Claude Simon
O meu retrato de criança vai-se cobrindo de pó.
Nada me pertence, salvo a memória
Nada me pertence, salvo a memória
de trilhos luminosos nas encostas da noite.
A lua entra-me, inteira, na garganta,
rompe-me o peito de lés a lés e sublinha,
a cores, uma errância inscrita no destino.
Quem foi que ousou apagar, de meus pés,
Quem foi que ousou apagar, de meus pés,
os traços de impossíveis aventuras
e me deixou, na pele, tamanha rebeldia ?
Enterro os dedos, em dunas de areias
assombradas que me sufocam a alma,
até à dor, porque trago, na boca,
até à dor, porque trago, na boca,
um imenso deserto traçado a sede.
Graça Pires
Graça Pires
De Reino da lua, 2002
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