Henri Cartier-Bresson
Como por aqui se afirma os rouxinóis saltitam
de árvore em árvore com medo da morte
dissimulada nos ramos das figueiras mais estéreis.
Persigno-me ajoelhada no restolho entretecido
pela meia-luz do poente.
A fonte que me atravessa a boca
confina, agora, com a mágoa das mulheres
que, à míngua de um abraço, envelheceram.
Graça Pires
de árvore em árvore com medo da morte
dissimulada nos ramos das figueiras mais estéreis.
Persigno-me ajoelhada no restolho entretecido
pela meia-luz do poente.
A fonte que me atravessa a boca
confina, agora, com a mágoa das mulheres
que, à míngua de um abraço, envelheceram.
Graça Pires
De Quando as estevas entaram no poema, 2005
Os simulacros da morte, o ocaso, nós diante da vida e do tempo. Resta-nos somente a genuflexão ante este canto de rouxinol que é a sua poesia, Graça.
ResponderEliminarA identificação da figueira com uma espécie de maldição é signo presente na tradição. Os rouxinóis, esses, como sabem cantar, cantam, exorcizando a morte. Uma mulher reza ajoelhada nos restolhos. Os próprios restolhos, que são o que fica, após a colheita, significam aqui a solidão, o desamparo, o que restou...O sol, no poente, está a condizer. É um poema triste e direi de pinceçladas trágicas.Trágicas as mulheres confrontadas com a sua condição de verem o tempo ter passado sobre a idade fértil. A paisagem podia ser no Alentejo. Ou na Grécia do Zorba.Belo. Muito belo. Um beijo
ResponderEliminarEA
o tempo da solidão
ResponderEliminarTu és escritora...e das boas...
ResponderEliminarDoce beijo
é sempre com grande prazer que te leio.
ResponderEliminaracho que aprendo sempre algo contigo.
fica um beijo
Dizes tanto em tão poucas (e lindas) palavras, Graça.
ResponderEliminarAbsolutamente belo e comovente!
Associei este teu poema a certas pinturas da Graça Morais, de quem também gosto muito.
Beijos, amiga-
solidão, solitário, só.
ResponderEliminarTens magia nas palavras. Isso é ser poeta. Gosto de te ler.
ResponderEliminarBeijinhos
O inexorável "voo" do tempo que, não alterando as contigências do quotidiano, sublinha a evolução das mesmas.
ResponderEliminarEscreves muito boa poesia.
Bj
Num lado os rouxinóis, no outro o
ResponderEliminarmedo da morte e a esterilidade das
ávores... entre os dois pontos
as mulheres que envelhecem, ou seja, que passam do canto (como o rouxinol)para a mais absoluta esterilidade (a morte). Excelente poema! Muito bem conseguido, como é hábito!
Um beijo, Graça.
Bom dia Graça....por um abraço dava um salto....
ResponderEliminar________________. por este abraço salto os dias.
ressalvo.Os.
sempre a admirar a sua ESCRITA!
é verdade...
ResponderEliminarenvelhece-se assim, com e sem poesia...
abraço Graça
(luis eme)
Como um rouxinol saltitão desejo um óptimo fim de semana vendo as árvores se despirem.
ResponderEliminarUm abraço.
"À míngua de um abraço".
ResponderEliminarOs rouxinóis e a luz do poente, sabem do longo tempo da espera, da mágoa e da solidão...
Poema muito belo!
Não é um poema macio, tudo nele se inclina ao fim e à amargura do que se deixou por fazer e em balanço final se revela demasiado central na vida para ter sido adiado.
ResponderEliminarA fotografia ilustra o poema com mão de mestre, o rosto das mulheres desfigurado pela maquilhagem e por uma espécie de avidez, o enquadramento, o preto e branco de Cartier-Bresson... Uma entrada excelente, Graça. E também gostei muito de ler alguns dos comentários aqui publicados.
UM beijo e um bom fim-de-semana
É um prazer ter acesso às suas belas palavras, dona Graça, e um orgulho saber que lê as minhas.
ResponderEliminarObrigada pelo apoio, e pelos agradáveis dois dedos de conversa que tivemos oportunidade de trocar (experiência que espero repetir).
Beijinhos, e parabéns pelo dom da escrita.
envelhecem as mulheres
ResponderEliminarà mingua no restolho que ficou.
cinzas/ tempo
toda a velhice futura
um beijo.
maré
Graça,obrigada pelas tuas palavras. É verdade que o José é uma grande pessoa e um grande poeta. Eu agora estou mais perto de Portugal e da sua poesia do que antes. Vou ler o teu blog, acho vou encontrar um lugar muito habitável...
ResponderEliminarum beijo
Graça...tão bom re.encontrá-la....
ResponderEliminarmas tão bom mesmo!!!!!
________________dois beijos. o outro é para uma Pessoa que tb gostei muito de conhecer.
Obrigada Graça.
As imaxes do mestre, tenhen a capacidade de conmoverme e as túas palabras complementan...
ResponderEliminarUnha aperta.
:)
Querida Graça,
ResponderEliminaré lindo até às làgrimas.
Beijos carinhosos,
merci,
LM, Paris
Um estado de alma pesado numa poesia leve....com a pureza que a fortalece.
ResponderEliminarBFS
abraço
há dias Querida G. em que as suas palavras me "afundam" na generosa e doce compreensão dos afectos que se estabelecem para lá da "estrada".
ResponderEliminarabraço muito muito especial.
Vim deixar-te um beijinho e um abraço.
ResponderEliminarBem hajas, amiga!
Grande poema onde ressalta a evidência do nosso entardecer...
ResponderEliminarUm beijo grande.
Como sempre, um poema muito tocante.
ResponderEliminarBoa semana, linda.
Não foram só mulheres que envelheceram assim, foram também muitos homens que, pela estúpida educação que nos deram, têm vergonha de o confessar.
ResponderEliminarDeixo um abraço, para que não envelheça.
ResponderEliminarE porque as suas palavras são demasiado valiosas e marcam quem as lê. Sentidas.
São mimos
ResponderEliminaros sonhos
dos jovens experientes
Belo
Eis aqui um baú de jade repleto de ouro poético. Belíssimo blog. Arte de primeira. Estou te linkando ao meu.
ResponderEliminarBeijo, Graça !!
..."a mágoa das mulheres... à mingua de um abraço". doem-(me) as "Mulheres de Atenas". assim tão sofridas.
ResponderEliminar... e no entanto tão "esperançosas"! por isso rezam.
muito belo
é. as mínguas dos abraços envelhecem_nos. e de que maneira.
ResponderEliminarGraça, tu entendes tão bem a alma feminina e a consagra divinamente em metáforas. Sempre perplexa com a tua poesia, sempre.
ResponderEliminarSou muito feliz que tu existas para dar-me o prazer de te ler.
beijo grande
imagens de medo, solidão e proximidade de morte, neste teu belo poema.
ResponderEliminarum beijo, Graça.
Lindíssimas as tuas palavras! Um abraço que nos faz tanta falta!! Beijos.
ResponderEliminarNinguem devia nunca de envelhecer...com falta de abraços.
ResponderEliminarGostei muito Graça****