Pratiquei a minha arte de roseira: a fria
inclinação das rosas contra os dedos
iluminava em baixo
as palavras.
Abri-as até dentro onde era negro o coração
nas cápsulas. Das rosas fundas, da fundura nas palavras.
Transfigurei-as.
Na oficina fechada talhei a chaga meridiana
do que ficou aberto.
Escrevi a imagem que era a cicatriz de outra imagem.
A mão experimental transtornava-se ao serviço
escrito
das vozes. O sangue rodeava o segredo. E na sessão das rosas
dedo a dedo, isto: a fresta da carne,
a morte pela boca.
- Uma frase, uma ferida, uma vida selada.
Herberto Helder
In: ou o poema contínuo. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, p. 468
28 comentários:
E tornou-se imortal....
Escrito na alma....
Obrigada pela partilha...
Beijos e abraços
Marta
Oi amiga, Graça Pires !
Lindo texto do Herberto Helder,
homenageado com o teu destaque de finíssima seleção.
Parabéns, com o meu caloroso abraço, aqui do Brasil.
Sinval.
Um gigante da Palavra.
Eterno.
Feliz quarta-feira!
Agradeço sua visita ao Perseverança e seu comentário gracioso, seja sempre bem vinda.
A postagem que você nos presenteia mostra a intimidade do autor com o simbolo mais singelo as flores, você foi feliz em escolher tal texto para este dia maravilhoso.
Fraterno abraço
Nicinha
sem palavras, eu
HH: a força telúrica da poesia.
Vale a pena homenagem póstuma a Herberto Hélder, que "da lei da morte se libertou", pela sua obra literária.
Abraços
Herberto partiu, sua poesia fica.
É bom eu quem gosta de poesia
refiro a sua passagem desta vida
a nível físico, mas lembre sempre
a sua poesia, como a amiga faz.
Desejo que se encontre bem.
Bj.
Irene Alves
'Os poetas nunca morrem' porque suas palavras ficam ecoando com maior intensidade nesse respiro de vida que continua quando lemos seus poemas.
Bonita escolha Graça
Decididamente, tenho de colocar no meu painel de bordo, em local mais visível, o "Ortografia do olhar".
Tenho em minha defesa o facto de a minha dispersão se estar a agravar perigosamente!
Abço
António
O poeta que não morre!
Beijo amigo, minha poetisa.
Bonito. As pessoas vão mas a escrita fica para sempre
Isabel Sá
https://brilhos-da-moda.blogspot.pt
Homenagem emocionante ao grande Poeta, Herberto Helder, com este seu poema belíssimo.
Beijo.
o intemporal acontece no coração.
e recorda-se!
Olá, Graça!
Apesar de não conhecer e dele não ter lido nada, pelo o que li agora, julgo que foste feliz fazendo essa homenagem. ao autor.
Beijo.
Uma escrita forte e brilhante. Palavras que ficam, imortalizando quem já se despediu dessa vida. Bjs.
um Poeta que me habituei a ler faz muitos anos, mas ficou a sua obra que é muito poderosa.
beijo
:)
Que dizer?
São assim os poetas grandes. Os que ficam imortais.
Uma escolha belíssima
Beijinho, Graça!
Silêncios em voz alta
«É na morte de um poeta que se principia a ver que o mundo é eterno.»
Herberto Helder
~
Porque
~ não sei dizer-te
~~~~~~~~~sem milagres
~ que dentro de mim
~ ~ ~ é o sol,
~ ~ ~ o fruto,
~ ~ ~ a criança,
~ ~ ~ a água,
~ ~ ~ o deus,
~ ~ ~ o leite,
~ ~ ~ a mãe,
~ ~ ~ o amor,
~ que te procuram.''
~~~~~~~~~~~~~~
~~~~~~~~HH~~~
~ Inesquecível. ~
~~~~~~~~~~~~
.
"O Poeta morreu. Viva o Poeta"
A Arte das Palavras aqui expressas, neste tão intimo e oficinal Poema, dá-nos uma imagem da Vida que o Poeta selou.
Bem haja, por esta escolha e divulgação, Graça. É uma justa e merecida homenagem.
Um beijo
...como Ramos Rosa, também recentemente desaparecido, Herberto, um poeta maior...
beijo
Mas não, por que ao poeta, a boca imortaliza-o.
Bom fim de semana, Graça
bj amg
Fascinante, Dona Graça!
Desejamos a senhora e família um FELIZ DIA DO TEATRO!
"O sonho do teatro não é se eternizar, mas falar com clareza, emoção, beleza, poesia e compreensão para o cidadão do seu tempo."
- Amir Haddad
Receba um beijo GRANDE e um abraço espremido da Cia. De Teatro Atemporal!
Clemente.
http://ciaatemporal.blogspot.com.br/
Bonita homenagem pra esse grande poeta português Herberto Helder.
Abraço!
Arquiteto de palavras. Construtor exímio...
Um poeta cuja obra será sempre de caminhos a desvendar.
Bem escolhido, Graça!
Bjo :)
E o Poeta ficou! Ficará para sempre a sua alma inquieta.
O corpo descansa o sono eterno.
"...
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.) (Herberto Helder"
Um beijo
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