18.1.11

Em seara alheia


Partida


Quando parti ninguém apareceu à beira da pista.
Quando parti as viagens eram coisa simples e banal,
e não este desejo de procurar um sentido para
a mágoa, uma clareira para a ausência, uma fonte
- minúscula que fosse – para saciar aquilo que
se mantém ininterrupta sede. Quando parti estavam

todos atarefados a viajar, mas de outro modo –
voracidade de prestamistas, esbugalhados olhos
onde o tempo é tão transacionável, quanto um futuro
hipotecado ou uma mera jante enferrujada. Quando
parti tiveram logo o cuidado de me avisar que a poesia
nunca salvara ninguém, que a procura das raízes

(bem como o entendimento de um passado não
acontecido) era coisa tão ridícula quanto obsoleta
para o riso alvar de muitos. Quando parti a buganvília
da moradia em frente estava esplendorosa e havia
um gato a furar a rede. Quando parti uma mulher
no prédio ao lado sacudia um pequeno tapete.

Acenou-me. Sorri. Quando parti imaginei
o escárnio deles, os telefonemas duns para os outros,
as conversas. Quando parti ninguém apareceu
para se despedir, havia apenas: eu, um objectivo
incerto, o teu rosto a reflectir-se ao longe
e o sol a dar de chapa nas vidraças.

Victor Oliveira Mateus
In: Regresso. Fafe: Labirinto, 2010

31 comentários:

  1. Por vezes não tenho palavras quando leio algo de tão belo! Obrigada pela partilha, Graça.
    Parabéns, Victor!
    Beijos.

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  2. uma boa escolha de um senhor Poeta!

    um beij

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  3. vamos a isso

    poemar

    tenho o teu feitiço

    poemas vamos dar.


    beijos amiga!!

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  4. bonita partida, a do Vitor...

    beijo Graça

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  5. Há partidas que nos pregam a partida...
    Beijos, querida amiga Graça.

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  6. Objectivos incertos, é o que todos temos, até que um dia nos decidimos a partir rumo ao nosso objectivo.
    Uma partida original esta que aqui nos deixa.
    Abraço.

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  7. Minha querida

    Simplesmente lindo...fiquei sem palavras para comentar...apenas senti...é dificil comentar a alma.

    Beijinhos com carinho
    Sonhadora

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  8. Gostei desta partida solitária, onde não faltava o importante, o "eu", o "objectivo" e o ambiente tranquilo que uma patida solitária exige.

    Obrigada pela partilha.

    bjs

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  9. entrepartida fico

    quando o poeta fala de um outro e tanto viajar!

    obrigada à Graça, pela escolha

    e aos dois

    um abraço

    manuela

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  10. A alma encontra outras verdades, outros voos...
    Reencontra-se e no regresso, trazemos a nossa essência....
    Lindo....
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  11. Obrigado por seucarinho num momento especialmente difícil. Beijo!

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  12. Parabéns a ti e ao poeta que hoje generosamente divulgas.

    Bem hajas!

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  13. não importa o que se adivinha na ausência dos rostos
    interessa o vento na raiz da interrogação.
    importa o entendimento do que ferve sob o branco
    o terrível jogo na atracção dos espelhos.


    __
    um beijo, querida Graça e

    OBRIGADA,
    por este e todos os que me fizeste chegar tão imediatamente ao coração. como tudo o que me chega de ti, sempre.um abraço mais vivo a sustentar a emoção da saudade.

    ao Víctor, estendo um abraço, grata
    por nos proporcionar o prazer da excelência da palavra

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  14. Querida Graça, quando este livro saiu, logo 3/4 bloggers se levantaram com indirectas... eu entendi-as, apesar de indirectas! Uma delas rondava a baixaria, era algo do estilo: tenho pena de não ser intelectual e de não ver cinema europeu (ver os meus posts s/ cinema!)sobretudo francês e russo... blá-blá... e depois referia ter visto um filme russo chamado regresso... Prefiro n continuar! O q esses bloggers n sabiam é que, ao mesmo tempo, eu recebia telefonemas e mails de grandes poetas cujo teor era bastante diferente. E não só mails deste país! E não só escritos em português! Essa hostilidade, imerecida e injustificada, não foi só superada por esses mails, mas pela simpatia com que tu, a Inês Lourenço, o Carlos Vaz e o Pompeu Miguel Martins, etc. divulgaram o meu livro. Agora, ao ler estes comentários: da Paula, da Pi, da São, do Luís Eme, da Luísa, do Nilson, etc., verifico que os mails faziam mais sentido do que o palavreado gratuito... Grato a todos vocês pelas palavras e a ti também, pelo gesto...
    1 bj de amizade,
    V.

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  15. Olá, boa tarde!

    A prova de que há muitos e bons poetas,

    neste país!

    Beijinho

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  16. teresa p.7:13 da tarde

    Sempre a solidão a marcar cada partida, a marcar cada vida...
    Gostei muito do poema do Victor. Parabéns!
    Beijo

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  17. Graça,

    Foi para mim extraordinário partilhar aqui este belo texto do Vitor Oliveira Mateus, que não conhecia. Vou tentar adquirir o livro.
    Obrigado!

    Abraço,
    AL

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  18. fabuloso poema!
    grato por me revelares um Poeta maior.

    beijos

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  19. a paisagem que fica sem nós ao partir tem alma própria, estas palavras a descrevem bem...

    um beijo

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  20. Muito belo este poema, muito belo este livro...um lugar onde (re)nascer...
    Um beijo, querida amiga

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  21. Obrigada Graça, por este maravilhoso poema de Victor Oliveira Mateus. Uma partida em que as palavras prometem chegada...
    Bjito amigo

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  22. um texto lindo e profundo
    Boa semana querida amiga

    Beijinho de lua*.*

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  23. Cada partida tem o seu particular, um mais sábio que o outro.

    JC

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  24. gostei muito de ler este poema, porque ainda não tive oportunidade de adquirir o livro :) um beijinho, graça.

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  25. Querida amiga, como já comentei, desejo-te "apenas" boa semana.
    Beijos.

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  26. Um poeta, tem o dom de acalentar corações...
    Parabéns, sabes fazer isso muito bem
    Amei seu blog!
    Beijos iluminado
    Preciosa Maria

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  27. Hoje estive a ler a tua poesia que gostei bastante e escolhi uma que publiquei no meu blogue de Noite de Tormentas.
    "Por caminhos de sul..."

    Traduzi o poema para español porque eu escrevo os blogues em espanhol.
    Agora encontrei o teu blogue e aproveito para deixar aqui a informação e já agora um convite para visitares os meus blogues.
    http://romantiquices.blogspot.com

    Obrigada e parabéns
    Beijinhos

    Flor

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  28. Minha querida Graça, boa tarde.
    Obrigada por partilhares comigo/connosco, este teu amigo e grande escritor que é Victor Oliveira Mateus. Fico deslumbrada com o modo como ele (e tu) usam as palavras e com elas conseguem fazer estremecer o meu/nosso coração.
    Bjs. e parabéns aos dois.
    Maria Mamede

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  29. Quando partimos levamos o "nada que é tudo"

    Gosto do poema. Parabéns ao autor e à Graça pela partilha!

    Um beijo

    José

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  30. É um grande poema do Victor cuja obra só recentemente conheci. Obrigada, Graça.

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