25.9.08

À míngua de um abraço

Henri Cartier-Bresson

Como por aqui se afirma os rouxinóis saltitam
de árvore em árvore com medo da morte
dissimulada nos ramos das figueiras mais estéreis.
Persigno-me ajoelhada no restolho entretecido
pela meia-luz do poente.
A fonte que me atravessa a boca
confina, agora, com a mágoa das mulheres
que, à míngua de um abraço, envelheceram.


Graça Pires
De Quando as estevas entaram no poema, 2005

36 comentários:

  1. Os simulacros da morte, o ocaso, nós diante da vida e do tempo. Resta-nos somente a genuflexão ante este canto de rouxinol que é a sua poesia, Graça.

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  2. A identificação da figueira com uma espécie de maldição é signo presente na tradição. Os rouxinóis, esses, como sabem cantar, cantam, exorcizando a morte. Uma mulher reza ajoelhada nos restolhos. Os próprios restolhos, que são o que fica, após a colheita, significam aqui a solidão, o desamparo, o que restou...O sol, no poente, está a condizer. É um poema triste e direi de pinceçladas trágicas.Trágicas as mulheres confrontadas com a sua condição de verem o tempo ter passado sobre a idade fértil. A paisagem podia ser no Alentejo. Ou na Grécia do Zorba.Belo. Muito belo. Um beijo

    EA

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  3. Tu és escritora...e das boas...


    Doce beijo

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  4. é sempre com grande prazer que te leio.

    acho que aprendo sempre algo contigo.

    fica um beijo

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  5. Dizes tanto em tão poucas (e lindas) palavras, Graça.
    Absolutamente belo e comovente!
    Associei este teu poema a certas pinturas da Graça Morais, de quem também gosto muito.
    Beijos, amiga-

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  6. solidão, solitário, só.

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  7. Tens magia nas palavras. Isso é ser poeta. Gosto de te ler.

    Beijinhos

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  8. O inexorável "voo" do tempo que, não alterando as contigências do quotidiano, sublinha a evolução das mesmas.

    Escreves muito boa poesia.
    Bj

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  9. Num lado os rouxinóis, no outro o
    medo da morte e a esterilidade das
    ávores... entre os dois pontos
    as mulheres que envelhecem, ou seja, que passam do canto (como o rouxinol)para a mais absoluta esterilidade (a morte). Excelente poema! Muito bem conseguido, como é hábito!
    Um beijo, Graça.

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  10. Bom dia Graça....por um abraço dava um salto....


    ________________. por este abraço salto os dias.


    ressalvo.Os.


    sempre a admirar a sua ESCRITA!

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  11. é verdade...

    envelhece-se assim, com e sem poesia...

    abraço Graça

    (luis eme)

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  12. Como um rouxinol saltitão desejo um óptimo fim de semana vendo as árvores se despirem.

    Um abraço.

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  13. "À míngua de um abraço".
    Os rouxinóis e a luz do poente, sabem do longo tempo da espera, da mágoa e da solidão...
    Poema muito belo!

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  14. Não é um poema macio, tudo nele se inclina ao fim e à amargura do que se deixou por fazer e em balanço final se revela demasiado central na vida para ter sido adiado.
    A fotografia ilustra o poema com mão de mestre, o rosto das mulheres desfigurado pela maquilhagem e por uma espécie de avidez, o enquadramento, o preto e branco de Cartier-Bresson... Uma entrada excelente, Graça. E também gostei muito de ler alguns dos comentários aqui publicados.
    UM beijo e um bom fim-de-semana

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  15. É um prazer ter acesso às suas belas palavras, dona Graça, e um orgulho saber que lê as minhas.

    Obrigada pelo apoio, e pelos agradáveis dois dedos de conversa que tivemos oportunidade de trocar (experiência que espero repetir).

    Beijinhos, e parabéns pelo dom da escrita.

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  16. envelhecem as mulheres
    à mingua no restolho que ficou.

    cinzas/ tempo


    toda a velhice futura

    um beijo.

    maré

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  17. Graça,obrigada pelas tuas palavras. É verdade que o José é uma grande pessoa e um grande poeta. Eu agora estou mais perto de Portugal e da sua poesia do que antes. Vou ler o teu blog, acho vou encontrar um lugar muito habitável...
    um beijo

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  18. Graça...tão bom re.encontrá-la....



    mas tão bom mesmo!!!!!




    ________________dois beijos. o outro é para uma Pessoa que tb gostei muito de conhecer.


    Obrigada Graça.

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  19. As imaxes do mestre, tenhen a capacidade de conmoverme e as túas palabras complementan...

    Unha aperta.
    :)

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  20. Querida Graça,
    é lindo até às làgrimas.
    Beijos carinhosos,
    merci,
    LM, Paris

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  21. Um estado de alma pesado numa poesia leve....com a pureza que a fortalece.

    BFS
    abraço

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  22. há dias Querida G. em que as suas palavras me "afundam" na generosa e doce compreensão dos afectos que se estabelecem para lá da "estrada".


    abraço muito muito especial.

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  23. Vim deixar-te um beijinho e um abraço.

    Bem hajas, amiga!

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  24. Grande poema onde ressalta a evidência do nosso entardecer...
    Um beijo grande.

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  25. Como sempre, um poema muito tocante.
    Boa semana, linda.

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  26. Não foram só mulheres que envelheceram assim, foram também muitos homens que, pela estúpida educação que nos deram, têm vergonha de o confessar.

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  27. Deixo um abraço, para que não envelheça.
    E porque as suas palavras são demasiado valiosas e marcam quem as lê. Sentidas.

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  28. São mimos

    os sonhos

    dos jovens experientes

    Belo

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  29. Eis aqui um baú de jade repleto de ouro poético. Belíssimo blog. Arte de primeira. Estou te linkando ao meu.
    Beijo, Graça !!

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  30. ..."a mágoa das mulheres... à mingua de um abraço". doem-(me) as "Mulheres de Atenas". assim tão sofridas.

    ... e no entanto tão "esperançosas"! por isso rezam.

    muito belo

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  31. é. as mínguas dos abraços envelhecem_nos. e de que maneira.

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  32. Graça, tu entendes tão bem a alma feminina e a consagra divinamente em metáforas. Sempre perplexa com a tua poesia, sempre.
    Sou muito feliz que tu existas para dar-me o prazer de te ler.
    beijo grande

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  33. imagens de medo, solidão e proximidade de morte, neste teu belo poema.

    um beijo, Graça.

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  34. Lindíssimas as tuas palavras! Um abraço que nos faz tanta falta!! Beijos.

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  35. Ninguem devia nunca de envelhecer...com falta de abraços.

    Gostei muito Graça****

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