6.12.14

Tempo

Michael Bilotta


Pela fresta de uma luz que nunca se repete 
nem se curva no abismo onde pernoitam 
as sombras foge-nos o tempo. 
É inútil tentar ouvir o som dos pêndulos 
na alucinante respiração das cidades 
onde todos os relógios nos confundem. 
Os horários vão-nos queimando na memória 
outra idade em que as pálpebras 
não se encharcavam ainda com a secura da boca.

Graça Pires
De Caderno de significados, 2013

45 comentários:

José Manuel Vilhena disse...

Os horários duplicam o tempo ao repeti-lo.
Nem sempre consigo distinguir o tempo da memória, misturo as duas coisas.
Os horários apagam a memória.Apagam tudo, com o tempo.
abraço

Gaby Lirie disse...

Realmente, todos os relógios se confundem.

Beijos!

Marta Vinhais disse...

Nem a luz nem o tempo se repetem...
Fica apenas a memória...
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

PAULO TAMBURRO. disse...

GRAÇA PIRES,

você foi buscar neste seu mágico caderno de significados de 2013, mas será sempre atual enquanto houver consciência poética entre nós, um significado metafórico para nos lembrar que a morte é inexorável.

Um significado incontestável, de significativas possibilidades que temos ´para driblar o inevitável, um deles é sempre atrasar o nosso relógio biológico, tentando subverter a ordem natural das coisas, acontecimentos e fatos determinados desde que nascemos.

E creia que, eu creio e todos poderão crer também, que, amar é uma forma insubstituível de mantermos os combustíveis da nossas vidas sempre num tanque completo e pronto para novas e distantes viagens.

Amar sobre todas as formas, intensa e determinadamente, seja um amor romântico, filial ou aquele devotado aos nossos semelhantes.

Quer driblar a inevitabilidade? Ame e crie a sua dobra do tempo, aquela que lhe dará força para sentir cada vez mais os pulmões existenciais enriquecidos do puro oxigênio da vida.

Que linda postagem, Graça Pires!

Um abração carioca, desde aqui este meu Estado do Rio de Janeiro que também é de São Sebastião e que, se prepara para mais um verão de sol, vida e ainda quer mais?

Agostinho disse...

Obrigado, Graça Pires.
A metáfora do tempo tem aqui um retrato soberbo. Eu diria mesmo estar perante um poema de rara clarividência.
Que razão leva o homem a medir o tempo de forma cada vez mais obstinada e sofisticada, sabendo-se impotente para o controlar, para o gerir? Sabendo-se finito no tempo.

Anónimo disse...

Gracitamiga

Ah poetisa! Grande/pequeno poema, mas de mão cheia. Tens nos dedos - na ponta deles - cargas de sentimentalidade, de sensualidade, de Poesia. Parabéns.

Ganhaste o desafio contra a Eternidade, já subiste ao monte da Aura. Não sei mais que te diga: obrigado

Qjs

PS - Deves ter sabido que o lançamento do Crónicas das minhas teclas foi muito bonito, diz quem lá esteve. E foram mais de cem pessoas, apesar da enxurrada e do jogo do Benfica...

Está na hora de comprares um exemplar; um? Muitos. São óptimos para diversas prendas desde as do Natal, passando pelos casamentos e até aos funerais... E sff divulga-o, para que muita gente o compre. Os €€€€ estão muito caros e raros e eu preciso muito de alguns... :-) :-)

Ailime disse...

Boa noite Graça, a sua poesia é toda ela muito bela!
O tempo escoa-se a uma velocidade alucinante!
Restam-nos as boas memorias do tempo em que os pêndulos dos relógios pareciam nunca mais avançar!
Um beijinho e bom domingo.
Ailime

Shirley Brunelli disse...

Lindo poema com um desfecho admirável.
Graça, beijo!

Luis Eme disse...

bonito e real...

abraço Graça

Maria Rodrigues disse...

O tempo passa inexurávelmente por todos nós.
Belissimo poema
Beijinhos
Maria

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um poema lúcido e oportuno, pois está sobriamente carregado de certezas.
um grande poema!
:)

DE-PROPOSITO disse...

O tempo !,... que temos e não temos.

BOAS FESTAS
Manuel

Humberto Maranduva disse...

O tempo devolve-nos a consciência da condenação que o mundo sublinha numa espécie de reificação que tange o absurdo; mas, a inexorabilidade do tempo é inelutável.
Um beijinho, Graça.

Manuel Veiga disse...

há sempre um fio de água a escorrer dos lábios...

e o tempo é um "grande escultor"...

beijo, Graça

Ives disse...

Relógios sem poesia, de tempos esquecidos, lembrados no talento da beleza! abraços

jorge esteves disse...

Acho que sim, que 'há coisas que nos vão queimando na memória'; serão, umas vezes os 'horários' e outras, com outras cinzas, os 'rosários'...
Gostei muito!
abraço.

tulipa disse...

GRAÇA

Boa noite
Que bela poesia!

Detesto andar com relógio...
O tempo voa.

Obrigado pela partilha.

Desta vez fui dar um passeio
"cá dentro":

Serenidade...
Tantas vezes a desejamos,
mas nada se faz para obter
eu fui à procura e consegui.

Depois de 6 dias por aí em busca de Paz...
e de lugares novos para conhecer

já fiz 2 posts em blogues diferentes;

no blog "Momentos Perfeitos"
mostro o 1º lugar onde fiquei:
"Cepo Verde"
http://momentos-perfeitos.blogspot.pt/

No meu outro blog fiz a minha crónica de Natal
(quem me conhece sabe que detesto a hipocrisia desta época)
...
sei que o texto é um pouco longo,
mas aproveitei para relatar uma boa acção
que alguém desconhecido fez e isso é que é de valor,
não as pessoas serem solidárias porque estamos no Natal

Desculpa, mas é assim que eu penso.

Vale a pena ler o texto até ao fim,
parece maior porque a letra também é grande. Aqui está:

http://pensamentosimagens.blogspot.pt/

Espero que goste!
Boa semana.
Beijinho

Louisette disse...

Bello, Boa semena del Belgica

lis disse...

Oi Graça
O da minha sala nao confunde nunca, está sempre a me afrontar ... rs
_por mais que tente aprisioná-lo ele desaparece como areia entre os dedos.
* Graça_ tomei a liberdade de publicar um poema seu no meu blog.Tomara que sinta-se bem _foi com muito gosto.
um abraço

MARILENE disse...

Você escreve tão bem e fiquei admirada por não ter conhecido, antes, seu espaço. Li alguns de seus versos na Lis, encantadores, e cheguei aqui.
Nada se repete e o tempo, a tudo alheio, segue seu caminho, ignorando-nos. Mesmo assim, prendemo-nos ao relógio, sem lucidez. Nada podemos contra ele, que nos molda ao seu bel prazer. Bjs.

Sinval Santos da Silveira disse...

Querida amiga, Graça Pires!
Fico confuso, quase perco o chão,
diante desta formulação poética.
Parabéns pela beleza, com um
carinhoso abraço, aqui do Brasil !
Sinval.

teresa p. disse...

A vida é feita de tempos que nos transformam e nos marcam...
Sublime a maneira lúcida e bela com que abordas este tema e, também, a imagem que usaste para o ilustrar.
Gostei muito!
Beijo

Lídia Borges disse...


É este um tempo que não nos deixa tempo para viver a vida, no que ela tem de mais belo.

Um beijo

Mar Arável disse...

Poema intemporal

Excelente como sempre

Bj

Fernando Santos (Chana) disse...

Excelente poema....
Cumprimentos

NAMIBIANO FERREIRA disse...

É uma graça bendita ler a tua poesia, minha Poetisa cheia de graça!
Na verdade, penso, o tempo não existe. É uma criação da nossa Humana condição.

Abraços

Rita Freitas disse...

É como a vida, nunca se repete e sempre se transforma.

Lindo!

Beijinhos

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, cada momento vivido é irrepetível, o tempo passa, a memoria guarda os bons momentos com a esperança de luz.
AG

LuísM Castanheira disse...

Olá, minha amiga:
Um poema não se interpreta. Sente-se.
E, o que hoje a luz nos trás à memória dos dias, não será igual ao amanhã das recordações.

Mas, o que importa é o Tempo que passa por nós (ou nós por ele), sem o esquecer.

Este é para mim um poema belo, sem horas queimadas.

Um Beijo

Fê blue bird disse...

E quando abrimos os olhos já passou demasiado tempo.
Lindo e cheio de significado como sempre.

beijinho e bom fim de semana

Mariazita disse...

O tempo sempre fugindo... e nós sempre correndo atrás, sem o poder agarrar!
Gostei.

Beijinhos
Mariazita

PS:
Tenho andado um pouco afastada dos blogs porque a minha filha foi submetida a uma cirurgia ao ombro e cotovelo.
O pós-operatório tem sido complicado, com dores bastante fortes, e por isso necessita de todo o meu apoio.
Em breve tudo voltará ao normal, espero.

Nilson Barcelli disse...

Os horários, e outras coisas cronometradas, vão queimando mesmo as nossas memórias...
Mais um excelente poema, com a tua marca de qualidade, que é inconfundível.
Tem um bom fim de semana, querida amiga Graça.
E um FELIZ NATAL.
Beijo.

Cristina disse...

Maravillosa entrada!
Llego hasta tu sitio por un comentario tuyo en el blog Pienserino 50.
Con tu permiso me quedo para seguirte, abrazos desde Uruguay!

Te deseo un hermoso fin de semana, besos!
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AC disse...

Perceber e aceitar a marcha do tempo, derradeira aprendizagem antes de enfrentar o discreto e último inimigo no nosso percurso...
Graça, gosto tanto da forma (e do conteúdo) de como enuncias as coisas...

Um beijo :)

DE-PROPOSITO disse...

Tudo de bom por aí.
E que haja felicidade.

MANUEL

Daniel C.da Silva disse...

Sim, "É inútil tentar ouvir o som dos pêndulos na alucinante respiração das cidades onde todos os relógios nos confundem"...

Talvez por isso precisamos de brilhar tão mais na escuridão dos tempos,...

bjo

Ana Tapadas disse...

Ah belo poema que tão bem traduz o que o tempo me anda fazendo...

Beijo

ManuelFL disse...

Há vários tempos neste "Tempo" de Graça Pires.
O dos pêndulos, dos relógios e dos horários. O da luz e das sombras. O da respiração. O da memória. O da idade e da secura da boca.
Com a sua arte poética, Graça constrói uma teia que entrelaça e ilumina o tempo que nos foge, o «pai de quanto existe», nas palavras de Píndaro, na segunda Ode Olímpica.

Odete Ferreira disse...

Nunca nada se repete, o tempo muito menos. O tempo, nome abstrato, o tempo cronológico e o espaço, são temáticas recorrentes nos meus singelos escritos.
Há sempre uma hora marcada e é conta esta certeza tirânica que nos insurgimos.
Muito bom, Graça!
Bjo :)

Cristina disse...

Mil gracias por la visita, te dejo un fuerte abrazo!

Aníbal Duarte Raposo disse...

Lindo poema cara amiga.
O tempo é um tema eterno.
Beijo

vida entre margens disse...

Esse tempo que nos trai e nos confunde...e limita a vida...
Adorei Graça! Beijinho meu...:)

lupuscanissignatus disse...

puro oxigénio




Menina Marota disse...

Já tinha lido (mais que uma vez) este poema no seu Caderno de Significados.
Ia escrever um comentário mas ressaltou aos meu olhos o comentário de ManuelFL.
Peço licença para fazer minhas as palavras dele.
Expressou tudo o que eu quereria dizer mas muito melhor.
Grata a ambos.

Um abraço e Feliz Natal a todos.

Samuel F. Pimenta disse...

Que grande poema, enorme, magnífico! =)