12.9.13

Deixa-me beber o mel dos frutos



Vladimir Clavijo


Um pássaro de fogo hesita em atear a noite
porque temos a floração das árvores
atravessada no rosto a consentir-nos
um olhar capaz de agitar as tílias
ou fazer explodir as papoilas por dentro do deserto.

Há medronhos e morangos e bagos de romã
cortando a fome talhada no milho-rei das searas.
Deixa-me beber o mel dos frutos,
a mim, para sempre rendida ao néctar
de teus lábios claramente incendiados
nas primeiras águas.

Graça Pires
De A incidência da luz, 2011