26.5.25

Peço à agua que me purifique

 

Magdalena Russocka


Escrevo nas paredes 
um eco cósmico 
singular, mitológico, irreal. 
Uma chuva nocturna 
insinua-se-me no olhar, 
onde me dói a distância 
das mais belas aves. 
Peço à água que me purifique 
e consinta que o fulgor 
da madrugada me fecunde.


Graça Pires
De Antígona passou por aqui, 2021, p. 77

19.5.25

Banidos da inocência

 




Banidos da inocência
por corrompermos a paz
procuramos nas colinas da galileia
o monte tabor para nos transfigurarmos.
Perdoados buscaremos o sudário
com que se cobrem os corpos e os sonhos.

Graça Pires
De Talvez haja amoras maduras à entrada da noite, 2025, p.28

11.5.25

Maravilhamento

 



                                                   Um abraço carinhoso a todas as mães do Brasil e do mundo




Não importa
se os estilhaços de sombras
tentam cegar teus olhos
tão afeiçoados à luz.
Vais rumo ao sol
com o olhar
poroso ao espanto.
Serás a primeira mulher da terra
maravilhada de tanta claridade.

Graça Pires
De Talvez haja amoras maduras â entrada da noite, 2025, p. 31

3.5.25

Que amor é este

 




                                                        Para os meus filhos com amor



Escrevo filha. Escrevo filho.
Substantivos comuns.
Diferentes no género
e no perfil que os representa.
Porém iguais para o maternal desvelo
tão exigente ao longo do tempo
em cada idade em cada dia em cada hora.

 

Escrevo mãe.
E morro tantas vezes quantas vezes
é preciso nascer de novo por amor
em cada riso em cada lágrima
em cada sonho em cada gesto
nos festejos e no cansaço.

Mas que amor é este tão disponível
tão inquieto tão discreto tão possessivo
que resiste aos sobressaltos do sangue.
Um amor para sempre. Até ao fim da vida.
Para lá da vida. Que amor é este.

Graça Pires
De O improviso de viver, 2023, p. 42