7.11.16

Em seara alheia


Ainda é cedo, sabes?
As pedras são maiores que as nossas mãos.
No ar pesa a espessura da tristeza.
As uvas estão verdes.
Não é tempo do vinho.

O grão já é farinha, mas
o fermento dorme.
Não é tempo do pão.

Pequenos os seios das mulheres.
Não é tempo do leite.

As abelhas zumbem, mas
a flor do rosmaninho é só botão.
Não é tempo do mel.

Amargos os lábios dos homens.
Não é tempo do beijo.

Ainda é cedo, sabes?
Esperemos de mãos dadas,
sentados no caixote dos brinquedos,
bebendo os versos que havemos de escrever.
Verás que amadurece o tempo da saudade.

Licínia Quitério
In: Memória, Silêncio e Água. Poética, 2016, p. 58

61 comentários:

Graça Pires disse...

Como me foi dado dizer na apresentação de “Memória, Silêncio e Água”, à Licínia Quitério interessa dizer o que sente, porque a sua voz se renova em cada forma assumida. É uma poeta que não se preocupa só com a dimensão estética, mas principalmente com a dimensão ética, de alguém implicado, de alguém comprometido com o que se passa neste nosso mundo. Por isso nos diz na p. 75: "Em tempo de desventura/ os poetas falam/ de ervas daninhas/ porque a escassez das rimas não ajuda/ a conjugação precária do amor".
Com a autora entendemos melhor que a poesia não é um jogo de palavras, mas um trabalho sobre a linguagem, com um labor solitário e intenso, tanto mais intenso quanto o reconhecimento de que "o poema não vem quando se chama" p.36.
Parabéns, Licínia!

chica disse...

Linda e doce poesia e espera! bjs, ótima semana,chica

regina disse...

Esta "seara alheia" foi uma belíssima escolha. Parabéns a ambas
Regina Gouveia

Manuel Veiga disse...

uma belíssima tarde.
entre gente amiga.

e uma excelente escolha para celebrar o novo livro da Lícinia

beijos para ambas.

Bell disse...

Uma semana linda pra você!!

bjokas =)

Laura Ferreira disse...

gostei.
fez-me lembrar a peça que ando a ensaiar :)
boa semana, Graça.

Marta Vinhais disse...

Ainda é cedo para falar da solidão e da tristeza...
É ainda tempo para nos encantarmos com a simplicidade das coisas....E escrevermos na beleza do tempo...
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Delfim Peixoto disse...

Gostei da escolha que não conhecia. Abraço.

Victor Barão disse...

Lindíssimo, o Poema e a partilha do mesmo enquanto de autoria alheia à própria Graça Pires, mas por assim dizer, com suas complementarmente cúmplices e não menos belas palavras ao respeito! Duplos parabéns e votos de felicidades...

Nequéren Reis disse...

Que puresa nestas linhas amei, tenha uma semana abençoada, obrigado pela visita.
Blog:https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br/
Canal: https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM

LuísM Castanheira disse...

olá, Graça:
cada "seara..." é uma revelação.
esta autor a divulgada e o poema escolhido dá-me a exacta medida da palavra e da emoção.
gostei muito e, em especial, concordar que as rimas são limitadas...
um beijo, minha amiga, e grato pelo sua apreciação e comentários.
desejo-lhe uma semana feliz.

Benó disse...

Bela e inconformada a poesia da Licínia. Duas poetisas juntas proporcionaram momentos de agradável convívio, tenho a certeza. Um abraço, Graça.

Daniel Costa disse...

Graça Pires
Memórias, bonitas memórias em estimável poesia. Verdade insofismável, num memorável poema.
Bjs

Marisa disse...

Linda poesia!obrigado pela visita.
Tenha uma semana abençoada!:)
Xo

Simone Felic disse...

Lindos trechos que do cotidiano viajaram para o poema.
Bjs


http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/

Meri Pellens disse...

Tudo ao seu tempo, para não colher uvas verdes. O tempo da espera também tem sua beleza e utilidade.
Bjk, Graça!

A Nossa Travessa disse...

Querida Gracinhamiga (II)

Que magnífica transcrição. Que belo poema de Lícinia Quitério! Mas, continuo na minha: sou teu fã e o resto e treta. Não que o poema da Quitério seja treta... Mas os teus, juro, são melhores. Ponto final, parágrafo.

Alzira (segunda parte)
Na sequência de pedidos diversos publica-se hoje a segunda parte da séria Alzira, que tem por título Alzira: vida e obras. Mais se informa que a série não deve ficar por aqui…
Entretanto o mistério do feed continua sem solução, ainda que tudo esteja a ser feito para ultrapassar esta chatice. Desculpa, mas ela não é minha


Henrique, o Leãozão

Vítor Fernandes disse...

Um excelente poema, feito de certeza quando é tempo de amor.

Aline Goulart disse...

Lindo! Consegue descrever bem sobre o tempo em relação a vida e, principalmente, em relação a nós. Obrigada pelas palavras carinhosas. Beijinhos...

Graça Alves disse...

Uma maravilha, Graça!
Gostei da descrição que fez do trabalho da Licínia.
Sabe tão bem ler quem escreve bem e que conjuga a estética com a ética!
Bem-haja por esta divulgação.
Beijinho

Cidália Ferreira disse...

Que linda poesia. Amei, como sempre.

Beijo de boa noite

Sofia disse...

Eu tenho uma certa dificuldade com o conceito de "ainda é cedo", gosto de tudo para ontem. Talvez isto me inspire a melhorar =P

Pedro Luso de Carvalho disse...

Graça, por teu intermédio estou tendo conhecimento da existência da poetisa Licínia Quitério, e com esta postagem tive a oportunidade de ler o seu poema "Memória", que compõe o livro Silêncio e Água, publicado pela Poética, 2016, p. 58. O poema "Memória" é um belíssimo e singular poema, que nos deixa a vontade de ler todo o seu livro.
Obrigado Graça.
Abraços.
Pedro.

Sinval Santos da Silveira disse...

Oi Amiga, Graça Pires !
Que belíssimos versos, em "Seara Alheia",
de autoria de Licínia Quitério.
Formidáveis !
Parabéns pelo bom gosto, ao seleciona-los.
Um carinhoso abraço, aqui do Brasil, querida !

Smareis disse...

Uma poesia bem construída. Linda demais.
Eu não conhecia o trabalho da autora.
Gostei muito!
Ótima semana Graça!
Abraço grande!
Blog da Smareis

Zilani Célia disse...

OI GRAÇA!
QUE LINDA ESCOLHA, AMIGA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

alfacinha disse...

Que lindas palavras , uma boa escolha
abraço

baili disse...

lovely expressions with depth of wisdom and experience

Ives disse...

Que venham os tempos das colheitas doces! abraços

Isa Sá disse...

Por vezes temos que apanhar muitas pedras pelo caminho da vida...


Isabel Sá
Brilhos da Moda

mixtu disse...

não é tempo de ... é tempo de poesia :)

Lucinalva disse...

Olá Graça
Lindo poema, abraços querida.

Agostinho disse...

Muito bonito o poema escolhido, com um sentido quase didático de espera.

"Ainda é cedo"
E por isso o botão
de rosa ainda apenas intenção
de vinho, de pão, de leite, de mel, de beijo.
Que o tempo agora é de pintar cores de maturação.

Beijo, Graça.

Suzete Brainer disse...

Excelente poema, acompanhado com a sua excelente apresentação, Graça!

Aprecio muito as suas partilhas de artes poéticas sempre de
qualidade e singularidade.

Grata por mais esta leitura poética preciosa.
Beijo.

José Carlos Sant Anna disse...

É tempo, sim. De ler de ponta a cabeça os poemas de Lícinia. É tempo de mergulhar
no corpo da sua poesia, capaz de tocar olhos cegos. É tempo, sim, de descobrir todas as palavras de amor que ela reinventa em que poema que vem à lume.
Belíssima partilha, Graça! Poema de extasiar!
Beijo,

Nequéren Reis disse...

Sempre arrasando com suas bela slinhas amo lê, obrigado pela visita.
Blog: https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br/
Canal:https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM

Nadine Granad disse...

Bela escolha!
O tempo é tão singular quando se tem saudade!...

Boa semana =)

Fê blue bird disse...

Amiga Graça,
Licínia Quitério uma poeta que desconhecia e que fiquei a admirar só por ler este emocionante poema.
Fiquei curiosa quanto ao livro " “Memória, Silêncio e Água” e onde o poderei adquirir, vou pesquisar.

Um beijinho grato por mais esta partilha poética

manuela barroso disse...


Parabéns Licínia Quitério
Obrigada Graça por me dar a conhecer esta fantástica poetisa
Há um tempo para tudo.Saibamos esperar. Tudo virá no tempo certo
O nosso Tempo!
Beijinho carinhoso

Cadinho RoCo disse...

Que maravilha!
Cadinho RoCo

Poções de Arte disse...

Desencontros... é só esperar um pouquinho e o tempo certo chegará!
Belíssimo!

Abraços e feliz dia.

Ana Tapadas disse...

Excelente poema...haja esperança nesse fermento...
Bj

Marli Terezinha Andrucho Boldori disse...

Boa tarde, querida Graça, belíssima e rica escolha.
Poema que registra com lealdade o tempo de esperar, pois para tudo há o tempo certo,
de nada vale apressar, pois tudo já está programado por Deus!
Parabéns e obrigada por compartilhar! Abraço!

Mariazita disse...

Gostaria de partilhar contigo a postagem que publiquei ontem, dia 09/11/16, no meu blog A CASA DA MARIQUINHAS/
Desde já o meu “Bem hajas!”
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

PS – Desculpa o “copy & paste”

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Uma excelente escolha, Licínia Quitério que conheço do O Sitio do Poema além de ser uma excelente Poeta também tem óptimas fotografias.
beijinhos para ambas.
:)

Ana Paula disse...

Que belíssima essa "seara alheia". Tempo de paciência, de esperas nesses tempos de instantaneidade.
Beijo!

DE-PROPOSITO disse...

Um poema melodioso que nos remete para a saudade, para o anseio que o momento chegue.

Abraço
MANUEL

Mirtes Stolze. disse...

Boa noite Graça.
Uma linda partilha. Poema belíssimo. Tudo tem o seu tempo. Amiga estou e facarei um tempo sem postar. Mas sempre que for possível aqui estarei. Amo ler os seus poemas e os que compartilha Felizes dias. Beijos.

teresa p. disse...

Muito interessante e poético. Parabéns à autora e obrigada à Graça pela partilha.
Beijo.

Jaime Portela disse...

Um poema excelente.
Já não lia a Licínia há muito tempo.
Tem um bom fim de semana, querida amiga Graça.
Beijo.

Licínia Quitério disse...

Obrigada, querida Graça. Ainda no rescaldo da nossa tarde em que fizeste uma emocionada e cuidadíssima apresentação deste meu oitavo livro.
Obrigada a todos os simpáticos comentaristas.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Gostei de encontrar aqui este poema.
Amiga desejo que se encontre bem.
Bom fim de semana.
Irene Alves

Tais Luso de Carvalho disse...


"Ainda é cedo, sabes?"

Graça, que lindos versos de Licínia Quitério!
Obrigada por me fazer conhecer tão belo poema.
Beijo, querida amiga.

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Que momento poético tão belo e terno.
Um poema de Licínia Quitério que muito me sensibilizou pela sua originalidade e tema.
Muito obrigada pela sua enorme generosidade em partilhá-lo aqui no seu espaço.
Um beijinho e bom fim de semana.
Ailime

Ana Freire disse...

Uma belíssima poesia... sobre uma saudável saudade/sofreguidão do futuro... vista à luz dos olhos dos mais novos...
Uma preciosa partilha de mais uma autora, que ainda não conhecia!...
Grata por isso... Beijinhos, Graça!
Bom fim de semana!
Ana

Blog da Gigi disse...

Bom final de semana! Beijos

Giancarlo disse...

Buona domenica

Toninho disse...

Linda Seara na partilha da Licínia.
Um mundo de leveza e delicadeza.
Um daqueles que o Criador pôs sua mão.
Grato Graça.
Bjs

Unknown disse...

Lindo! Não há porque se apressar, cada fase tem seu tempo oportuno e cada tempo oportuno traz em si bênçãos mas também responsabilidades. Quando nos apressamos, estragamos as bênçãos e trazemos para nós responsabilidades para as quais não estamos preparados.
Beijos!
www.vivendolaforanoseua.blogspot.com

Odete Ferreira disse...

E como já tao bem disseste na apresentação da obra (felicito-te por tal), apenas deixo o meu prazer pela leitura desta excelente partilha!
BJ, Graça ☺

Unknown disse...

Querida Graça,

Encontrei este poema de Licínia Quitério que tanto me diz. A calma afirmação das palavras seguras, do nobre entristecer das noites e da incompletude que a solidão conforta.

Levo o poema.

Deixo abraços às duas.

Lília