Ana Pires
Aqui, na fenda da rotina onde o outono aquece
vou desenhar a sede, lentamente.
Já não falo de nós, peregrinos
das rotas que inventámos.
Por dentro das metáforas violo,
apenas, os limites do sossego e desfaço
todos os nós do medo no fulgor livre do verbo.
É morno o gesto com que percorro
os momentos inquietantes do quotidiano.
Imagens e sons são, quase sempre,
o fundo falso onde, de forma ambígua,
me escondo para representar todos os rituais,
sagrados e profanos, do dia a dia.
Aquém de mim acendem-se todos os mares
e, na voz dos marinheiros, pergunto ao sol
se pode ser eterna a sombra de um barco.
Graça Pires
De Outono: lugar frágil, 1994
Aqui, na fenda da rotina onde o outono aquece
vou desenhar a sede, lentamente.
Já não falo de nós, peregrinos
das rotas que inventámos.
Por dentro das metáforas violo,
apenas, os limites do sossego e desfaço
todos os nós do medo no fulgor livre do verbo.
É morno o gesto com que percorro
os momentos inquietantes do quotidiano.
Imagens e sons são, quase sempre,
o fundo falso onde, de forma ambígua,
me escondo para representar todos os rituais,
sagrados e profanos, do dia a dia.
Aquém de mim acendem-se todos os mares
e, na voz dos marinheiros, pergunto ao sol
se pode ser eterna a sombra de um barco.
Graça Pires
De Outono: lugar frágil, 1994