24.2.25

O aceno da sede

 

Katharina-Jung



Resgato o trémulo aceno da sede
com um deserto furtivo na boca.
Roço com deleite os lábios no chão.
Até enraizar a língua na água
de qualquer nascente.
Fenda de um grito
na melancolia dos lábios.
Pranto caudaloso no sangue das mães.


Graça Pires
De Improviso de viver, 2023, p. 23

51 comentários:

Jaime Portela disse...

Excelente poema.
Gostei imenso.
Boa semana amiga Graça.
Um beijo.

Toninho disse...

Muito lindo poetizar está sede, está inquietação diante do improvável sob o desespero dos quereres. Maravilha de construção aliada à imagem ilustrativa.
Feliz semana Graça.
Bjs de paz amiga.

Eduardo Medeiros disse...

Olá.

Tua poesia evoca muitas imagens fortes ilustrada por essa intrigante fotografia!

brancas nuvens negras disse...

A sede, em nós, deixa-nos os lábios gretados.
Boa semana.
Um abraço.

Marta Vinhais disse...

A tristeza que se instala em nós....
Belo...
Beijos e abraços
Marta

Mário Margaride disse...

Belíssimo poema amiga Graça.
Onde o sentir e as emoções, estão bem patentes em cada palavra.
Gostei muito.

Deixo os meus votos de uma excelente semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

Olinda Melo disse...

Poema profundo, com muitos liames entroncando
nos raízes da vida. A sede, tantas são as sedes
que não haverá água suficiente para saciá-la.
Adorei o seu poema, querida Graça.
Beijinhos
Olinda

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Boa tarde, minha Amiga Graça!
Um poema muito intenso! A autora trabalha aqui imagens muito físicas e viscerais para traduzir uma sede que é mais do que física, parece existir uma busca, quase um desespero, por uma fonte essencial.
A metáfora do “deserto furtivo na boca” já nos dá essa aridez interna, e o ato de roçar os lábios no chão traz uma sensação de rendição ou até sacrifício. A imagem da “língua na água” sugere uma redenção ou saciedade que, no entanto, parece distante. Depois, há um salto poderoso para a dimensão da dor colectiva, ”pranto caudaloso no sangue das mães”, que amplia essa sede para algo ancestral, talvez ligado à memória, à perda ou à luta.
É um poema breve, mas carregado de força.
A imagem muito bem escolhida.
Boa semana com muita saúde e inspiração.
Um beijo
:)

Roselia Bezerra disse...

Boa tardinha de Paz, querida amiga Graça!
A sede das mães é insaciável, só mesmo remediada... A vida nos acena com muita sede, querida.
Poema muito lindo e profundo.
O mundo atual tem uma sede louca de tudo.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos fraternos

São disse...

Precioso poema!

Minha Amiga, beijinho de boa semana :)

alberto bertow marabello disse...

C'è proprio un mare di lacrime nel sangue delle madri.
Poesia molto suggestiva. Complimenti amica Poetisa.
Un abbraccio e un grosso augurio di buona settimana.
Um beijo

Cidália Ferreira disse...

Que poema bonito! :)
.
Sussurros...
Beijos e uma excelente semana.

Tais Luso de Carvalho disse...

Belo poema, querida graça, dá uma ótima reflexão desse mundinho.
Um beijinho, amiga, uma ótima semana.
(sobre o comentário "anônimo", veio assim,
não sei a razão, internet, amiga!)

bea disse...

Parece-me um poema feito sudário e de difícil compreensão, Graça. Há nele palavras desesperadas, e assim é a desarmada sede que não sabemos matar. Talvez haja nele uma visão do fim, comboio que morre no caminho, sempre longe da estação.
Quiçá seja apenas e só o fruto do desconcerto que nos chega do mundo.
Um abracinho, Graça.

Ailime disse...

Boa noite Graça,
Um poema belo e profundo, que muito apreciei.
A sede, tantas sedes, que a humanidade e as mães em particular, sentem na pele.
Um beijinho, minha Amiga Graça, e uma boa semana.
Emília

Luís Palma Gomes disse...

Poema curto, mas muito intenso. O tema leva-me aos sofrimentos da maternidade; as imagens são todas elas muito fortes, como se a poeta fosse depurando-o até ao limite. Lembra-me o Imagismo do Ezra Pound: minimalista e extremamente imagético: trémulo aceno da sede, Fenda de um grito, enraizar a língua na água, deserto furtivo na boca. Boa semana, Graça

J.P. Alexander disse...

Profundo poema. Te mando un beso.

baili disse...

A mighty expression with loads of sorrow of wondering about mourning mothers,the screams of silence carry the question which has lost its destination.the world is becoming more wild place than ever sadly
Thanks for the opportunity to read this wonderful poem dear Grace!
Healing energy to you and blessings ♥️

ManuelFL disse...

Comecei por ficar deslumbrado com a fotografia de Katharina-Jung.
Adorei o poema, um deleite de lábios, de água nascente, de melancolia, de pranto caudaloso que nos ilumina.
Bem hajas poeta pela partilha.

Lucinalva disse...

Bom dia, Graça
Poema reflexivo. Uma sede intensa que pode ser saciada pelo Criador, bjs querida.

Maria Rodrigues disse...

Um profundo, sentido e magnifico poema.
Perante tantas incertezas e desespero, crescem as sedes que habitam em nós.
Beijos

A Paixão da Isa disse...

muito bonito amiga te desejo a ti e aos teus uma linda e feliz semana com muita saude beijinhos

teresadias disse...

Uma imagem poética, um poema visual.
Uma publicação iluminada, minha querida amiga Graça.
Beijo. Uma linda semana de sol.

Klaudia Zuberska disse...

As always, he surprises with his test, he is lively, wise and contains a lot of truth!

❦ Cléia Fialho ❦ disse...

Esse poema é um mergulho profundo na sensação de necessidade, de desejo primal que se mistura com uma dor sutil. A imagem do "aceno da sede" traz uma urgência delicada, quase desesperada, como se a sede fosse uma busca que vai além do físico, tocando a alma. A metáfora da língua "enraizada na água" é tão forte, como se o alívio da sede fosse um retorno à origem, um reencontro com algo essencial. O contraste entre o prazer e a melancolia é tão bonito e carregado de significado, como se cada gota de água carregasse consigo tanto consolo quanto lamento, refletindo a dor das mães, a dor do mundo. É intenso e poético, de uma forma quase etérea.

BEIJOS

carlos perrotti disse...

Alta Poesía, amiga, no queda más que releerla y paladearla con la memoria incluso a ver si logro aprenderla...
Abrazo admirado ante tanta sensibilidad, Graça Poeta.

Luiz Gomes disse...

Boa tarde e uma excelente terça-feira com muita paz e saúde minha querida amiga Graça. Maravilhosa poesia. Hoje as pessoas, falam muito do quântico e esquecem do real. Acho que dá para conviver com ambos.

Juvenal Nunes disse...

O texto reflete uma certa angústia, mas do qual se sai resgatado.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

Rogério G.V. Pereira disse...

Este teu poema, querida amiga
escrito em 2023
trás a carga antecipada
dos dias que correm
onde o caudal do pranto
inunda de sangue todas as mães do mundo

Beijo, arrepiado

MELODY JACOB disse...

This poem is beautifully haunting, evoking an intense, almost primal longing. The imagery of thirst, both physical and metaphorical, is striking—especially the contrast between the dryness of the desert and the desperation for water. The line "A torrential cry in the blood of mothers" is particularly powerful, suggesting deep pain, loss, or even a generational suffering that runs through time.

It feels like an exploration of yearning—whether for love, solace, or even survival itself. What inspired you to share this piece?

You are invited to read my new blog post: https://www.melodyjacob.com/2025/02/our-pre-valentine-visit-to-pitlochry.html

Ana Tapadas disse...

Este poema, pela riqueza semântica que encerra, é genial!
Um beijo

MELODY JACOB disse...

What a beautiful and evocative poem! The imagery of thirst and longing is so powerful, and I love how it captures the deep connection between desire and the natural world. The metaphor of the “furtive desert” and the “torrential cry” creates a vivid sense of urgency and emotion. It's a reminder of how essential water is, not just for survival but as a symbol of hope and renewal.

Thank you for sharing this piece—it's truly thought-provoking! You are invited to read my new blog post: https://www.melodyjacob.com/2025/02/our-pre-valentine-visit-to-pitlochry.html 😊

Os olhares da Gracinha! disse...

A foto é espectacular e a mensagem bem intensa! 👏🫂

Fá menor disse...

Um poema intenso, como a sede que custa a saciar.

Beijinhos.

teresa p. disse...

"O aceno da sede"! Este título é, por si só, um poema completo. Todo o texto poético é intenso, profundo e melancólico e a imagem que o ilustra é espetacular. Gostei muito!
Beijo.

Cesar disse...

Só de ler, senti sede.
O elemento água é poderoso.
Abraço, Graça.

Carlos augusto pereyra martinez disse...

Sed y agua dos elementos sustanciales. Un abrazo. Carlos

Mário Margaride disse...

Boa tarde, amiga Graça,
Passando por aqui, para desejar uma bom fim de semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

Luiz Gomes disse...

Bom dia. Um feliz mês de março, com muita paz saúde minha querida amiga Graça.

manuela barroso disse...

Somos assolados sempre por uma sede que procuramos matar . E há tantas sedes e tão difíceis de suportar ao ponto de “ enraizar a língua na água de qualquer nascente “ . O teu poema leva- nos a tantos desertos e água que já foge à humanidade em tantos pontos do globo
Brilhante e intenso, querida Graça , tão longo!
Um grande beijinho

A.S. disse...

Um poema belo, intenso e profundo que nos deixa sedentos da fonte
onde jorram tão maravilhosas palavras. Sentimos nos lábios a secura do deserto,
pedindo a benção de um oásis.

Um bom fim de semana minha Amiga Graça.
Um beijo.

lis disse...

A foto inquietante mostra que água temos para saciar nossa sede nossas ansiedades e desejos. Requer empatia perseverança e fé para resgatá-la.
Bons dias querida amiga Beijos

Majo Dutra disse...

Há no mundo sedes profundas, entre elas, a de paz...
Abunda no mundo dilacerantes gritos maternais...
Excelente poema, Poeta Amiga.
Um abraço.
=====

Mário Margaride disse...

Boa noite, amiga Graça,
Passando por aqui, para desejar um feliz e divertido Carnaval, e uma excelente semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

Jaime Portela disse...

Gostei de reler este excelente poema.
Boa semana.
Um beijo.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, amiga Graça, li com toda a atenção esse seu poema,
que me fez lembrar do grande Kafka.
Parabéns, amiga!
Desejo uma ótima semana pra você com um bom descanso
neste Carnaval.
Um beijo, amiga.

Duarte disse...

Um belo poema com versos que me levaram a um passado inolvidável junto do meu avô. Essa água dos riachos que tão bem matava a sede.
Grande abraço de vida

Emília Pinto disse...

Querida Graça, esta sede está difícil de saciar e não só nas mães ; o mundo está a escorrer sangue por todos os lados e só os poderosos que fazem as guerras é que não o veem; não lhes interessa, mesmo que nas torneiras cesse a água de que precisam; o que lhes importa é o poder económico : crianças morrem de fome, de sede e debaixo dos escombros provocados pelas bombas, mas isso é para eles um pequeno pormenor .
Nada podemos fazer para atenuar a dor dessas mães que derramam lágrimas de sangue, impotentes perante os horríveis acontecimentos ; salvar os seus filhos de tanta maldade é o que as faz erguer a cabeça e seguir em frente, fingindo que nada está a acontecer e que lá na frente escorrerá, das fontes, água límpida que lhes mate a sede e lhes limpe as ferifas. Não sei se terão alguma esperança, mas não a podem tirar dos pequeninos. Graça, querida Amiga, este teu poema fala de sede e todos nós estamos sedentos de uma coisa, sedentos de paz, uma paz que teima em não chegar. Obrigada pela bela poesia que connosco partilhas e desejo que todos estejam bem e que a paz não falte à vossa volta.
Beijinhos
Emília 🌻🌻

Rajani Rehana disse...

Beautiful post

alberto bertow marabello disse...

Nel sangue delle madri, non si Madrid, maledetto correttore automatico...

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça,
Passando por aqui, para desejar um bom fim de semana, e um FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER!
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com
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