2.12.24

Memória dos sentidos

Ana Pires Livramento




Olho para além dos sinais visíveis do horizonte.
Há um caos na trama dos dias apressados.


O pão há muito não tem o sabor da seara.
No verão o aroma dos figos e da urze
já não transpõe a ombreira da porta.
Nos muros caiados a violência do sol
atinge o olhar incauto dos que amam as sombras.
As vozes caladas das mulheres são um áspero bulício
contra as casas com frinchas nas janelas.
Nas mãos de toda a gente lateja um ritmo veloz
um impulso extraviado um gesto evasivo.

Instantes que perturbam a incerta imensidade do tempo.

Graça Pires
De O improviso de viver, 2023, p. 10

30 comentários:

Jaime Portela disse...

E tudo vai mudando.
Para melhor e para pior...
Excelente poema, como sempre.
Boa semana cara amiga Graça.
Um beijo.

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de Paz, querida amiga Graça!
Já não se faz mais dia como antes.
Tudo mudou em termos de tudo...
Seu poema tão profundo e expressivo demonstra a dura realidade da vida e do caos reinante.
Uma névoa turva invade o Universo nos deixando cheios de incertezas dolorosas.
Tenha um Advento abençoado!
Beijinhos

Regina Graça disse...

Já só mesmo a memória para nos avivar o colorido, doce, macio, perfumado e melodioso sabor da vida. Boa semana, beijinhos...

baili disse...

beautifully put dear Grace!
the ugliness of the reality the dark face of the world where power concentrated in few hands using the common men for their own dirty goals
i truly long for the day when common men will look back and realize how badly they served the worst aims of some power addicts since always and what they have harvested till now a day by day ruining world and erasing peace .how unfortunate to cut the tree we relay upon as specie tree of humanity

Mário Margaride disse...

A vida é feita de constantes mutações. Temos que nos ir adaptando e tentar o mudar o paradigma.
Belo poema, amiga Graça.
Gostei muito.
Votos de uma excelente semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

Maria João Brito de Sousa disse...

Ião bela, Graça, esta Memória dos Sentidos...

Sim, são "Instantes que perturbam a incerta imensidade do tempo." que passa e nos faz ir passando.

Um beijo!

Marta Vinhais disse...

Os dias são apressados...parece que ninguém goza o momento, aquele momento....
Beijos e abraços
Marta

brancas nuvens negras disse...

Acredito até, que hoje o tempo não se conte da mesma maneira. Dormimos à pressa.
Boa semana.
Um abraço.

chica disse...

ADOREI a foto e a poesia! Lindas! E quero agradecer teu carinho pelo meu niver! Obrigadão! beijos, chica

carlos perrotti disse...

Depirados versos dan forma a introspectivas detecciones sensoriales. Un lujo leerla, Graça cada vez más Poeta!!
Abrazo pleno de admiración.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Boa tarde
Um poema que adorei ler.
O poema desenha um cenário de desencanto e alienação, em que o progresso parece ter apagado memórias essenciais e vínculos primordiais. No entanto, por trás da crítica ao presente, há uma saudade pungente de tempos e experiências que valorizavam o sensível, o natural e o humano.
Gostei muito.
Boa semana com saúde e paz.
:)

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Em tempo.
Gostei muito da foto de suporte.
:)

Cidália Ferreira disse...

Gostei bastante. Obrigada pela partilha!!
.
A rapidez do tempo...
Beijos e uma ótima semana.

Ailime disse...

Boa noite Graça,
Nada é como dantes!
Os aromas, os sabores, o tempo que, na sua efemeridade, passa por nós sem o reconhecermos.
É o mundo em mudança, numa transformação que assusta.
Muito belo o seu poema, minha Amiga e Enorme Poeta.
Beijinhos e uma boa semana.
Emília

Fá menor disse...

Tudo passa, tudo se modifica, só vão restando as memórias que nos preenchem...
Que o caos nos seja leve e também passe e se desfaça.

Beijinhos

J.P. Alexander disse...

Profundo poema . te hace pensar. Te mando un beso.

Os olhares da Gracinha! disse...

O olhar é lindo e despertou a sua alma poética! Boa semana Graça

Tais Luso de Carvalho disse...

Graça, minha querida, está belíssimo esse poema,
tantas coisas lembramos e que não voltam mais,
podem até, mas não com o gosto e da maneira que lembramos.
Outros tempos. Evoluímos em tantas coisas, mas esquecemos
dos sentimentos - o mais importante. E o tempo corre mais, me parece...
Aplaudo você daqui de longe, amiga!
Um feliz mês de dezembro!
Beijinhos.

Jornalista Douglas Melo disse...

Minha querida amiga Graça,
Acredito que as mudanças acontecem em ciclos. Somos pessoas constituídas da mesma matéria genética e biológica, mas, com intelectos que se adaptam aos tempos que vivemos.
Beijos e ótimo começo de dezembro!!!

Laura. M disse...

Todo cambia amiga. Buenos recuerdos de otros tiempos. Me encanta la foto.
Buen Diciembre Graça.
Un abrazo.

São disse...

Querida Amiga, um dos teus mais belos poemas, este !

Beijinho com voto de saúde, estupendo Dezembro e tudo de bom.



Lucinalva disse...

Bom dia, Graça
Poema reflexivo, precisamos viver os dias sem pressa, aproveitando cada instante, bjs querida e um ótimo dezembro.

manuela barroso disse...

Para já , parabéns a Ana pela belíssima foto que me prendeu o olhar e me esqueci no tempo …
Depois , como os teus improvisos te parecem tão previsíveis , minha querida amiga , como um livro aberto que a minha imaginação lê e onde se espraia !
Tão, mas tão longo esse teu “ olhar”!
Um grande abraço !

Mariete Salema disse...

Foto deslumbrante. Poema que muito gostei de ler. Parabéns pela ilustre inspiração poética.
*
Boa semana
*

teresadias disse...

“Há um caos na trama dos dias apressados!”
Que poemão minha amiga Graça. Uma pétala, sem dúvida.
O tempo passa na exacta medida do nosso viver apressado. Permanecemos inteiros, enquanto se mantiverem intactas as lembranças dos dias vividos intensamente, sem pressa.
Beijo. Um Dezembro abençoado.
(Belíssima a foto da Ana. Para admirar sem pressa.)

lis disse...

O maior presente do tempo é o agora , abre-se um novo a cada instante.
As historias se vão,mas memorias permanecem.Sempre um lindo poema seu .
Segui o link do aniversário e deixei registrado minha admiração lá e no seu comentário
Obrigada, Graça. Um feliz Dezembro.
com carinho

ManuelFL disse...

ANA, adorei, adorei, adorei a fotografia, que ilustra e ilumina, o poema da tua mãe. Maravilha, sensibilidade e bom gosto.
Depois vem o poema, memória dos sentidos, desafio que nos interpela, inquieta e transmite «a incerta imensidade do tempo».
Um privilégio esta "Ortografia do olhar",
Beijinhos para as duas.

Majo Dutra disse...

A foto da Ana é belíssima!...
Felizmente temos recordações de um mundo mais são.
Penso que os tempos que correm, já não há memória dos sentidos...
Há a memória dos celulares...
Excelente, Poeta Amiga.
O meu abraço.
~~~~~~

Olinda Melo disse...

Apenas os sentidos conservam a memória dos cheiros
e sabores. Tudo o mais vai-se alterando e tomando
"novas qualidades". E o tempo, imenso, vai aparando
esses golpes até não nos restar novas oportunidades.
Belo poema, amiga Graça. Gostei muito.
Beijinhos
Olinda

Luís Palma Gomes disse...

Li aqui comentários que afirmam que tudo muda. Não é verdade. Algumas coisas mudam num determinado período de tempo, outras não. Na verdade, há uma síntese entre o antigo e o novo. Há como disse Hegel, um Espírito do Tempo (zeitgest), onde uma realidade indivisa e orgânica se consubstancia, ganhando traços próprios. Existe, por outro lado, sempre uma relação afetiva benévola com o "nosso tempo", "as nossas paisagens", " o nosso modo de ser", por isso "o nosso tempo" era bom, saudável e aprazível. Essas memórias assentam contudo em factos que foram vistos como perversos ou caóticos pelas gerações que nos antecederam. Mas isso para a poesia pouco interessa. A poesia é, ou pelo menos este poema, uma expressão sentimental e assim deve ser lida. E a Graça convoca de forma bastante artística os elementos suficientes para revelar a sua/nossa nostalgia. O que mais me assusta de todos eles é o "ritmo veloz", porque é o veneno da poesia. Se nem tanto para quem escreve, dado que a angústia produz às vezes bons poemas (como é o caso), mas para quem tenta fruir o poema e não consegue fazê-lo, devido à agitação constante em que se vê envolvido. Beijinhos e boa semana,