Ana Pires
Morreste sem alarido.
De que morte?
me pergunto.
Descentrado no tempo,
rasgavas o silêncio
dos caminhos que te perseguiam.
A via-láctea, entretecendo
teu delírio, nunca me devolveu
a forma imprecisa do teu vulto.
Inclino o rosto
para a luz dispersa da lua
e vejo o teu nome
nas pupilas das aves nocturnas.
Deixo, então, que soltem tuas cinzas
na mancha desta página,
onde ainda ressoam os teus passos.
Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008
Morreste sem alarido.
De que morte?
me pergunto.
Descentrado no tempo,
rasgavas o silêncio
dos caminhos que te perseguiam.
A via-láctea, entretecendo
teu delírio, nunca me devolveu
a forma imprecisa do teu vulto.
Inclino o rosto
para a luz dispersa da lua
e vejo o teu nome
nas pupilas das aves nocturnas.
Deixo, então, que soltem tuas cinzas
na mancha desta página,
onde ainda ressoam os teus passos.
Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008
49 comentários:
Só sei dizer que gosto. Há poemas que não sei comentar...só os sinto.
Beijos.
a vida apaixonou da morte
e enseguida voou..
beijos meus querida poeta!!
Há poemas que se colam a nós, apelando à sensibilidade latente dos caminhos trilhados outrora. É o caso deste, em que sentires que pareciam adormecidos ficam, de repente, despertos...
Beijo :)
Graça,
as suas poesias são belíssimas. Obrigada pela partilha.
Carinhoso beijo, amiga.
Em que o tempo fica quieto, à espera....Não se sabe bem de quê...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta
G.
também me comoveu...parece que veio de encontro ao meu, embora eu saiba que não..
e sim, sei porque se comoveu com o meu "ainda doí"
deixo um beijo
Belo poema; as palavras precisas nos versos certos.
Os fantasmas da morte e a vida para além dela.
Gostei muito.
Vou continuar, decididamente, a visitar o seu espaço.
Um abraço.
Carlos Pereira
Tantas são as mortes, Graça, há as que não se sabe e nem se presume, resta decifrar o olhar dos pássaros, ou deixá-los ir.
abrs!
Minha querida
Apenas fiz silêncio para ouvir este belo lamento feito poema...Lindo e triste.
Beijinhos
Sonhadora
Graça,
Que nome retumbante, este!
:)
Um beijo.
Quantos e quantas de nós morrem sem alarido , merecendo no entanto a doce beleza da tua poesia?
Abraço.
Viva!
Profundidade e sentimento à flor da pele.
Obrigado pelo poema.
Se me permite, um beijo
Que nunca te doam as pupilas
nem os pássaros
nem os dedos
Bjs
Metáfora ou realidade, a morte torna imprecisas as pessoas e cria enigmas.
Lindo poema, Graça.
Um beijo e carinho.
Graça Pires faz parte de um núcleo de poetas consagrados que dispensam apresentação. A sua obra époética inigualável, consistente, madura e estruturada na robustez dos cursos de água, na frutificação das cores é frutada, mágica - um lugar inacabado, promessa de Primavera, onde volto sempre que o tempo inútil não corrompe as vontades.
E leio-a. Leio-a no vagar de todas as rosas, utopia das Dulcineias, companheira, musa, de um D. Quichote intemerato à substância volátil dos sonhos. Leio-a na certeza de que os meus olhos se incendeiam claridade prazerosa, embevecidos com suas palavras, com suas escolhas e nas "searas alheias" donde papoilas nos dão mote a outras viagens. Leio-a na estética psicográfica de uma sinopse onde o conteúdo da obra - a sua vastíssima obra que venho a ler há muito tempo -, me agudiza o imaginário perplexo do conteúdo. Nas entrelinhas de quanto escreve, encontro a tónica distinta do que além do espaço temporal de uma vida perdura. Na memória colectiva. Lírica de referência.
.
.
.
Graça Pires é, indubitavelmente, grande. Grande e generosa. No incentivo do que nos deixa, no espaço que aqui concede. Aqui, estimada Graça, a Boneca de Trapos, descalça os saltos_altos em sinal da maior reverência, consideração. E, em errância [e]terna, parte, não sem
lhe deixar
Saudações com elvadíssima estima e admiração.
*__bonecadetrapos__*
Essa coisa de rasgar coisas 'abstratas', por assim dizer, dar uma sensação de poder, pelo menos pra mim.
JC
...às vezes a memória é como um som triste ao longe,que vai e vem como sinos...não sei,uma tristeza tranquila...
gosto do que escreve,mas isso não é novidade nenhuma.
um beijinho
Palavras, Graça? Estão todas sintetizadas neste poema.
Vindo aqui beber de seus versos incríveis!
Beijo, bom fim de semana.
morrer baixinho
é de quem sabe o nome das aves
das nocturnas e das outras
como as marcas das cinzas
e dos passos
.
e é Dulcineia afortunada, com uma memória assim...
muito belo, Graça!
um beijo
manuela
Olá Graça
Há muito que não passava por aqui.
Nem sempre as coisas são como nós queremos mas o importante é que voltei e, como sempre, fico fascinada com a tua arte, a tua forma tão particular e tão bela de nos transmitires emoções e sentimentos.
Parabéns amiga, hoje e sempre. E obrigada por partilhares e nos proporcionares tão belos momentos poéticos.
Beijinhos
Tétis
há passas que sempre ressoarão... mesmo quando o tempo se faz dia e o bulício das horas nos ensurdece.
gostei imenso, apesar de me doer!
um beijo, graça
Quem me dera saber escrever assim!
"...Descentrado no tempo,
rasgavas o silêncio
dos caminhos que te perseguiam."
Palavras e imagens que calam dentro da alma... É mais um poema belo e de grande profundidade!
Linda, também, a foto da Ana Pires.
Beijo.
OI Graça, sua apurada escrita lírica sempre me toca... Bj com carinho.
a saudade...
abraço Graça
passos que ecoam pela vida fora...
belíssimo Poema
beijos
Quantos passos de cinza nas páginas da nossa vida e quantos vultos a desvanecer-se no tempo da mágoa.
Obrigada
Um beijo
Gostei de ler e de ouvir os passos na poesia escrita.
Um abraço e bom fim de semana.
Resta concordar com o poema e dizer
Que os nomes
e os rostos amantes
e amados
Conhecidos e desconhecidos
Sonhados
Às vezes não lembrados
Estão no colo das estrelas
E passeiam-se pelos caminhos silenciosos das noites
E falam nos lábios imperceptíveis da brisa
E acenam nos dedos frágeis das ervas...
-----------------
... deixo que o silêncio fale por mim, após ler esses versos.
deixo um beijo fraterno.
Graça, o teu poema é triste, mas lindo, e curvo-me face`ao sublime das vozes dos pássaros que o transmitem e às presenças amigas que não nos desamparam muito para além da Via Láctea. Recebe um beijinho.
Cara poeta,
foi através do blogue "Boneca de Trapos" que aqui cheguei.
Gostei imenso desta poesia, que nos atravessa como flechas, destas imagens, quase vivas, que são cada um dos seus versos.
Parabéns!
Helena
nunca soube que caminhos escolhe a morte quando encontra o coração.
talvez a doença tenha vindo com a sombra que o teu vulto acumulou nos delírios da viagem.
desprendo-me do teu nome e deixo-te as últimas notas: é tão branco o mistério que nos reduz a vida.
______
imenso o meu abraço Graça
"...Inclino o rosto
para a luz dispersa da lua
e vejo o teu nome
nas pupilas das aves nocturnas...".
Maravilha de versos, minha querida amiga, maravilha de poema com metáforas profundas, como a memória da noite.
Grande abraço.
O teu estilo inconfundível!!! Belo!
gostei do sentido destas memórias.
Gui
coisasdagaveta.blogs.sapo.pt
quando alguém parte num voo sem regresso, deixa deixa as penas das suas asas presas no nosso coração. é a saudade que escreve este poema. um grande beijinho, graça.
Os seus poemas são uma inspiração para quaquer artista...
"...como seguir uma folha de acácia pela corrente de um riacho..."
Leves...e belos...
Beijo
Que lindo, Graça.
Como de costume, aliás.
E mesmo assim, nunca deixa de me causar certo assombro...
mais uma fresta para o desconhecido em nós. Pois não é isso que fazem os poetas?
Um abraço.
"na mancha desta página,
onde ainda ressoam os teus passos"
Excelente como sempre, Graça...que visão me rendeu!
[]s
Graçamiga
Eu sou mais de prosa, mas encantou-me este teu poema. E permito-me transcrever os versos que mais me deslumbraram:
Deixo, então, que soltem tuas cinzas
na mancha desta página,
onde ainda ressoam os teus passos.
Creio que vou voltar por aqui e cumentar, com o, sempre que me dê na pobre gana; só te peço que, se assim o entenderes, que dês um saltinho lá à Minha Travessa. Se deixares um que outro cumentário, com o, darei pulos de contente.
Qjs = queijinhos = beijinhos
A via-láctea, entretecendo
teu delírio, nunca me devolveu
a forma imprecisa do teu vulto.
Lindo!
pobre dom quixote, a procurar a efémera imagem de um amor inventado...
belo poema,
beijos!
Belo.
Uma dor semelhante se agarra enquanto leio. Sacudo-a devagar, porque sei da importância deste colar substantivo sem perdicado.
Sei da quase morte.
E falo da morte porque amo a vida.
Este poema doeu tanto como a verdade que recuso.
Mas belo. Muito.
Beijo.
Na mancha da página, escrevemos com as cinzas que ficaram que tudo o resto se dispersou.
Um aperto no peito...
Nota: Graça,um MUITO obrigada pelas suas considerações a respeito da minha escrita. Generosa, minha amiga.
Este poema faz-me lembrar uma história que o mestre Luís Alberto me contou.
Permanecemos sempre quem somos mesmo após a morte. Por mais que queiramos inverter a ordem, esta só é durável num tempo ilusório, por fim apenas as cinzas...
Gosto muito do poema!
bjs
José
"Deixo, então, que soltem tuas cinzas
na mancha desta página,
onde ainda ressoam os teus passos."
Tão secreto, discreto, neste poema há algo de misterioso, algo de escondido que o torna muito belo.
Abraço.
passos em direção à alma de quem a lê doce Graça
brisas doces para si***
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