Amedeo Modogiliani
Há
quem prefira desenhar flores,
ou
jogar às damas,
ou
tomar chá de laranja doce.
Eu
gasto o meu tempo entre aqueles
para
quem os dias são apenas
uma
irremediável espera.
Não
ignoro o impulso das lágrimas
no
choro dos meninos cercados de orfandade.
Conheço
o desespero agitado do suicida.
Sei
de cor o trejeito de mágoa que o pesar,
sem
aviso, deixa em lábios
sufocados de desânimo.
É
difícil, sim, este ofício de partilhar
os
sobressaltos da vida.
Ou
da morte. Ou da solidão.
Mas
reparto, em dádiva,
uma
alegria quase clandestina.
Graça Pires
De Fui quase todas as mulheres de Modigliani, 2017, p. 23