21.4.25

Poema-memória: 25 de abril de 1974

 

                                                                         Alfredo Cunha


Mais que mil palavras, valia cada imagem
fixada pelos fotógrafos: um poema-memória
legitimado pelo povo para sempre.
Mulheres, homens e crianças queriam
ser fotografados ao lado dos soldados.
O espanto na expressão de todos
tornava-os aliados uns dos outros
na festa da liberdade
e naquela alegria recuperada.
E, no limite quase nulo de um fio de luz,
era indizível a paz de cada rosto no retrato.
Graça Pires
De Era madrugada em Lisboa: louvor a um dia com tantos dias dentro, 2024, p. 27

14.4.25

Nas páginas do tempo

 

Mikeila Borgia 


 

                                                                              Para a Virgínia do Carmo

 

Identificas o sabor dos dias

delineado em ocultos anseios.

 

Tomas para ti o jogo da clareza

quando o brilho a prumo força as palavras

a procurar a íntima realidade dos sonhos.

 

Trazes contigo o regozijo da voz

para confirmar as palavras dos poetas

nas páginas do tempo.

 

E sorris. Recolhidamente.

Com o límpido fôlego da juventude

agarrado à origem de uma paixão antiga.


Graça Pires

De O improviso de viver, 2023, p. 33


7.4.25

Rito de passagem

 

Natalie Karpushenko


Descerrei o olhar
para ver no fundo do abismo
o reino da água
com reflexos
de lágrimas e suor
de sangue e saliva
no recato da memória se doendo.
Neles me purifiquei para entrar
no labirinto das palavras.

Graça Pires
De Talvez haja amoras maduras à entrada da noite, 2025, p.