20.10.08

Em seara alheia


tinha a sopa a arrefecer e a mãe chamava.
tremiam-me as pernas no complicado anseio
de saber se ela estava. já não me lembrava do nome.
rosalina seria. era quase um instante quando o lençol
era aconchegado no pescoço. eu não sabia.
poderia ser maria ou carmo ou antónia.
mas não. acho que era rosalina e de mãos atadas
no silêncio da mesa, eu achava que era morna
a lembrança. sabia que o momento não era próprio.
e eu ainda com as meias até ao joelho
e uma fita nos cabelos. descia a mão
até ao princípio do dia.
e a luz chegava para cegar de medo o meu sono.
e os dedos aconchegavam as pernas.
e as mãos no destino húmido do desejo.

Maria Quintans
aqui
In: Apoplexia da ideia, il. João Concha. Lisboa: Papiro, 2008

34 comentários:

  1. Um belo poema da Maria Quintans. Gostei. Beijos.

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  2. o meu abraço!




    enrolado de uma cumplicidade. doce.



    !!!!

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  3. Sutilezas tais como "cegar de medo o meu sono", "descia a mão até o princípio do dia", "destino húmido do desejo", todas atadas com a delicadeza de uma fita nos cabelos, beleza posta sobre o "silêncio da mesa".

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  4. Td lindo por aqui...como smepre!
    Abraços diretamente do meu Cotidiano.

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  5. Um poema disfarçado. Um belo texto subjectivo que tem de ser lido com atenção.

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  6. Como ela sabe das palavras com que se alimenta.

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  7. Gostei do que li. Um abraço do meu eu e dos meus outros eus

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  8. Desconhecia esta autora: agradeço-te a apresentação.
    Fica bem, linda.

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  9. Mais um fruto de boas searas!

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  10. Deixo-te um beijinho e desejo-te uma boa semana.

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  11. Belo texto.
    Bj

    (Não deixarei de visitar a Maria Quintans.)

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  12. e eu o agradecimento por me dares a conhecer quem tão "diz" a palavra.

    "e a luz chegava para cegar de medo o meu sono"


    Vou procurar, apesar de ser tão precário, por estas bandas, encontrar o que procuramos...

    beijo

    maré

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  13. "descia a mão
    até ao princípio do dia."


    quantas mas quantas vezes isso me acontece. muito bem ilustrado à custa de matisse que adoro.nessas colagens quase serve de pano de fundo à toalha da mesa

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  14. Duas palavras para este poema: quotidiano e autenticidade. Um quotidiano de sentires, de afectos
    (até de discretos desejos, como no final), de hesitações... Autenticidade, porque o eu-poético
    se expõe, se rasga ante nós crua
    e inexorávelmente.
    Um poema sem retórica de circunstância e sem abcessos estilísticos...Gostei!
    Um beijo para a Maria Quintans
    e outro para ti, Graça.

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  15. Linda Amiga:
    Um poema fabuloso a que deu viva voz.
    Diferente. Num estilo peculiar.
    Brilhante. De uma magia poética linda.
    Adorei!
    Bj amigos de imenso, respeito, estima e admiração.
    OBRIGADO pela sua terna amizade.
    O renascer da significação adolescente do amor.

    p.pan

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  16. Obrigada pela partilha...adorei!
    Jinhos

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  17. Muito poético, Graça, adorei!
    Como sempre tens mãos de fada-poeta para nos presentear com pérolas como essa.

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  18. Um texto cheio de metáforas. Cada um que o interprete 'como souber'.
    Fica bem.
    Felicidades.
    Manuel

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  19. Não a conheço. Mas gostei deste poema.

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  20. Gosto do que a Maria diz e também do que não diz mas que se percebe. Gosto de quem assim escreve e se revela até nos silêncios. Gosto da Maria, também pelo que escreve.

    Um beijo cúmplice e um enorme obrigado por merecer a sua ilustre visita.

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  21. Subtilmente...sensual...

    Doce beijo

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  22. "Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras."

    Agradecia que passasse pelo MM para recolher o Prémio que foi atribuído a este Blogue.

    Um abraço ;)

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  23. Poema com um halo de mistério e sensualidade...
    Gostei muito.
    Beijo.

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  24. Até ao fim convenci-me que o poema era teu. Tu escreves mais ou menos assim e, por isso, poderias ser tu a autora deste excelente texto.
    Beijinhos.

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  25. Graça

    Qd quiser, vá ao meu blogue, tem lá uma prendinha.
    BJ.
    EA

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  26. A infância, a seu modo, também é um lugar estranho, e a inocência tem muitos rostos.

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  27. Um belo poema onde cada palavra é subtilmente bem utilizada na interpretação que a autora pretende significar.
    Um beijo.

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  28. E eu gostava muito de a conhecer, porque deve ser, com toda a certeza, uma das tais pessoas especiais. Obrigada, Graça.

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  29. que lindo, lindo, lindo, graça...


    que honesta
    que verdade

    esta partilha

    também....


    ..



    obrigada por tudo o que (me) é todo este tanto de ti.

    e tudo o resto, há já tantos anos.



    ..


    :,o)


    x

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  30. ...mais um belo poema que fiquei a conhecer...e a gostar :)

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