2.8.07

O verão

Vitali

Agosto aqueceu, sem aviso, a margem dos dias.
Por isso, não dizemos o quebranto do sol
sem silabar a ânfora de água fresca,
ou reclamar o sazonal fruto
que anuncia nos lábios uma mitigada sede.
Nenhum hálito enfuna as velas do prazer,
nem inventa o vento que as motiva.
Descoberta a praia onde o corpo se aquenta,
sobeja um mar, no litoral da voz,
para navegar o verbo e incluir, no texto,
as palavras que servem para dizer
trigo, árvore, asa, nascente,
e soletrá-las sem profanar a sombra
que se desprende das pálpebras
daqueles que, à lembrança de um abraço,
se enternecem.


Graça Pires
De Ortografia do olhar, 1996

7 comentários:

hfm disse...

Graça, do mais belo que ultimamente tenho lido. Gostava de saber se o posso destacar este fim de semana na Linha de Cabotagem? Obrigada por estas belas palavras.

Anónimo disse...

as palavras que servem também para dizer obrigada por esta beleza :)

beijinho, graça.

Teresa Durães disse...

lindo e enternecedor poema.
aqui a ler, a ficar sem palavras

(neste momento gostava de ser dos que não profanam a sombra :))

beijos

dade amorim disse...

Belo poema e bela imagem, Graça. Descobri o Ortografia do olhar pelo blog da Helena Monteiro. Valeu a pena. Grande abraço.

A.S. disse...

A intensidade e a beleza poética dos teus poemas fascinam-me!...

Nada melhor para começar este quante domingo de Agosto!

Um terno beijo...

Graça Pires disse...

Helena, obriga pelo destaque na Linha de Cabotagem. Um beijo.
Alice, as palavras servem para lhe dizer quanto aprecio a sua visita. Um beijo.
Teresa, que bom que gostaste. Um beijo.
Adelaide, obrigada pela visita e pelas palavras. Um beijo.
A.S., sem palavras para agradecer, um beijo.

Anónimo disse...

só eu é que não sou poetaaaaaaaaa !
também querooo!:)
Ò deus! Ó muso! onde tais!?