CNB
Para sempre o teu
olhar interdito. O teu rosto sombrio.
O teu corpo
clandestino de mim. Para sempre.
Com que sopro, diz,
incendiaste, em meus cabelos,
a luz, tão frágil, do
primeiro orvalho da manhã?
Que contenda feriu a
clareira de teus braços
onde morri quantas
vezes eu pude renascer?
Como silenciar o
prazer se ajustaste nele
a prematura paixão de
tuas mãos?
Talvez este alvoroço
de passos em dança,
em grito, em
desespero nos mostre
como errámos todos os
voos que rasgaram
o excessivo azul das
noites mais perfeitas.
Pelas fendas da morte
te escuto agora.
Procuro, no intenso
fulgor de teus olhos,
a nitidez da água,
antecipando as lágrimas
e só encontro a sede
de bicho selvagem que te suplicia.
É de rosas, eu sei, o
aroma que acoitas no meu nome.
Graça Pires
In: A CNB e os Poetas,
2016, p. 7
Poema feito em out. 2015 depois de
ter assistido ao bailado Pedro e Inês, coreografado por Olga Roriz, a convite da direcção da
CNB, através de João Costa.