11.3.07

Sem destino visível



As ruas estão apinhadas de gente,
em cujos passos se adiam amores extraviados.
O cair da noite não elimina
o som inquietante da cidade:
com vozes de trevas e de luz,
com pessoas em sensual desalinho,
sem destino visível.
Estranhamente, ninguém repara
no seu andar indefeso e na inegável melancolia
que ostentam no olhar.
No horizonte, um íntimo clamor de pássaros de luz,
traz-me à ideia lembranças imperfeitas.
Um cansaço antigo e desapiedado
recupera, nos meus olhos, a mesma sombra
onde escondi todos os medos.

Graça Pires
De Reino da lua,2002

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