Mais do que uma voz, a vibração de um trompete exila o pranto inesperado do olhar preso à curva do sol nascente. Regressamos em sobressalto aos lugares da infância. Colhemos azedas roçando nos lábios o suco que a língua suga com um prazer inexplicável, iludindo em nossas bocas outros sabores. Temos ao alcance das mãos o arco matinal do riso e vivemos em litorais que nos douram o corpo, poroso a todas as paixões.
Amo as açucenas na branquíssima vertigem do princípio do mundo. Ninguém pode amá-las assim nas madrugadas de linho e de nácar. Ninguém subiu as vertentes da colina mais íngreme com um vestido de noiva amarrado ao corpo. O abandono recortado no ar. Os desejos entorpecidos na alvura dos seios. Os guizos das cabras reclamando o cio. A cera das colmeias na greta dos lábios. O fascínio da luz a incidir nas hastes mais altas.
De dezembro a fevereiro os aloés florescem à beira das estradas. Têm hastes longas presas aos cactos. Cleópatra, dizem, utilizava-os para dar à pele a beleza macia que entontecia os homens. É por isso que nos fascina a sua cor fortemente igual às laranjas antigas. É por isso que há mulheres rendidas aos poderes dos bálsamos obtidos das flores. É por isso que se acredita na minuciosa utilidade de lhes extrair o sumo, o tónico, o gel e tantas outras coisas que prometem a juventude eterna. Como se não fossem perversos os desígnios da morte.