trazes do livro Assim são as Algas - "Rodomel rododentro", do Albano.
ResponderEliminarObrigada pela partilha
Excelente poema. A natureza, vida, viva, bela, apelativa.
ResponderEliminarAbracinho
*
,
*
Estimada e Linda Amiga:
ResponderEliminarVerseja com beleza, com encanto, deslumbre, a vida e o quotidiano das pessoas.
A mensagem do seu poema, sinto que comporta vivências menos agradáveis que o seu lindo ser sente e explica com delicia.
Uma alegria perdida. Uma alegria encontrada. A realidade do sentir e estar. Falso e ao mesmo tempo verdadeiro.
Penso que tudo é profundamente sentido. Existiu.
Compõe versos com o coração enorme.
Gigantesco!
Adorei!
Beijinhos amigos de estima grandiosa
Com todo o respeito
pena
o «mel adolescente». perdido.reencontrado.
ResponderEliminarhá muito que não lia Albano Martins. obrigada.
boa semana.
é sempre um prazer não É?????
ResponderEliminarbeijo.Te.
Poeta.
aqui está um poema de alguém a quem eu gostava de poder chamar "tio" :) beijinho, graça *
ResponderEliminarÉ vivo e bonito...
ResponderEliminarabraço
muda-se de pele. mas permanece o "canto acre das cigarras"! sempre...
ResponderEliminarenorme. o poeta.
Excelente
ResponderEliminarUm belo poema!
ResponderEliminarAs coisas dos campos também me fascinam.
O meu livro de poesia Terrachã
é todo sobre essas coisas simples, mas eternas.
Cumprimentos
Aí está um belo local para ir ao pé-coxinho ou, sei lá, jogar a apanhada!...
ResponderEliminarabraço amigo.
"...por mais que digas, falas sempre das abelhas, do mel adolescente escorrendo dos favos loucos da alegria..."
ResponderEliminarBelíssimo!
Olá Graça, boa noite!
ResponderEliminarÉ com muito prazer que vejo por cá um Poema de Albano Martins, que tenho o prazer e a honra de conhecer pessoalmente e que considero um dos Grandes Poetas actuais.
Parabéns Amiga, por lembrares aqui este Grande Homem das Letras.
Beijos
Maria Mamede
Imagens magníficas deixadas pelas palavras da sensibilidade. Adorei. Beijos.
ResponderEliminarDo gosto pela palavra, pela imagem e pela necessidade imperiosa de questionar a sua formulação. Tão belo!
ResponderEliminarTexto belíssimo e que me faz pensar no seguinte: daqui a uns anos (20, 30...) de que memórias falarão os poetas?
ResponderEliminarDe que cigarras? De que aromas? De que abelhas? De que mel? Alguém, então, saberá a cor dos olhos das galinhas? Quem saberá o cheiro do mosto e o gosto do mel sem aditivos?
Ainda virão, na primavera, as andorinhas?
Ó Graça, responde-me!
Um abraço
Obrigada por me dares aconhecer esta escrita tão agradável!
ResponderEliminarFeliz semana, amiga.
excelente partilha de um poeta que há muito leio
ResponderEliminardirei alegria reencontrada
lembre-me:
Como um eco
Não tinhas nome. Existias como um eco do silêncio. Eras talvez uma pergunta do vento.
Albano Martins
a ternura do meu abraço para ti Graça Pires
beijinhos
lena
Eu conheço pouco Albano Martins e gostei de ler este poema que afunda as raízes na substância da vida, na sua afirmação. E destacaria, como teresa p., os versos
ResponderEliminar«por mais que /digas, falas sempre das abelhas, do mel /adolescente escorrendo dos favos loucos /da alegria.» - para dizer da poesia da própria Graça.
Um beijo, boa semana
Minhas amigas e meus amigos, desculpem lá esta minha ausência (se por ela deram). Ainda bem que gostaram do texto do Albano Marins. O livro "Assim são as Algas" contém toda a poesia do autor de 1950 a 2000. É um excelente livro, que se lê com todo o prazer. Agradeço-vos os comentários. Um beijo.
ResponderEliminar