3.9.14

Campo

Ana Pires

Voltamos sempre à casa de campo. 
Quando não estamos as plantas 
crescem de modo irregular e o pó 
acumula-se nos móveis e nos livros. 
Não importa. 
Nós voltamos apenas para regar a sede, 
beber a terra, colher a paisagem, 
mastigar o silêncio, partilhar a fome 
e tornar depois a ir embora 
com o corpo a doer da própria ausência.

Graça Pires
De Caderno de significados, 2013

42 comentários:

Marta Vinhais disse...

E esvaziar a mente de pensamentos negativos, deixar que o ar, a terra falem...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta

José Manuel Vilhena disse...

Parte-se sempre com uma dor na alma, que é uma especialidade médica difícil de perceber.
Sinto o texto como se fosse meu.
E isso, se não salva, dá um confortozinho que a arte não tem dificuldade em explicar.
um beijo

jorge vicente disse...

Regressamos sempre aos lugares onde fomos felizes. Com poemas, com palavras, com gentes, com pássaros, com o universo na palma da nossa mão.

Belissimo poema, amiga!

Beijos
Jorge

Ives disse...

Restauramos as forças ante as belezas que estiveram lá, na essência do nascimento da luz! abraços

Ailime disse...

Muito belo, Graça!
É tão bom voltar à casa que nos matou a sede e continua a preencher o coração, apesar do pó, apesar da ausência que dói!
Um beijinho,
Ailime

Luis Eme disse...

regressamos porque sentimos falta dos cheiros e da profundidade do horizonte...

abraço Graça

BLOGZOOM disse...



Graça,

Eu preciso voltar para um tempo onde tudo era mais leve, faço isso usando da imaginação, mas até ela está me pedindo descanso.

bjs

Graça Sampaio disse...

Muito belo. Algo bucólico apesar dos contrastes.

Beijinhos poéticos.

Mar Arável disse...

De Atalaia

em festa

Maria Alice Cerqueira disse...

Por favor, me perdoe pela copia e cola.
Mas hoje é por um motivo especial.
Levar ao conhecimento de todos aos meus amigos o meu mais recente trabalho.
Desde já agradeço o seu carinho, sua atenção e sua compressão.

Vem ai Uma Menina Chamada Esperança!
Em breve comunicarei o lançamento deste emocionante livro! Que ao voltar no tempo dos nossos antepassados, nos faz renascer para a chama da esperança, - olhar para o futuro e ver nossos sonhos realizados!
Querida amiga, eu ficaria muito feliz se pudessem me ajudar a divulgar meu mais novo trabalho, o qual foi feito com muito carinho e dedicação para todos os leitores que gostam de viajar entre as palavras de um livro. É um livro juvenil, mas que com certeza vai tocar o coração de todos. Assim é o que eu desejo.
Penso que estou pedindo um pouquinho demais, mas se for possível me ajudar também curtindo Esta postagem na minha pagina e a pagina deste livro no face eu lhe agradeço de todo o coração.
Muito obrigada!

https://www.facebook.com/UmaMeninaChamadaEsperanca?fref=nf



Logo que tiver uma data precisa do lançamento do livro avisarei a todos.
Conto com o apoio de cada um de vocês, para a Menina Esperança realizar o seu sonho!
Desde já agradeço o seu apoio e amizade.
O meu muito obrigado
Que Que abençoe a cada um e uma de vocês, meus amigos e amigas.

Maria Alice

LuísM Castanheira disse...

Este belíssimo poema dá-nos um
lugar para estar.

Sim, voltamos sempre...
e cada regresso é um encontro
de memórias, num confronto
de mudança.
Viajantes de sonhos,
esperamos reencontrar,
o que na vida acabamos por espalhar.

(e que maior sonho poderá ser o de poder chegar e ter à espera - dentro do poema - uma bicicleta para andar...)

Um abraço por consigo nos levar.

Teresa Durães disse...

Tantas e tantas vezes regressei ao campo só para relembrar quem sou. E com essa dor regressei. Tão intenso!

Beijo

Unknown disse...

Hum....sei bem do sabor deste poema...magnífico....é assim mesmo a ida aos campos e o amor da troca entre os frutos, as ervas e as flores e os nossos olhos de pele, e a nossa pele com olhos....tão bonito o teu poema...
Também a bicicleta é airosa
Vistosa
Vaidosa

Beijo.

author casulo-online disse...

"Limpar" a alma sempre renova, seja lá por quanto tempo a purificação dure.

Adoro andar de bike, a foto é linda.

Beijo
Cris

Agostinho disse...

Nós te rogamos
para que a seiva escorra
das pedras, água, troncos, ar...
e alimente o nosso corpo
sedento de regresso.
Que assim seja!

Tão bom, Graça.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Eu gostaria de ter a casa de
campo onde voltar, mas não tenho.
Mas imagino-me numa casa de campo,
porque em criança eu visitava uma
casa de campo dos meus avôs maternos, que infelizmente um neto
involuntariamente deitou fogo e
não voltou a ser erguida.
Bj. amiga.
Irene Alves

Ana Pires disse...

Também é bom voltar ao campo nas tuas palavras, e fico feliz por teres escolhido este meu olhar do mesmo "campo" para as completar.
Obrigada Mãe! Beijinhos.

teresa p. disse...

No campo respira-se ar puro e vive-se o silêncio e a paz.E mesmo o trabalho, que por vezes deixa o corpo a doer, revigora e liberta o espírito.
A bela foto da Ana Pires, com biciclete, o chapéu de palha e toda aquela envolvente verde transmite uma certa nostalgia.
Lindissímo!
Beijo.

Unknown disse...

Graça, maravilhoso. ADOREI!
Beijo no coração!

Shirley Brunelli disse...

Graça rsrs...O comentário anterior é meu. Luciano é meu filho que fuça o meu computador.
beijo!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um poema tão genuíno e belo como só a Graça sabe escrever.

a simplicidade das palavras aliadas à grandiosidade dos detalhes.

a foto da filhota ilustra simples e bela está muito bem.

gostei muito.

bom final de semana.

beijo

:)

Menina Marota disse...

Uma bela imagem para um poema de memórias e saudade e que foi muito bom reler do Caderno de Significados, um livro que continuo a gostar de ler.
Um grande abraço, Graça!

São disse...

Belissimo post, numa composição perfeita entre um bonita foto e um esplêndido poema.

Abraço grande, amiga

Fê blue bird disse...

O campo sempre nos traz serenidade .
Voltar onde nos sentimos bem, também.
A foto é linda!


beijinho e bom fim de semana

Daniel Costa disse...

Bonito poema, a deixar na lembrança a pacatez da casa de campo,

Beijos

lupuscanissignatus disse...

lavrar a memória, recolher o fruto da (nossa) história

Lídia Borges disse...


É verdade, sim! Voltamos sempre.

Beijo meu

Lídia

ManuelFL disse...

Que a Graça me perdoe, mas o primeiro comentário vai para a fotografia.
Ana tem um olhar sobre as coisas que sempre nos surpreende e cativa. A composição e a luz, a atenção ao detalhe, a noção de espaço, são a demonstração de uma sensibilidade apurada e de um saber particular, que ao mesmo tempo transmitem uma universalidade em que cada um de nós se reconhece.
Quem não gostaria de estar naquele lugar, naquele momento, agarrar aquela bicicleta, subjugado ao encantamento e ao sentimento de liberdade e fantasia que o talento da fotógrafa acorda, convoca ou desafia?
Balanço, forma, cor, movimento, dinâmica e expressão. O vermelho é o traço que liga o quadro da bicicleta à fita do chapéu. A bicicleta repousa, com o chapéu dependurado, como que em abandono ou a aguardar o próximo movimento. O chão relvado, é atravessado, sublinhado, cortado, pelas duas rodas, uma na sombra outra na luz, conferindo dinâmica à fotografia, e uma promessa de liberdade e alegria. A bicicleta está encostada à árvore, mas curiosamente o que sentimos é movimento e expressão, energia e dinâmica, desejo, inquietação. E esta é para mim uma chave possível de interpretação do poema de Graça Pires, como se as duas linguagens se interpelassem.
O movimento, a dinâmica deste poema, a cuja beleza é impossível ficar indiferente, é representado pela passagem do tempo – “as plantas [que] crescem de modo irregular e o pó [que se] acumula nos móveis e nos livros” – que não importa, porque existe um repouso e uma recorrência, uma circularidade. Na linguagem da poeta “Não importa [porque] voltamos sempre para regar a sede, beber a terra, colher a paisagem […] e voltar depois a ir embora com o corpo a doer da própria ausência.”
Assim, a bicicleta encostada na árvore e o chapéu que nela dependuramos, são uma outra forma, uma outra linguagem, de exprimirmos a nossa sede de uma vida plena, ligada ao que verdadeiramente importa, ao chão que pisamos, mas também ao espaço aberto, à fronteira que procura e não atingimos. Por vezes, nessa busca interminável, descansamos, tiramos o chapéu, que fica dependurado na bicicleta da vida, até uma nova demanda.
E também tiramos o chapéu à fotógrafa e à poeta, que tanta beleza nos propiciaram.

Sinval Santos da Silveira disse...

Ah, querida amiga, Graça Pires !
Também é muito bom voltar para
reafirmar o que queremos, amar,
por exemplo. Parabéns, por tão
belas reflexões poéticas.
Um carinhoso abraço, aqui do
Brasil.
Sinval.

Pérola disse...

A saudade da infância que se aviva nestas visitas.

Belo!

beijinhos

Aníbal Duarte Raposo disse...

Cara amiga Graça Pires,

Assim é.
Volto todos os fins de semana à casa do campo para me reencontrar com a vida real.

Lindo o poema e a fotografia.
Um beijo




Zilani Célia disse...

OI GRAÇA!
PODER VOLTAR A CASA DO CAMPO, DA PRAIA, ENFIM, VOLTAR E REENCONTRAR-SE.
LINDO TEU POEMA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Anónimo disse...

Gracitamiga

...como corpo a doer da própria ausência é esplêndido, como é esplêndido todo o Poema. Creio que já to disse uma vez: a Poesia vive-se, mas é preciso saber pari-la - e tu sabes...

Como dizia o Condillac - "nunca encontrei a alma na ponta do meu bisturi". Concordo, ainda que sem bisturi. Mas, pelos vistos tu encontraste-a. Parabéns. E obrigado

Qjs

DE-PROPOSITO disse...

beber a terra, colher a paisagem,
mastigar o silêncio, partilhar a fome
---------
E há também os cheiros, aqueles cheiros que nos fazem voltar e nos prendem àquele lugar.
-----------
Que a felicidade ande por aí.
MANUEL

José María Souza Costa disse...

Oi, bom tudo, Graça
Eu vim aqui, neste domingo, lhe trazer um verso, para você, refletir comigo:

I
Lágrimas despejadas, amargas, em desobrigas de ir embora.
E já não basta terços, rezas e patuás, que outrora consolava
Em rodas de ritos, a cólera maldita, assobiante com o ebola
Agride a terna Mãe África, desesperada, pelos filhos, chora.

Um abraço

Teté M. Jorge disse...

Retorno de lembranças e paz...

Beijo.

Ana Tapadas disse...

Verdade intensa...poética imensa!

Beijinho

Maria Rodrigues disse...

É sempre bom voltar aos locais que conseguem aliviar a nossa mente da rotina diária e nada melhor que a natureza para o fazer.
Beijinhos
Maria

Nilson Barcelli disse...

Excelente, como sempre.
Querida amiga, boa semana.
Beijo.

Manuel Veiga disse...

Eric Rohmer passeia-se em teu belo poema.

juro que o vi a filmar...

(muito expressiva a foto)

beijo

fernando disse...

Antigamente a vida do Campo. Não foi Suave, Romântica nem Florida. Para Quem nele trabalhava. Foi Dura . Trabalhava-se de Sol a Sol.
À memória e em Homenagem às Mulheres de Então. Escrevi:

Ó mulheres de xailes
Da cor da noite!

Ó mulheres de faces enrugadas
Pelos estios e invernos rigorosos!

Ó mulheres de mãos calejadas
Pelo cabo duro das foices!

Ó mulheres de sapatos de ourelo
Que vos arrastais pela Via-Sacra!

Não choreis pelo Cristo
De gesso Crucificado!

Chorai por vós
Corpos gastos!

....

No silêncio das lareiras
Com vossos corpos mitigados
Ouvireis no fundo dos vosso ouvidos,
No crepitar das brasas vivas dos cepos,
A Voz meiga do Eterno
Que vos Ama.

Jc

Unknown disse...

Graça, por favor, eu reconheço esta bicicleta, ela foi roubada da casa de minha esposa, isso é verdade e posso te dizer que a marca dela é Schwim, vc pode me informar o paradeiro dela? Eu gosto muito dela e gostaria de reavê-la, eu te recompensarei. Muito obrigado, Luciano.