9.4.18

Em uníssono


Moises Saman

Indagamos, em uníssono, o avesso dos dias
retalhados por mãos adversas,
para não nos equivocarmos
com o rosto deste mundo
em constante calafrio, em arriscada deriva.
Porque estes são tempos exasperantes
de perder as pátrias e as casas
e os pais e os irmãos e os amigos
e os nomes e a memória.
E nas imensas planícies enegrecidas
é desabrido o som dos que bradam
quando as crianças ensurdecem no silêncio.
A meia-haste, arvoramos a rugosidade
das cinzas e o rasgão do medo,
para não permanecermos alheios
à saturação dos que sangram,
dos que tombam, dos que resistem.
Graça Pires
In: CONTINUUM: Antologia poética. Pinturas de Luís Liberato, fotografias de Soledade Centeno. Braga: Poética, 2018, p. 123

59 comentários:

chica disse...

Intenso, profundo e lindo, desde a imagem à poesia! Triste realidade para tantos! bjs, ótima semana! chica

_ Gil António _ disse...

Poema magistral.
.
* Saudade de ter ... Saudade *
.
Feliz início de semana
Bom dia.

Raquel Loio disse...

Gostei muito, expressa bastante das aflições humanas. Beijinhos, boa semana!

baili disse...

Intensively Marvelous dear Grace!

I wish i could replaced these helples souls with dirty politicians who put them in such conditions

Cidália Ferreira disse...

Boa tarde!

Soberbo poema!! Amei!!


Beijo e uma excelente semana.

Ana Paula disse...

Tanto evoluímos como humanidade, tantas conquistas e mesmo assim tantas perdas: memória, casa, lar, familiares, pátria, dignidade...
Que a ternura da tua poesia se espalhe.
Lindo, lindo!

Anete disse...

Foto e poema belos e fortíssimos!!!
Abraço grande e boa semana, Graça...

Marta Vinhais disse...

O Mundo que se torna cruel...
Que poema forte....
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Bom dia Graça!
Que poema mais
sentido em termos de sentimento
e mais sentido em termos de
poesia que nos cala.
Encantada.
Bjins
CatiahoAlc./ReflexodAlma

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Um poema forte assim com a foto de suporte.
Um mundo conturbado e totalmente do avesso.
Boa semana.
Beijinhos
:)

María disse...

Un placer disfrutar de tus versos en esta tarde de Lunes.

Besos enormes.

Mar Arável disse...

Um belo hino à resistência contra a indiferença
Bj

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Um poema muito belo que manifesta as barbáries que grassam no mundo onde há tanto sangue derramado, tanta miséria, tanta criança que sucumbe.
A imagem é lindíssima e a Poeta deixa o alerta!
Um beijinho e uma boa semana.
Ailime

Ana Bailune disse...

Boa tarde!
maravilhoso poema, e a imagem diz tanta coisa, mesmo sendo tão triste.

Marco Luijken disse...

Hallo Graça,
Het is goed om even bij alle ellende in de wereld stil te staan. Toepasselijke foto ook.
Gelukkig zijn er ook genoeg mooie dingen.

Lieve groetjes,
Marco

silvioafonso disse...

É o mundo cara de cão.
Gente comendo gente, mas
em troca de quê?

Perdão, poeta. Indigna-
me a veracidade da vida.

Beijos e tristezas.

silvioafonso


.

Luis Eme disse...

Fiquei sem palavras...

abraço Graça

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Excelente e forte poema de uma situação que nos deveria de envergonhar.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Anónimo disse...

Bom dia Graça,

Que bonita manifestação , é mesmo para nos indignarmos com tanta crueldade.O ser humano parece ter perdido o senso.
Votos de um dia com muita paz!
Abraço!

LuísM Castanheira disse...

Parabéns, Graça, pelo recente lançamento da Antologia Poética "Centruum", onde está incluída a tua participação.

Este poema - que dela faz parte - é tão poderoso que só poderia ser ilustrado com a bela foto a B&W.

Um grito nos dias virados do avesso, onde o Mundo tem um futuro incerto e...perigoso. E um presente nada digno.

Um beijo, minha Amiga.
Uma boa semana.

Lucinalva disse...

Olá Graça
Belo poema, desejo um ótimo dia. Bjs

mz disse...

É o medo que nos cega aquilo que vê-mos e entretanto vamos vendo essa corrente descontrolada,vamos vendo de longe.
Uma poesia que nos transporta para a realidade da guerra dos nossos tempos e o êxodo dos povos aqui tão perto.

Graça parabéns pelo novo projecto.

Neide Bosch disse...

Ola Graça,tudo bem?
Lindo poema. Uma dura realidade da vida de muitos.
bjs

teresa dias disse...

Excelente postagem, amiga Graça.
A fotografia (contida escolha) com rostos de resistentes.
Os versos com as angústias da poeta sobre a maior crise humanitária do século.
São, na verdade, tempos exasperantes estes.
Beijo.

teresa p. disse...

"...Estes são tempos exasperantes / de perder as pátrias e as casas / e os pais e os irmãos e os amigos / e os nomes e a memória..."
Tanta crueldade entre seres humanos, agora e sempre, como dá conta a História Universal.
Um poema forte que alerta para cruel realidade e que não pode deixar ninguém indiferente.
Gostei muito do poema e da foto.
Beijo.

Ana Tapadas disse...

Admirável rasgão na indiferença!

Beijo meu

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

É amiga!... E é tempo de reflexão: por que nós, nos brutalizamos tanto? Será que a humanidade, pelo maior número de humanos, deixou de ser mais humana? Será que o Planeta, por lotado virou uma "gaiola das loucas"? Que bom que existam poetas como a poetisa Graça, para que com graça exponha as desgraças dos desgraçados, amainando dores com seu grito de denúncia... Graças a Deus! Parabéns, Graça Pires, por tão contundente manifesto em tão perfeito poema! Grande abraço e minha admiração! Laerte.

ManuelFL disse...

Um grito de alerta, e também um clarão de luz, em tempos sombrios.
Beijo.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, Graça.
Aqui neste simpático espaço leio sempre bons poemas de poetas de tua escolha, mas principalmente os poemas de tua autoria, como este belíssimo poema. Parabéns.
Continuação de ótima semana.
Beijo.
Pedro

Agostinho disse...

Um poema sem idade
de ontem de hoje, certeiro.
A realidade crua sem piedade:
tecem-se os lençóis de maldade:
terá futuro a humanidade?

Beijo amigo, para a Poeta. Parabéns.

Alfredo Rangel disse...

Tempos exasperantes... Quem não os sentem? Pátrias, casas, irmãos, amigos que se vão. O vazio da falta de comunicação que se alastra.
E tua voz, equilibrada, lança o alerta. Mudemos o mundo! Urgentemente!
Parabéns Graça...
Grande beijo.
Rangel

São disse...

Tempos negros os que correm e que, receio, irão ficar de breu...

Beijos, minha amiga.

Luísa Fernandes disse...

https://poemasdaminhalma.blogspot.pt/~
olá, Graça!
Tempos exasperantes... como eu entendo? Parece tudo viver sem lei nem grei, andar tudo avesso.... com medo de perder o que de mais precioso tem... "a família".
Verdade amiga, realidade crua sem piedade... reflitamos!
Interessantíssimo, gostei muito.
Beijinho
Luisa Fernandes

Teresa Almeida disse...

"A meia-haste, arvoramos a rugosidade
das cinzas e o rasgão do medo,
para não permanecermos alheios
à saturação dos que sangram,
dos que tombam, dos que resistem."

Lutando contra a indiferença e a crueldade. Excelente participação, amiga Graça.
Beijinho.

Tais Luso de Carvalho disse...

Não tenho esperança nesse mundo, não. Sabemos o que foi ontem, o que é hoje e pela lógica o que será o amanhã. Podemos evoluir nas ciências, em tecnologias, mas em sentimentos seremos os mesmos seres de sempre, uns bons, outros péssimos - infelizmente. Tantas coisas que poderíamos melhorar, mas o ser humano, querida amiga, tem muitas falhas, nossa composição não é de confiança, sinto pensar assim, sinto dizer, mas não consigo me enganar. Acredito em gente boa, sim, mas há o lado obscuro das coisas.
Um Belíssimo poema, também sentido, noto. Mas verdadeiro.
Um beijo,amiga.

Majo Dutra disse...

Tão belo o seu poema querida Amiga!
Uma mensagem veraz e urgente transmitida em belíssimos,
eloquentes e admiráveis versos e estrofes...
Junto a minha voz revoltada...
Foi um privilégio ler este texto, Poeta.
Beijos
~~~

manuela baptista disse...

são tempos exasperantes de perder tanto,

e muitas vezes alheados, nós, os que temos tudo, mas salvam-nos os poetas!


muito bonito, Graça!

Jaime Portela disse...

É bem verdade, não podemos "permanecer alheios à saturação dos que sangram, dos que tombam, dos que resistem".
Excelente poema, parabéns.
Continuação de boa semana, amiga Graça.
Beijo.

Graça Sampaio disse...

Muito bom! Muito certo. Muito triste...

Beijinho.

Marta Moura disse...

Maravilhoso, como sempre.

Lourdinha Vilela disse...

É gritante em seu belo poema, a dor que não podemos aplacar, os olhos que não podemos secar, o abraço que não podemos dar, a desditosa canção cujas notas submergiram pela inclemência.
Um abraço Graça.

Marli Terezinha Andrucho Boldori disse...

Boa tarde, Graça,
estou um pouco ausente devido à doença na família.
Seu poema reflete a triste realidade, na qual vivemos.
O importante é não ficarmos alheios aos irmãos menos favorecidos pela vida.
Grande abraço!

Olinda Melo disse...


Querida Graça


E o pior é a nossa desesperança. Já não confiamos no ser humano, nós que fazemos parte da mesma espécie. Vemos o presente e o dia de amanhã iguaizinhos ao passado, com a sensação incómoda de não termos aprendido nada. Enquanto isso, o egoísmo e a crueldade imperam.

Muito obrigada por este poema que grita tantas e tão dolorosas verdades.

Beijinhos

Olinda

Maria Rodrigues disse...

Um poema brilhante retratando uma tão dura realidade.
Beijinhos
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco

tulipa disse...


Graça, boa tarde!

Venho agradecer a sua visita ao meu cantinho!

Há dias que me "apetece" poesia, obrigada pela partilha.

Pegando nas suas palavras:
"Porque estes são tempos exasperantes
de perder a esperança em dias melhores"

Bom fim de semana. Beijos
Tulipa

Manuel Veiga disse...


há que sujar as mãos para que os silêncios gritem
gostei muito do poema, Graça

beijo, minha Amiga

solfirmino disse...

É tempo de resistir, amiga. Sempre foi.
Quanto ao meu livro de haicais, só recebi dois, os outros vão chegar do norte do país por sedex, vai demorar bastante ainda...
Um beijo

Suzete Brainer disse...

Um poema excelente no seu habitual com a sua arte poética, Graça.
Este uma beleza dorida, no tocar as feridas das dores do mundo...

Bravo, querida Poeta.

Um final de semana feliz junto com os seus!
Um beijo.

Mariazita disse...

Uma análise perfeita dos tempos conturbados que vivemos, em perfeita consonância com a foto, magnífica!
É, também, um grito de alarme para as atrocidades que hoje em dia se estão cometendo, sem que se vislumbre a esperança de melhores dias. Perante o que se passa, HOJE, na Síria, o que pensar? O que sentir?

Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

Emília Pinto disse...

E " em uníssono " continuamos a indagar-nos, a preocupar-nos a não entendermos este ser humano capaz de tamanhas atrocidades. E assim a nossa terra vai continuando a " ser adubada " com sangue e muitas lágrimas que não param de escorrer dos olhos amargurados de mães que nāo conseguem proteger as suas crias do barulho ensurdecedor dos canhões. Assim foi, assim é e, infelizmente, assim continuará a ser , porque a vida humana para os poderosos do mundo tem pouco valor. Muito bom e pertinente este teu poema, Graça, pois a cada instante a situação mundial se agrava, agora já com misseis substituindo as palavras agressivas. Um beijinho, amiga e desejo-te um bom fim de semana, com saúde, alegria e alguma esperança num mundo melhor.
Emilia

Ana Freire disse...

Um poema profundo e bem actual... sobre estes tempos incertos... em que o mundo parece dirigir-se com entusiasmo para uma nova Guerra Fria... na exasperante inconsciência de sempre... transversal a todos os tempos... e a todas as guerras...
A escolha da imagem, não poderia ser mais perfeita...
Mais uma publicação notável, Graça! Beijinho!
Bom domingo, e uma óptima semana!...
Ana

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, continuamos assobiar para o lado, afim de nos enganarmos sobre a realidade, vitimas que só pretendem fugir da guerra causada pela estratégia das bases militares e do negocio, vivemos num mundo dos discursos cínicos.
Gostei do poema que considero uma enorme e linda homenagem ás vitimas dos grupos económicos, Durão Barroso, George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar deviam estar em prisão perpetua depois da cimeira em 2003 nos Açores, foram os causadores do que se passa.
Bom domingo e feliz semana,
AG

AC disse...

Intenso, tocante, como se a barbárie estive estivesse mesmo a nosso lado. E, apesar da distância, está.

Abraço, Graça :)

Sinval Santos da Silveira disse...

Querida Mestra, Graça Pires !
... e só restam a dor e a esperança.
Ah, seres humanos !
Não aprendemos, nunca.
Parabéns pelo lindo e comovente texto,
Amiga.
Um ótima semana e um carinhoso abraço,
aq

Sinval Santos da Silveira disse...

Querida Mestra/Poetisa, Graça Pires !
...E não aprendemos, nunca.
Ah, seres humanos !
Até quando ?
Belo texto, real e doloroso.
Uma ótima semana e um carinhoso abraço,
aqui do Brasil.
Sinval.

Victor Barão disse...

Tristemente fantástica foto, para umas inspiradíssimas palavras muito a propósito.

Tenho aquilo a que chamo um bloco de apontamentos pessoais, titulado "pensamento do dia", não escrevo lá todos os dias, mas ainda ontem mesmo escrevi: "A vida é essencialmente cruel, o que nos "salva" é o Amor!"

Quanto ao mais e por incrível que seja ou que pareça, numa determinada sequência da minha vida e da vida imediata ou remotamente envolvente a mim, desde há muito que passei a, por assim dizer, só conseguir seguir positivamente em frente, pensando no constante e permanente sofrimento subjacente a esta nossa vida humana e terrena, tanto mais assim quanto eu esteja satisfatoriamente bem!

Excelente semana, com um beijo de grande admiração

VB

Toninho disse...

Graça este texto pleno de lucidez é mais atual.
Um mundo sem comando ou comandado por lunáticos,
A imagem é forte e seu poema um olhar pela humanidade.
Um grito no porão da dor.
Beijo amiga

Humberto Maranduva disse...

Inquietante!
Não se apague nunca, no rosto dos dias, a luz que reacende a esperança de quem consegue iluminar a senda dos homens, ainda que a conflitualidade inerente à espécie possa desvirtuar a generalidade sentida dos que acreditam.

Uma excelente semana
Um beijinho.

Odete Ferreira disse...

Gostaria de não fossem necessárias estas palavras... É um retrato perfeito destes tempos e dói...
Bjo, Graça