Aqui, onde o coração reclama uma pátria melhor,
volto ao lugar das palavras que nunca calei,
por saber que o silêncio se articula na errância
da voz e que nele cabe a solidária multidão
que ama, por inteiro, a liberdade.
A boca sabe-me, inesperadamente, a sangue,
em nome daqueles que desistiram do sonho,
sem remorsos, à margem da esperança.Tardei a encontrar o exótico perfume,
com que alucinei os dias e as noites,
onde, de um trago só, bebi a própria sede,
guardada no barro da memória.
Agora, sou dos que medem o desassossego
dos lábios, pelo silente sobrevoar dos pássaros,
rente à coragem ou às lágrimas.
As minhas mãos se dão, com a inquieta força
de quem vive ancorado ao fascínio de ter no olhar
um horizonte tão livre, tão límpido,
como a luz transfigurada das manhãs.
Graça Pires
De Reino da lua, 2002
volto ao lugar das palavras que nunca calei,
por saber que o silêncio se articula na errância
da voz e que nele cabe a solidária multidão
que ama, por inteiro, a liberdade.
A boca sabe-me, inesperadamente, a sangue,
em nome daqueles que desistiram do sonho,
sem remorsos, à margem da esperança.Tardei a encontrar o exótico perfume,
com que alucinei os dias e as noites,
onde, de um trago só, bebi a própria sede,
guardada no barro da memória.
Agora, sou dos que medem o desassossego
dos lábios, pelo silente sobrevoar dos pássaros,
rente à coragem ou às lágrimas.
As minhas mãos se dão, com a inquieta força
de quem vive ancorado ao fascínio de ter no olhar
um horizonte tão livre, tão límpido,
como a luz transfigurada das manhãs.
Graça Pires
De Reino da lua, 2002
6 comentários:
Na calma da manhã, ouvindo os pássaros cantar, lá fora no arvoredo, enquanto no forno familiar, crepita o alimento do corpo, eu alimento a minha alma... aqui, com as suas palavras.
Obrigada pela partilha.
Obrigada também pela partilha da quietude da sua manhã e pelas palavras bonitas que aqui me deixa.
Um beijo.
Mais um lindíssimo poema, a tocar bem cá dentro, nas memórias do passado, na perplexidade (por vezes dolorosa)do presente,na inquietação do futuro...
Contudo, enquanto houver "horizonte"...
Obrigada
Maria, obrigada. O "horizonte" existe e as nossas mãos se dão porque amamos, por inteiro, a liberdade. Um abraço.
E porque "o sonho (ainda) comanda a vida", faremos sempre um novo Abril, com cheiro de alecrim!
Um beijo
É isso mesmo, O'sangi. Sempre um sonho nos arrasta... Obrigada. Um abraço.
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