Escrevemos
mar
como se fosse a palavra
única
que nos circunda a fala.
Quando
éramos crianças tínhamos os barcos de papel.
E
havia traineiras em que os pescadores manchados
de
sal e sangue enfrentavam a tormenta de cada dia.
Agora, de quilha inquieta, os navios ferem
as entranhas da água e cingem-nos no olhar
o negro das marés e dos limos
que morrem na praia, onda após onda,
num extenuado
adeus ao apelo dos corais.
Graça Pires
De Uma vara de medir o sol, 2019, p. 45