3.4.23

Em seara alheia




Guardar a memória 

Sabes lá o que custa guardar a memória. 
Decompor o riso e esquecer. Empacotar 
toda a alegria numa caixa frágil de cartão, 
levá-la nas mãos trémulas até à cave mais 
escura. Descer as escadas velhas, falhar 
um degrau e cair. Ver a coragem a saltar 
do corpo, na queda. Ouvir o som que faz 
o riso, ao partir-se. Procurar os pedaços, 
perder os olhos abertos no chão, 
perder o chão, perder o andar. 

Sabes lá o que custa.

Virgínia do Carmo
In: A menina que aprendeu a matar centopeias e outros poemas. Lisboa: Poética, 2023, 
p. 17

50 comentários:

Os olhares da Gracinha! disse...

Perder a memória... perdeu-se o "ter vivido"!!! 👏 Boa semana 😘

chica disse...

Muito lindo,Graça! E realmente guardar a memória é fundamental ...Mas há coisas que custam...
beijos, ótima semana! chica

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça,
É de facto difícil perder a memória. Tanto das coisas boas, como das menos boas. São Tatuagens que para sempre gravadas em nós.
Excelente poema. Gostei muito.
Deixo os meus votos de uma feliz semana, com muita saúde.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Maria João Brito de Sousa disse...

Esplêndida colheita, Graça! Dura e espinhosa, mas esplêndida!

Um beijo!

Marta Vinhais disse...

Fica-se perdido algures, não se sabe bem onde...
Gostei muito...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

São disse...

Gostei de conhecer.

Amiga, abraço com votos de excelente semana.

Caderrno de San disse...

O que é melhor, sabê-lo ou não sabê-lo? Todavia, guardar este poema na memória não custa. Sobretudo, por suas surpreendentes imagens e arquitetura do poema. Com disse alguém antes de mim, uma bela colheita!
Uma boa semana, minha amiga Graça!
Beijo,

Tais Luso de Carvalho disse...

Querida Graça, não conhecia a poeta Virgínia do Carmo,
gostei muito do seu poema, entramos na real. Memória
é quase tudo, todo um passado e presente. Há que cuidá-lo.
Uma ótima semana, amiga, muita paz.
Beijinhos.

teresadias disse...

Uma seara alheia de enorme desalento, verdade e beleza poética.
Obrigada querida amiga, por colheres e partilhares.
Beijo, uma boa semana, cuida-te bem.

Rogério G.V. Pereira disse...

Virginia parece estar a falar de mim
Sinto-me exatamente assim

E sabes Graça? Foi tão fácil entrar no teu espaço...

Beijo

Luís Palma Gomes disse...

Somos o passado, "os mortos", escreveu JL Borges.

Boa Páscoa, Graça.

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Um poema magnífico de Virgínia do Carmo, também uma grande Poeta!
Gostei muito deste poema que nos fala da memória e de uma realidade cada vez mais presente à medida que o tempo avança...
Muito obrigada pela excelente partilha.
Beijinhos minha Amiga e Enorme Poeta.
Uma boa Semana Santa, com muita saúde.
Ailime

bea disse...

Toda a gente tem dias de "sabes lá o que custa". Às vezes semanas, meses, e acredito que até anos. Porque somos todos iguais, mas uns são mais iguais que outros.
Gostei muito do poema.

alberto bertow marabello disse...

Conservare la memoria costa e costa parecchio, ma è un prezzo.che dobbiamo pagare per essere esseri umani.
Buona settimana, amica Poetisa.
Um beijo

Cidália Ferreira disse...

Um poema com palavras muito intensas. mas belas! Amei :))
.
Soltam-se as gotas, como sorrisos do rosto...
.
Beijo e uma excelente semana

carlos perrotti disse...

De eso dependemos, aunque no lo creamos, ahí está nuestro destino... Me encantó Virginia Do Carmo, amiga Graça. Muito obrigado por presentar.

Buena semana, Poeta. Abrazo até vocé.

Elvira Carvalho disse...

Excelente poema de uma poeta que que desconhecia.
Abraço e saúde

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de paz, querida amiga Graça!
Desmemoriados, perdemos nossa dignidade.
Há coisas, entretanto, que é bom esquecermos.
Tenha uma Santa Semana abençoada!
Beihinhos

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, Graça, não conhecia a poeta Virgínia do Carmo,
mas já apreciei este seu belo poema.
Agradeço a você, amiga Graça, pela partilha.
Votos de uma boa semana.
Um beijo, minha amiga.

J.P. Alexander disse...

Profundo poema hay cosas que no podemos olvidar. Te mando un beso.

Isa Sá disse...

Bonito poema.
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Teresa Isabel Silva disse...

Muito bonito!

Bjxxx
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orvalhos poesia disse...

Profundo seu poema, e pensando bem a todos chega essa triste verdade, a vida é tão intensa que por vezes esquecemos que um dia os problemas vão existir, mas é a incrível realidade. Já foi
intensa a primavera, resta esperar pela última estação, terá que ser nossa atitude compreender que é assim a vida.
Foi um prazer amiga Graça.
Boa Páscoa
Um beijinho.

.dealer disse...

Grande lição de vida Cara Amiga.... Tens o hábito de seres muito profunda naquilo que escreves
Um grande abraço

ManuelFL disse...

Adorei este poema evocativo da Virgínia do Carmo, de uma grande sensibilidade.

Beijinhos.

Ana Tapadas disse...

Cai no meu momento...a pique!
Belo.
Beijo

solfirmino disse...

Que lindeza! Delicado e sofrido demais. Como chorei ao ler.
Como é verdade o que lemos sempre que as pessoas não sabem pelo que passamos.
Curioso, mas essa parte me fez chorar mais e mais, pois muitas vezes fingimos uma alegria que não sentimos, para que os outros não se preocupem.
"Ouvir o som que faz
o riso, ao partir-se."
Muito boa sorte para a Virgínia do Carmo e uma ótima semana para você, minha querida.

Juvenal Nunes disse...

Um poema que vale a pena ser lido e relido.
A memória é fundamental para tornar consistente a nossa vivência.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

Maria Rodrigues disse...

Uma belíssima escolha, um poema profundo e que tocou o meu coração.
Não conhecia a poetisa, obrigado pela partilha.
Beijinhos

Lucinalva disse...

Bom dia, Graça
Poema profundo, um forte abraço.

Maria Oliveira disse...

Belo poema de Virgínia do Carmo. Abraço.

Jaime Portela disse...

A Gina é uma poeta de mão cheia.
E este poema é fantástico.
Excelente escolha.
Feliz Páscoa, minha amiga Graça.
Um beijo.

Olinda Melo disse...


Isso é terrível!
Eu nunca tinha pensado nisso, assim.
E, realmente, bem vistas as coisas
é o que fazemos. Desempacotá-la também
não é mole. Quando ela surge, aos bocados
e nós a tentarmos desatar os nós, e colar
os cacos...
Um poema e tanto. Mexeu comigo.
Parabéns à Virginia Carmo e a si, querida
amiga Graça, por trazê-la ao nosso convívio.
Beijinhos
Olinda

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça,
Passando por aqui, relendo este excelente poema que muito gostei, e desejar uma feliz Páscoa, e feliz fim de semana.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Flor disse...

Lindo poema. Os meus parabéns á autora e obrigada Graça por partilhar.

Beijinhos e Feliz Páscoa.

Maria Isabel Quental (Flor).

Sinval Santos da Silveira disse...


Mestra Escritora/Poetisa, Graça Pires!
Lindo Poema de Autoria de Virgínia do Carmo e,
gentilmente,por ti Amiga, partilhado conosco !
Muito grato, e uma Feliz Páscoa !
Um fraternal abraço !
Sinval.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Bom dia Graça

A nossa Gina é uma Poeta que admiro há anos, um bom poema aqui partilhado.
Gostei bastante.
Desejo um dia feliz e uma boa Páscoa junto de quem mais ama.
Um beijo
:)

AC disse...

Custa, mas não há outro caminho, por mais que doa, já que desistir está fora de questão. A não ser que se aceite, tal como nos filmes americanos, o THE END.
Há muito que não lia nada da Virgínia. Parece-me mais vigorosa, em estado de fermentação.

Um beijinho, Graça :)

Mirtes Stolze. disse...

Boa tarde querida amiga Graça
Lindo poema. Como é bom guardar na memória momentos que nunca nas vão acontecer, pelo menos dessa existência. Vim lhe desejar uma abençoada sexta feira Santa é Páscoa. Abraços.

partilha de silêncios disse...

Lindo poema de Virgínia do Carmo, obrigada pela partilha.
Uma Páscoa Feliz.
bjs

Roselia Bezerra disse...

Jesus Ressuscitou, Aleluia!
Feliz Páscoa, querida amiga  Graça,    a você e seus entes queridos!
Um Domingo abençoado com alegrias e chocolates... Paz, saúde no corpo e Amor no coração.
Seja feliz e abençoada!
Beijinhos festivos e fraternos na maior festa cristã

Graça Alves disse...

Que seara lindíssima!
Beijinhos e Páscoa Feliz!

Margarida Pires disse...

Uma Páscoa abençoada, minha querida Graça!
Um beijinho no seu coração!
🐰👄🐰Megy Maia

baili disse...

just like everything else memories are sweet and sour too

keeping them make us feel alive sometimes and keeping them hurts a lot as well
we must learn how to put off the bad ones so light of good ones can keep us enlightened
lovely poem
blessings

Agostinho disse...

O poema prenuncia a descida da escada dos anos, dos meses, dos dias... da vida, mais custosa na descida do que na subida.
A quebra do riso cristalino em mil contas é difícil, dá lugar ao desencanto que seca o vigor.
Quando se quebra um degrau, suporte que dá equilíbrio à vida... "sabes lá o que custa"...
Um bom trabalho, de uma Poeta que desconhecia.
Desejo à minha Amiga Graça Pires muita saúde e alegria, junto dos que lhe são mais queridos.
Beijo.

Parapeito disse...

Olá
Gostei de conhecer a Virginia e gostei muito deste poema.
Acredito que o lançamento do livro " A menina que aprendeu a matar centopeias" tenha sido um momento muito bonito.
Foi uma bonita partilha,
Abraço e brisas doces **

teresa p. disse...

Poema repleto de sensibilidade e significado. A Virgínia do Carmo é uma grande poeta. Gostei muito do poema.
Beijo.

Ana Freire disse...

Um poema maravilhoso, que me fez percorrer, algumas vezes, em que perdemos o chão... e mesmo vacilando, temos de recuperar o equilíbrio... e continuar a andar...
Mas ainda assim, será de agradecer aos deuses... termos memórias empacotadas!
Mas uma partilha de excelência, Graça! Adorei cada palavra!
Um beijinho, estimando que tenha passado uma excelente Páscoa, na companhia dos seus!
Feliz semana!
Ana

manuela barroso disse...


E como a Virgínia tem razão!
Quantos pacotes guardamos nestas sinapses cerebrais até à exaustão!
"Sabes lá o que custa!"
Depois , perdemo-nos no labirinto tão emaranhado das nossas memórias! E dizemos que estamos cansadas. Que esquecemos tudo. E custa tanto esquecer!
Parabéns à Virgínia
Obrigada a ti, minha querida Amiga!
Bejo grande

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Descomponer la memoria, traer los recuerdos tiene la virtud del médico forense, del reloj que se recompone pieza por pieza, es un rompecabezas resuelto en sus elementos, entre el dolor y la alegría. Un abrazo