Darlene Shiels
Há crisântemos
ao longo das estradas.
Um chão orvalhado
rebenta-me nos olhos.
Eu sei: não há lembrança
que o tempo não apague,
nem dor que a morte não consuma.
Por isso, vai perdendo sentido
a distância que me separa
de todas as esperas.
É mais nítido, agora,
o silêncio que me envolve.
Como se a morte
(ou apenas o pressentimento dela)
viesse, de mansinho, ao meu encontro.
Graça Pires
ao longo das estradas.
Um chão orvalhado
rebenta-me nos olhos.
Eu sei: não há lembrança
que o tempo não apague,
nem dor que a morte não consuma.
Por isso, vai perdendo sentido
a distância que me separa
de todas as esperas.
É mais nítido, agora,
o silêncio que me envolve.
Como se a morte
(ou apenas o pressentimento dela)
viesse, de mansinho, ao meu encontro.
Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008
35 comentários:
Doce e triste ao mesmo tempo...gosto. Beijos.
O tempo é um manto branco para a dor e esquecimento
leva a dor mas deixa o vazio no seu lugar
________morte ou serenidade?
um beijo
terno enorme
Do silêncio que nos confronta.
Há flores e palavras para todas as etapas da vida. Que nunca o poeta se cale.
Bj
PA
Gostei de ler este poema próprio a esta altura do ano.
Abraços.
Comovente... Graça!
abraços
Sim, comovente e muito belo...
bjnhos
nem dor que a morte não consuma... Graças a Deus!
Escutar o poema, tanto quanto lê-lo, à procura dessa cama do ritmo onde as palavras se deitam, como escreveu Eugénio de Andrade. É curioso, os versos são curtos, mas a toada é lenta. Tudo no poema se inclina ao fim. "De mansinho".
Um beijo, Graça
tão nítido. Para mim.
tão belo.
que o tempo irá ressalvar.
sempre!
curvo-me.
"por isso vai perdendo sentido a distância que me separa de todas as esperas"... versos muito certos... parabéns! Antonio Jiménez Millán é um poeta de Granada, junto a Luis García Montero, Álvaro Salvador e Javier Egea iniciu un movimento poético em Espanha conhecido como "A otra sentimentalidade", tem alguma semelhança com poetas portuguesses como o Jorge de Sena, o José Agostinho Baptista, o Fernando Pinto do Amaral, Rui Pires Cabral... Também com alguns poemas teus no que concerta ao tratamento da intimidade do sujeto poético...
http://artespoeticas.librodenotas.com/artes/812/la-otra-sentimentalidad-1983
Um abraço
no último silêncio
um prelúdio
de espera
pressente-se
.
.
.
a finitude.
_____
melancolicamente belo...
BELO.
um beijo, orvalhado.
maré
Olá Graça
Em «A VIDA ETERNA», Fernando Savater, no capítulo «Autópsia da Imortalidade» Pg60/61, escreve:
«(...) O silogismo fundador da lógica da nossa existência não é o tão repetido «Todos os homens são mortais/ Sócrates é homem/ Logo Sócrtaes é mortal» mas sim, como bem sabemos, este outro: «Todos os homens morrem/ eu sou homem/logo eu devo morrer»
A seguir acrescenta:
«Outros homens morreram, mas foi no passado/ que é uma época propícia para a morte...» disse Jorge Luis Borges no começo de um breve e notável poema apócrifo. «Será possível que eu súbdito de Yacub Almansur, morra também/ como morreram as rosas e Aristóteles?»
Posto tudo isto, acrescento apenas que o teu poema é excelente e que fará parte da condição humana encarar com dificuldade a morte.
Insconscientemente ansiamos por uma certa imortaldade (glosando Freud)
Bjs
Este poema é para mim muito bom se por espera entenderes com naturalidade que a morte naturalmente nos espera e nós naturalmente a esperamos como coisa natural. É assim que eu a vejo, como berço e foz da vida.
Beijo.
Eduardo
bate na madeira, Graça.
dizem que ela foge a sete pés...
abraço
Lindo...e, como a Paula diz triste ao mesmo tempo.
Adorei.
Jinhos mil
as memórias podem ser violentas mas abafadas pelo tempo imperdoável
Fiquei sem palavras...
Um beijo
Encarada com serenidade... é um simples deslizar, um recolher de asas. É assim que quero ver a morte quando espreitar por entre os crisântemos da vida.
Gostei muito do poema.
Um beijo
Essa "a distância que me separa/
de todas as esperas." é bela. Melancolicamente bela.
Um beijo daqui.
Belíssimo compasso de tempo.
um beijo
comovente e cheio de sentido.
mais um belo poema que nos dá a partilhar.
obrigada!
beij
Tocante e bela maneira de narrar(e atirar em nossos olhos) a fugacidade da vida e nossos confrontos com o passar dos anos.
belíssimo poema, graça.
há crisântemos sim.
beijo
Da morte estamos todos perto
se houvesse morte
ou princípio
"...vai perdendo sentido
a distância que me separa
de todas as esperas".
Muito verdadeiro este sentimento, e linda e emocionante a forma como o escreves.
Beijo.
Terno... como tudo o que leio de ti.
beijo. muito muito grato.
..."vai perdendo sentido
a distância que me separa
de todas as esperas".
e apesar alimentamos a esperança. sempre.
belíssimo.
beijos
Lindo poema, em que parece emergir a realidade que a todos nós afluirá!
Até lá que os caminhos sejam muito longos e alegremente cercados de bonitas flores.
Beijo em tons de verde esperança!
Eu adoro esse poema!
Ele é tão poeticamente doce e melancólico, com imagens únicas.
Lindo, Graça!
há lembrança que se apaga rapidamente. há lembrança que o tempo, como uma única semente de milho, transforma em espigas... quanto à dor... bem, quanto à dor, por vezes se transforma numa canção que resiste ao tempo, fazendo com que aqueles(as) que a ouçam a sintam d’um modo todo especial.
no teu sentir, aqui retratado, como uma lágrima. mas mesmo as lágrimas podem se transmutar.
deixo um abraço fraterno.
A nossa morte serà um espaço mais alargado para um corpo que nos deixa e que fica, estragando-se.
O seu poema é triste, escrever sobre o orvalho que rebenta nos olhos, que lindo, furor e silêncio, serà que esqueçemos mesmo?
beijos,
adoro os seus poemas Graça, necessito-os!!!!lidia
LM
Uma aula de semântica! Sabe que os crisântemos têm inúmeras variações e duas delas, ao que me lembro, são as: despedidas-de-verão e as saudades-de-inverno? E que a acepção metafórica do orvalho relaciona-se com o estado de quem se desabafou, livrou-se de opressões? Alívio, lenitivo, refrigério? Claro que sabe! Esculpiu no poema! A efemeridade das esperas. O desencantamento. O silêncio mórbido resignado da espera sem esperança. A metáfora da morte como conseqüência natural da vida. E para que tudo vive se tudo irá morrer? A perda do sentido das coisas, diante da efemeridade da própria vida. Mas tomo-a por otimista. O tempo não apaga lembrança nenhuma: desbota-as e a morte não consuma qualquer dor: elas nos acompanham o espírito se não modificarmos a atitude mental.
Outra pérola saída da sua pena.
Beijo no coração, com despedidas-de-verão e saudades-de-inverno.
Bárbara Carvalho.
que palavras tao intensas...tao cheias afinal de vida ******
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