28.4.09

Desempregados

Dorothea Lange

Sabem de cor a raiva extenuada
com que se repete: trabalho, pão,
trabalho, pão, trabalho, pão
.
Nos seus olhos já não há, senão, um país
onde se nasce e morre, como quem cumpre
o exílio de uma pátria longínqua;
como quem conhece a orfandade do mundo;
como quem tropeça nas próprias cicatrizes.
Os seus pulsos sangrando de tanto desespero.


Graça Pires
De Ortografia do olhar, 1996

66 comentários:

Marta Vinhais disse...

Uma dor muito dorida...
Sem luz ao fundo do túnel??? Não podemos perder a esperança...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

maré disse...

A tropeçar nas cicatrizes onde as palavras, redundantes, se repetem...

e um homem apaga um cigarro num cinzeiro de desespero.

uma mulher crava um olhar sem cor no futuro dos filhos que lhe rebenta nos pulsos
...a desistência a recolher o corpo.

...______ mais e mais actual!

____
Um grande beijo Graça

Teresa Durães disse...

talvez para alguns, talvez para outros não que se tornam dependentes dum quotidiano de fácil digerimento

Paula Raposo disse...

Uma triste realidade...actuais as tuas palavras de 1996, infelizmente. Muitos beijos.

De Amor e de Terra disse...

Graça, comoveste-me profundamente!
Obrigada, por teres feito vibrar este velho coração e meus olhos, cansados de encontros, tantos, com palavras superficiais. Ou estou ficando cada vez mais sensível pela velhice, ou ultimamente vivo encontrando cada vez mais gente, que me sabe falar ao coração.
PARABÉNS Amiga.
O meu abraço especial.
Maria Mamede

PreDatado disse...

E de 1996 até agora, o que evoluiu? Aumentaram as cicatrizes onde se tropeça.

Luis Eme disse...

desespero mesmo...

a fotografia reproduz muito bem as tuas palavras...

abraço Graça

Hercília Fernandes disse...

Querida, Graça.

Sente-se, aqui, a sua sensibilidade para com a vida do próximo. Apesar de o poema tratar um tema sério, forte, dialético; você atribui grande beleza poética às linhas dessa narrativa da vida real.

Um beijo, querida amiga!

H.F.

Celina Rodrigues disse...

Que duro sofrimento.

Fred Matos disse...

É um POEMA maiúsculo.
Parabéns, Graça.
Beijos

José Manuel Vilhena disse...

Dorothea Lange merece um poema assim.

um beijinho

Pena disse...

Amiga:
Sabe, um lindo poema que faz reflectir. Pensar demoradamente.
São Seres Humanos/Pessoas de uma Terra de Ninguém.
As suas deliciosas mãos valem ouro numa sensibilidade pura que é a sua.
Um poema delicioso, mas feito com a Alma com os pés bem no chão, perante a dor, a tristeza, o abandono.
Genial. Significativo.
Há "coisas" na vida que nunca entenderei...sonho...apenas...com um mundo mais justo e perfeito à dimensão do respeito humano.
Excelente.
Beijinhos de parabéns.
Com respeito e admiração pelo seu talento sem limites...

pena

EXTRAORDINÁRIO sentir.
Bem-Haja, amiga preciosa.

isabel mendes ferreira disse...

sempre orfã de si quando aqui não venho beber deste tão belo "emprego" dos sentidos sentimentos...

o meu abraço.

Poesia Portuguesa disse...

"...Nos seus olhos já não há, senão, um país
onde se nasce e morre, como quem cumpre
o exílio de uma pátria longínqua;"

e os meus olhos choraram e o meu coração sangrou!
Onde anda a Esperança?
Onde anda essa Pátria porque se lutou?

Um ABRAÇO solidário

Heduardo Kiesse disse...

até a própria imagem é de um sofrer que fala...

"como quem tropeça nas próprias cicatrizes.
Os seus pulsos sangrando de tanto desespero"

é um dos lados trágicos da existência - a nossa!


um abraço imenso!

VFS disse...

é o futuro do colectivo que se esvai.

palavas profundas!

um beijo.

simplesmenteeu disse...

País este, que semeia raiva em vez de trigo.
Abre cicatrizes, no lugar onde deviam ser sentidos beijos.
No olhar, onde a emoção e o riso deviam dançar, escorre a fome, o sangue e a desistência.

Abraço sentido, simplesmente.

Guilherme F. disse...

Venho agradecer a passagem e o carinho nas palavras.
Gostei de regressar.
bj
Gui
coisasdagaveta.blogs.sapo.pt

hfm disse...

Do poeta que não dorme e cujas palavras são o fruto dos dias. Atentas. Verdadeiras. Sentidas. E sempre, sempre poéticas.

Tétis disse...

Maravilhoso poema.

Infelizmente, quanta verdade e actualidade nos versos magníficos deste poema triste.

A foto encaixa na perfeição neste grito de desespero e desesperança.

Parabéns Graça. Voltarei sempre!...

mundo azul disse...

________________________________


Seu poema é forte e doído!


Infelizmente, assim é...


Beijos de luz e o meu carinho!!!

_________________________________

teresa p. disse...

Palavras que expressam, de forma perfeita, todo o desespero de quem é duramente atingido pelo flagelo do desemprego. Poema mangífico, e, infelizmente, sempre actual...
A imagem é fabulosa!
Beijo.

dade amorim disse...

Um drama de nosso tempo que se repete e nos deixa mais fracas as esperanças. Até quando? E pensar que nada disso seria necessário.
Beijo, Graça.

Lou Vilela disse...

Essa foto é um dos belíssimos trabalhos de Dorothea. Imagem e versos são comoventes! Parabéns por mais esta construção, minha cara!

Abraços,
Lou

Pedro S. Martins disse...

Esses pulsos têm tendência a sangrar cada vez mais. Infelizmente.

segredo disse...

è esta miseria k nos revolta e nos faz pensar no quanto a riqueza está mal dividida...
Beijinho de lua*.*

Manuel Veiga disse...

dói, não é?...

a minha admiração. beijos

Maria Clara disse...

Forte, triste, real...

Convivemos muito com essas cenas, e, quando paramos para pensar...
dói na alma!

Belo em sua essência, Graça.

Parabéns!

vieira calado disse...

Com o seu quê de neo-realismo

agora que é preciso nos opormos ao neo-liberalismo.

Belo ensaio poético!

Beijinhos

Elcio disse...

belo e n menos abissal.

www.instantes.blogger.com.br
Este é o endereço q vale ok?

É isso aí.

© Maria Manuel disse...

poema de força, de intervenção, atento às realidades míseras deste mundo.

beijo, Graça.

José Ángel García Caballero disse...

o exílio de uma patria longíqua...
definição muito precisa,

beijos

Adriana Riess Karnal disse...

trabalho-pão...essa repetião é o que lhes mata a alma...muito bonito o poema,Graça, ainda que triste.

partilha de silêncios disse...

O desespero que é a falta de "pão" sobre a mesa! e os outros "felizes, de mesa farta" alheios de tudo, até de si próprios.
Este mundo sempre desigual e vazio de afectos!!

Falar de esperança, é sempre positivo, mas de facto, não mata a fome.

Um beijo

tecas disse...

Treze anos depois, o poema está actual. Infelizmente não são cicatrizes sociais e sim chaga aberta . Nem procurando bem no fundo da caixa de Pandora, encontramos....
Bji amigo

inominável disse...

o exílio dos desapropriados de tudo...


Obrigada por teres passado no meu cantinho escondido... Ando atarefada com o meu projecto pequenininho (em http://pequenininhos.blogspot.com/). É o que me tem inspirado ter uma menina linda linda nos meus olhos, a pupilar...

Passa por lá em algum momento pequenino... É um convite meu disfarçado de vergonha...

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

...falar dos que sofrem , e cada vez são mais é imperativo ético dos poetas. È este o tempo no qual nos coube nascer , mas não adormecer e calar... Em Portugal são dois milhões !!! A pobreza tem responsáveis, apontemos-lhes o dedo , falemos-lhe no rosto!
Abraço Fraterno

_______ JRMARTO

Peter Pan disse...

Como o poema de chamada de ateção e VOCÊ que lhe dá vida de forma justa, linda e magistral de sensibilidade, podem ser tão maravilhosos.
Lindos.
Beijinhos de pasmo...
Uma intenção significativa num poema sublime. Admirável.

pena

Vanessa disse...

Eu gosto de leitura assim, mas não estou falando somente da leitura reflexiva socialmente, mas desse leitura que aperta nossas entranhas com as duas mãos.. e muita força...


bjsssss
bom feriado Querida!!

pin gente disse...

real... tão real!
a beleza do que é triste, nas tuas palavras. lindas! reais... tão reais!

um abraço
luísa

adouro-te disse...

E esta impotência de não poder ser nada?
E esta impotência de os sentir e serem só números?
E esta impotência?
Que tal outro abril em Junho e nos meses seguintes?
E esta impotência de não conhecer alternativa?
Apetece gritar:
"Fome e desemprego a quem pode!"
Beijo de mais um...

AnaMar (pseudónimo) disse...

Mas a voz num grito de quem diz: Basta!
Mil e um beijos.

São disse...

Excelente post para este DIa...

VIVA O 1º de MAIO!!

Bom fim de semana prolongado.

fábio videira santos disse...

É preciso pegar-se na raiva, juntá-la às cicatrizes e aos pulsos sangrando de tanto desespero e reiniciar tudo outra vez. Ganhar um novo pão para o alento dos dias. E, quem sabe, tornar a pátria mais perto.

Do olhar dos outros vemo-nos muitas vezes a nós.


abraço,
fvs

Mar Arável disse...

Abril de novo


no Maio de sempre

Ailime disse...

Um grande poema onde a realidade do país está bem presente!
Um país em que nem já o sol consegue iluminar os semblantes cinzentos de tanta mágoa.
Um país onde as cicatrizes sangram desequilíbrios sociais.
Um abraço.

Marta disse...

tanta força! Lindo.

tulipa disse...

Excelente post.
Muito emocionante.
Gostei do que escreveste.

Há uma data para comemorar: o meu "Momentos Perfeitos" faz hoje 1 ano.
Convido-te a vires brindar comigo!

Feliz "Dia do Trabalhador".
Bom fim de semana prolongado.

ESPREITA...e vê se conheces o restaurante onde estou à espera de todos vós, para fazermos um brinde!

Tania Anjos disse...

Olá, Graça Pires!

Bacana você estruturar teu poema na paradoxal ou ambígua relação entre a sensação de se trabalhar apenas para o pão e a de se estar "desempregado"...


A VIDA pede mais... Muito mais.

Grande abraço,
Taninha

Pena disse...

Um comovente e delicioso poema que trata bem os sentimentos e pensamentos de um valor inigualável. Majestoso de significação extraordinária e doce.
A solidariedade é urgente neste mundo complexo e exigente.
Bem-Haja, pelo gesto sensível e maravilhoso.
Com admiração e respeito.

pena

Adorei!
Bem-Haja, talentosa poetisa amiga!

Regina Graça disse...

Um poema que é um grito do fundo da alma... De arrepiar!

Fá menor disse...

Ai, minha amiga, tanta dor há nossa volta e o mundo teima em passar ao lado!

Bom fim de semana

bjs

Mara faturi disse...

Cicatrizes seculares que passeiam, cambaleiam pelo mundo; Belo e verdadeiro em sua crueza este poema,
bjos

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Poema que retrata de forma tão sublime a dor de muitos, mas com metáforas contundentes que nos chamam veementemente à reflexão.
Lindo poema, Graça.
beijo no coração

RF disse...

E essa imagem e esse sentir torna-se, infelizmente, cada vez mais frequente.

José Pires F. disse...

E de então para cá, o mundo, ao invés, piorou.
E numa terra que não se cumpre, vai restando o desespero dos poetas como pão para a alma.

Beijinho, prima.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

uma realidade cada vez mais actual.

a foto retrata o poema de uma maneira muito realista.

fica um beij

o Reverso disse...

não, não acredito que alguma vez venha a ser diferente...

Bandida disse...

das raízes. nas raízes. onde andamos nós?...............



beijo

Victor Oliveira Mateus disse...

Bem dizia ela... que não havia coincidências: é que acabei de chegar do blogue da São, onde deixei uma proposta: o dia 1º de Maio passar a ser o dia do desempregado. Também lhe podemos chamar o "dia dos estrategas"...
a propósito a T.C. não foi despedida... a empresa é que foi para o Algarve... assim... como as aves... estilo migrações... a TC n pode ir, porque a mãe tem oitenta e tal anos... Eu acho que deviamos mudar o nome ao 1º de Maio! Talvez...deixem-me pensar: e que tal se lhe passassemos a chamar 31 de Abril? Cá por mim não me importo, desde que seja Abril!...

Lia Noronha disse...

Muito lindo...como sempre!
Abraços diretamente do meu Cotidiano.

isabel mendes ferreira disse...

aqui. para agradecer o tanto que me dá.


beijo GRAÇA.

Maria Clarinda disse...

Excelente..e super dorido!!!Infelizmente a realidade...valha-nos...talvez arranjar nos armários escondidos a ... Eperança.

José Renato Delben disse...

As misérias deste mundo..
Trabalho, pão, dignidade, amor, cidadania,...
Somos todos miseráveis, mas alguns até abaixo desta linha acabam ficando.
Triste, muito triste

Unknown disse...

Poema dorido sobre a dor
- quando dela brota, se faz brotar a flor?

Gisela Rosa disse...

"sabem de cor"

a boca que mastiga séculos
de (im)provável justiça e a indiferença de quem olha as marcas que na pele a busca do pão deixou.

"sabem de cor"

como através de um olhar vago
superar os corpos dilacerados.




Graça, Obrigada por este Post!

Um grande beijinho