29.9.25

As marcas da memória

 

Damian Hovhannisyam




Tenho no rosto as marcas da memória 
e debaixo da língua 
todas as palavras maternas 
com que aprendi a nomear a vida.
Coloco uma pedra 
sobre a espada dos momentos 
em que estremece o escasso tempo, 
nesta vida que se desdobra 
em densas sombras 
misturadas no sangue de quem nasce. 
Deslembro a ideia da morte 
e continuo a indagar a dádiva dos dias 
presos à clandestinidade de deus.
Com os dedos atados 
ao fogo-preso da penumbra, 
ondulo o meu nome 
em labaredas cintilantes.

Graça Pires
De Antígona passou por aqui, 2021, p.78

43 comentários:

Jornalista Douglas Melo disse...

Minha querida amiga Graça,
A beleza da paisagem "facial" se mistura com a beleza intelectual... E assim, a vida se transforma, o rosto perde a ternura da juventude e fica marcado por cicatrizes, rugas... Poemas escritos nos anos que se acumulam.
Boa semana!
Beijos!!!

Marta Vinhais disse...

A vida e o seus ciclos marcados no corpo e no rosto...
Beijos e abraços
Marta

Mário Margaride disse...

Olá amiga Graça.
As marcas do tempo ficam em nós sem piedade. No entanto, temos as boas recordações dos tempos que vivemos felizes.
Belíssimo poema, que muito gostei.

Beijinhos, com carinho e amizade, e feliz semana!

Mário Margaride

chica disse...

Quantas marcas o tempo nos deixa...Algumas invisíveis, outras gritantes!
Lindo!
beijos praianos, chica

bea disse...

Parece-me ser atitude recomendável "Deslembro a ideia da morte
e continuo a indagar a dádiva dos dias". A morte caminha ao nosso lado desde o nascimento, para quê lembrá-la se está sempre lá?!
Gostei muito. Boa semana, Graça

Aleatoriamente disse...

Graça,

que escrita intensa e tão sua parece que cada verso pulsa como se tivesse sido arrancado do silêncio mais fundo. Essas “marcas da memória” no rosto, as palavras maternas sob a língua, a morte deslembrada para que a vida insista… tudo vibra como labareda que não se deixa apagar.
É belo ver como você transforma sombra em claridade cintilante. Seu poema é chama que nomeia o indizível.

Beijinho
Fernanda

bea disse...

Gostei qb deste poema, Graça. Parece-me atitude muito assisada essa de ignorar a morte, "Deslembro a ideia da morte e continuo a indagar a dádiva dos dias". Pois se a dita nos acompanha desde o nascimento, para que lembrá-la se sempre está presente?! Não há necessidade:). Que venham os dias com suas surpresas boas; e as outras, menos apetecíveis, mas não menos reais.
Boa semana

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida amiga Graça!
Um poema reflexivo de memórias inesquecíveis pelo corpo ainda que esquecidas tivessem sidas pela memória.
Felizes os que não vivem remoendo a morte certa e confiam nos dias do presente com esperança.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos fraternos

Teresa Isabel SIlva disse...

Muito bonito! Os meus parabéns pelas bonitas palavras!

Bjxxx,
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Emília Simões disse...

Boa tarde Graça,
Um poema muito belo em que faz a apologia da vida, apesar das marcas da memória no rosto, desdramatizando as adversidades e a ideia da morte. Termina com uma estrofe brilhante, aliás como é todo o poema!
Um beijinho, minha Amiga e Enorme Poeta.
Tenha uma semana muito feliz e abençoada.
Emília

alberto bertow marabello disse...

Molto potente questa tua poesia. Combattiamo, a volte invano, q volte brancoliamo,a volte proviamo. Ma comunque ci proviamo.
La clandestinità di dio è una bella immagine.
Ti lascio un saluto e un augurio di una bellissima settimana. Um beijo

Eduardo Medeiros disse...

Maravilhoso poema!
Continuar indagando é de suma importância. Tantas respostas que ainda não temos! Tanta vida que ainda temos que viver!

J.P. Alexander disse...

Hermoso y profundo poema. Te mando un beso.

Ana Lucia Nicolau disse...

que lindo texto...adorei, me fez refletir muito... abraço

Juvenal Nunes disse...

Neste texto está presente toda uma metafísica que envolve a nossa vivência.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

Lucinalva disse...

Bom dia, Graça
Quantas lembranças guardamos na nossa memória. A morte é uma passagem para a vida eterna, para todo aquele que recebe Jesus como Salvador, segundo a Bíblia. Em Apocalipse 21: 3-4 diz: Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já na existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. Bjs querida.

baili disse...

Maternal memories stay with us forever dear Grace🥹🥹🥹

We keep them safe in deepest close of our heart 🥰

Your anxiousness to find the truth of the gifts of days is heartwarming 🥹

Yes we forget the idea of death in hustle and bustle of life but at this point of age when time’s crawling turtle becomes a fast running rabbit ,in the chest of memory we find the forgotten idea of death again,like someone is shaking us to awake and realise the shortness and uncertainty of life.
Hats off to you for incredible poetry as always 🤗🙏♥️

Duarte disse...

Os ciclos desta vida que nos toca viver, vão deixando sequelas, como muito bem defines neste belo poema.
Recordar é viver, mas muito desse viver também deixa amarguras.
Abraço de vida.

Luiz Gomes disse...

Boa terça-feira e bom início de mês outubro, minha querida amiga Graça. Tem sequelas ou feridas que levaremos para o resto da vida. Mais aprendemos a conviver com elas.

carlos perrotti disse...

Un poema revelador, casi una ofrenda plena de introspección y luminosa profundidad. Me lo llevo en la memoria, amiga Graça.
Abrazo admirado!!

Rogério G.V. Pereira disse...

E é no calor
dessas labaredas cintilantes
que eu amorno a minha dor
e volto à alegria que sentia antes

Beijo de fã

Edite Lima disse...

Imagem e palavras fantásticas.Gostei dos versos " Deslembro a ideia da morte . Curioso como eu ultimamente a tenho muito presente , como uma coisa inevitável . Mas não me esqueço de valorizar os dias pela frente. Abraços

https://kantinhodaedite.blogspot.com

ManuelFL disse...

Adorei a pintura que ilustra o poema, "as marcas da memória" naquele rosto.
O poema é magnífico, e desafia-nos (interpela-nos) a celebrar a vida continuando sempre, em labaredas cintilantes, a indagar "a dádiva dos dias".
Magnífico poema, Graça, que mexeu comigo.
Beijinhos

brancas nuvens negras disse...

Com marcas, com tristezas, com traumas... vamos resistindo.
Boa semana.
Um abraço.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Boa tarde Graça
Um poema de grande força interior, onde a memória se torna marca e herança, e a palavra materna é a raiz que sustenta a vida.
A voz poética convoca a luz e a sombra, o tempo e a morte, numa teia de contrastes que nos prende ao mistério da existência.
Uma escrita que incendeia delicadamente o nome e a condição humana, mantendo viva a chama da reflexão.
A imagem de suporte também ficou muito bem.
Boa semana com saúde e muita paz.
Deixo um beijo
:)

Emília Pinto disse...

A vida foi-nos dada e com ela a certeza da morte; não penso nela, mas, sim, no modo como ela chegará. Esta caminhada foi deixando marcas e as rugas no rosto não incomodam, porque são o reflexo dos dias vivido e nesses dias vividos muitas mudanças se operaram, muitos queridos já se foram, amigos desapareceram, lugares que já estão muito diferentes; ficaram as memórias, algumas já esquecidas, outras tão presentes e tão belas que me nego a apagá-las de mim.
A vida é complexa, é como o mar, cheia de marés e se eu acho que tenho sido abençoada por ela, outros indagar-se-ão do motivo de tanta escuridão e sofrimento. E questiono-me muitas vezes...por quê eu? Que fiz eu de melhor? Por quê tanto sofrimento às crianças? Será a vida tão injusta? Ou será simplesmente maldade humana? Não encontro respostas, Amiga Graça! Estas e outras indagações continuarão, disso tenho a certeza!
Querida Amiga, a tua poesia traz-me sempre motivos para grandes reflexões e isso, muito te agradeço. Deixo -te um beijinho e votos de que a vida te abençoe, especialmente, com saúde
Emília 🌻 🌻

Cesar disse...

Lembranças e influências essencialmente femininas compartilhadas em versos.
Abraço amigo.

Os olhares da Gracinha! disse...

A imagem transmite uma "emoção única" num misto de tantas emoções escondidas!
Aplauso para a prosa poética! 👏😘

São disse...

Bela imagem assim como o poema, que muito me tocou.

Amiga, beijinho, feliz Outubro!

Maria Rodrigues disse...

As marcas da memória vão ficando gravadas no rosto e na alma.
Um poema sublime!
Beijos

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça.
Passando por aqui, para desejar um fim de semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot. com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

ruma disse...

Hola.
Quizás hayamos olvidado que los humanos eventualmente morirán.

La muerte se esconde en lugares lejanos.

Gracias. Saludos desde Japón, el Lejano Oriente.
ruma

María disse...

Un poema escrito con sentimiento.

Un placer disfrutar de tu sensibilidad.

Besos.

la plume d'Eden disse...

Caro poeta, seu poema é uma brasa da alma
queima suavemente no silêncio do mistério.
Suas palavras, carregadas de memória e luz, reinventam a vida através do fogo da palavra falada.
Sentimos a ternura das origens, o fervor do divino e a beleza do efêmero.
Admiro sua pena, que faz as sombras dançarem com a chama do sagrado.

Amizade poética
Véronique

teresa p. disse...

Poema intenso e emocionante que abana os sentidos e faz refletir. O tempo vivido deixa marcas no rosto mas também memórias que nos fazem indagar a dádiva dos dias. "debaixo da língua as palavras maternas". Gostei muito do poema e da imagem. Beijo.

A.S. disse...

A passagem do tempo, as pedras que encontranos na caminhada da vida, deixaram marcas no corpo e na alma, os olhos mais lentos, o coração com as suas cicatrizes, as rugas na pele, a memória enfraquecida. Porém ao longo do caminho, a alma se foi tornando mais forte e mais próxima da paz que sempre procuramos. Sentimos isso, quando olhamos para o interior de nós próprios, com a placidez de quem parece conhecer o caminho que falta percorrer.
Ler-te é sempre um grande privilégio minha Amiga Graça. A tua poesia não é apenas para ler, é para meditar sobre ela!
Uma feliz semana para ti, com muita saúde.
Beijo.

manuela barroso disse...

A tua poética tem o condão de ficarmos numa prisão apaixonante por cada sintagma , por cada signo na avidez de saborearmos até ao fim o rasto do teu caminho imagético ! Se se conseguir um veio que seja dessa liquidez literário - poética , então é um filão que se rasga à frente do sorriso , querida Poeta !
Depois essa imagem talvez seja o suporte nosso , ainda que na turbulência da vida , de conseguimos conviver com as alegrias - e serão tantas !- do berço até aos “sobre- saltos “ e “sobre- baixos “ dos até “ hoje”.
PARABÉNS, sempre com um abraço !

Catiahô do Espelhando disse...

Graça querida Poeta,
É uma alegria ler seus versos
nessa tarde de domingo.
Desejo que sua nova semana
seja cheia de acontecimentos
bons e cheios de esperança.
Obrigada por compartilhar
sua inspiração.
Bjins&Abraço
CatiahôAlc.

Ana Tapadas disse...

Um poema poderoso, minha amiga!
Vamos "deslembrar a morte"!
Um beijo

Tais Luso de Carvalho disse...

"Mas bah", como dizem os gaúchos quando a coisa é linda demais!
Esse seu poema está belíssimo, profundo, e não tem como não refletir a vida que levamos.
Aplausos daqui de longe, querida Graça! Um dos mais belos que li aqui.
Saio encantada.
Beijinho, uma feliz semana, amiga.

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça.
Passando por aqui, para desejar uma feliz semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

Majo Dutra disse...

Admirei sobremodo as imagens singulares e poderosas.
E tudo fica gravado na memória e nos traços...
Um beijo, Amiga Graça.
===

Au Fil de la Plume disse...

Bonjour Graça, ton poème est une incantation douce et grave, où la mémoire devient chair et murmure, les paroles maternelles, les ombres denses, le feu lié aux doigts, tout semble tisser une liturgie intime, une spiritualité secrète, vous écrivez comme on grave dans la peau avec une lumière tremblante, une ferveur retenue, merci pour cette offrande brûlante, où le nom devient flamme et la vie, clandestine splendeur, bon week-end à vous, dans la lumière scintillante des jours, Régis