30.4.07

Em seara alheia


PENÉLOPE, MEIO DIA

Está na cozinha, a sopa ao lume, os pratos na
mesa, talheres para dois, como se ele viesse. Hoje.
Ele não volta, anda embarcado há muitos anos num
navio com sal e ferrugem nos porões. Mas ela espera,
sabe que ele pode chegar a qualquer momento. Às
vezes espreita a telenovela ou as ervas a crescer junto
ao muro do quintal. No resto do tempo, faz e desfaz
o mesmo naperon, para enganar as horas, o frio,
a solidão e um corpo esquecido do que é o amor.
José Mário Silva
In: Nuvens & Labirintos. Lisboa: Gótica, 2001

29.4.07

De múltiplas cores



Encosto a cara às quimeras da infância,
para exorcizar a inocência perdida
e rodopiar, sobre os sonhos, a valsa
solitária da criança que fui,
quando as minhas mãos, nativas do sol,
eram aves de múltiplas cores.
Páro todos os relógios, para escutar
a respiração dos dias.
E, como um actor que se esgota na personagem,
rasgo o cenário e danço, como um louco, em redor
de malogros entralaçados nos meus pulsos.
Tenho, em volta do pescoço, uma lua

transparente que me enrouquece a voz.


Graça Pires
De Reino da lua, 2002

26.4.07

A luz mais que perfeita

Richard Nowicki

De pés tumultuados, caminhas pelo anoitecer,
com os lábios viciados de algas azuis.
Uma velhice súbita lateja sobre os teus ombros
e pega-se-te ao rosto uma angústia sem recuo:
um caminho de mágoa nos teus olhos.
Na orla do mar, os deuses organizam tua morte,
enquanto a luz, mais que perfeita, de uma ilha,
soluça no teu peito.


Graça Pires
De Uma certa forma de errância, 2003

25.4.07

Incendiando o trigo

Steve Thoms
Tinha chegado o tempo
em que era possível ser livre.
Souberem-no as palavras. E os pássaros.
O voo das gaivotas motivou
o rumo dos veleiros.
Reconciliaram-se as manhãs.
Tu e eu : de mãos adolescentes
incendiando o trigo.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

24.4.07

As minhas mãos se dão



Aqui, onde o coração reclama uma pátria melhor,
volto ao lugar das palavras que nunca calei,
por saber que o silêncio se articula na errância
da voz e que nele cabe a solidária multidão
que ama, por inteiro, a liberdade.
A boca sabe-me, inesperadamente, a sangue,
em nome daqueles que desistiram do sonho,
sem remorsos, à margem da esperança.
Tardei a encontrar o exótico perfume,
com que alucinei os dias e as noites,
onde, de um trago só, bebi a própria sede,
guardada no barro da memória.
Agora, sou dos que medem o desassossego
dos lábios, pelo silente sobrevoar dos pássaros,
rente à coragem ou às lágrimas.
As minhas mãos se dão, com a inquieta força
de quem vive ancorado ao fascínio de ter no olhar
um horizonte tão livre, tão límpido,
como a luz transfigurada das manhãs.


Graça Pires
De Reino da lua, 2002

23.4.07

Em seara alheia



LIBERDADE

– Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre nosso que sabia
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
– Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
– Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga
Albufeira, 28 de Agosto de 1975
In Diário XII

22.4.07

O corpo do texto

Migdalia Arellano

Em movimento, o manequim desfila
a saga fonética de um tema contraditório.
Como dizer as jóias e as sedas
de um diálogo de amor interrompido?
Com que lantejoulas se enfeitam
as intrigas suspensas no mutismo?
Rodopiante, a prosa é outorgada
no delírio erótico das vogais.
Manufacturam-se réplicas e hábitos.
Especulam-se hipérboles.
Manipulam-se ciladas.
Na palma da mão, monta-se a plateia.
A bailarina confunde a dança
com o corpo do texto.
Transfigura-se na mitológica divindade,
sobre a qual toda a gente se questiona.
O enredo é a insónia onde dorme
a contrição da memória.
Uns braços, tatuados de ruínas,
anunciam a múltipla morte da inocência.
Anoitece na cidade costeira do cenário.
O poeta tem o mesmo olhar indeciso dos mendigos.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

21.4.07

Insisto num rosto efémero

Modigliani


Do outro lado do disfarce,
insisto num rosto efémero.
A que punhal ou perigo me insinuo?
Sou o encontro adiado,
neste prenúncio de muros
ou de mãos indomáveis.
Quero, no reverso da névoa,
onde não dancei os sonhos,
um teatro de papel.
Diante da muralha da noite
ensaio as sombras sob as pálpebras
e altero o nome das cantigas
que me circulam no sangue, em sobressalto.

Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

20.4.07

A quietude de um abraço

Antonio Canova


Há falsos profetas a levante do destino.
É preciso fechar por dentro
as águas furtadas da sorte.
Emparedar os passos.
Não vá haver, por aí, interditos anjos,
a violentar-nos o andar.
Apenas o silêncio é comum às mãos
que acolhem todas as tempestades,
sem desviar os olhos da quietude de um abraço :
labirinto onde aceitamos ser felizes
sem qualquer condição.
Terra natal de todos os desejos.
Sudário das nossas solidões.


Graça Pires
De Labirintos, 1997

19.4.07

O primeiro sinal da tua ausência

Edward Hopper

Rasgo, nos pulsos, a veia onde guardei
o primeiro sinal da tua ausência.
Esvaio-me em sangue, ou em raiva,
como se a morte fosse o único modo
de resgatar os sentimentos
pelo percurso do coração.
É estranho como consigo amar-te,
mesmo quando em mim se quebram
todos os mares intranquilos
e o corpo se despedaça contra as fragas
de um pervertido monólogo.
É estranho como decidi partir, presa ao teu rosto,
contra a vertigem de querer encontrar,
na tua mão, a linha da minha vida. É estranho.
Há agora um lugar onde é perigoso o amor.
Sou a porta aberta a todos os pássaros
a caminho do sul e enrolo o pensamento
na revolta de não poder seguir-te,
de não poder querer-te,
de não poder esconjurar no teu abraço
todas as minhas culpas.

Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

18.4.07

Por dentro dos desejos

Chip Forelli

O entardecer tem ilhas no centro da noite.
O barulho da água cobre de música
a subtileza dos sentimentos.
De ponta a ponta da pele,
um arrepio de unhas ou de febre,
a mover-se por dentro dos desejos.
Não tarda um casulo de malícia na dureza do corpo
e o pulso à deriva pelo esquivo feno dos abraços.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

17.4.07

A cor controversa dos teus olhos

Manuel Fazenda Lourenço
Para o Afonso, meu neto

Não sei se a rotina do criador ignorou,
por instantes, os limites da eternidade
e ordenou aos pássaros que voassem
mais alto que as estrelas.
As searas, porém, convocaram a luz
da madrugada, para envolver, nos teus cabelos,
o brilho das espigas.
Agora, por onde passas, o céu é tão azul
como a cor controversa dos teus olhos.


Graça Pires
De Quando as estevas entraram no poema, 2005

16.4.07

Em seara alheia


Coração Polar

1.

Não sei de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures no mar
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de salsugem
os teus naufrágios
e a grande equação do vento e da viagem
onde o acaso floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.
Não sei de que cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma esquina
uma abertura entre a rotina e a maravilha
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode ser possível
há um mar imaginário aberto em cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu és.

Manuel AlegreIn Senhora das Tempestades. Lisboa: Dom Quixote, 1998

15.4.07

Um começo cor de mel

Peter Wileman

Um começo cor de mel
como um cenário aberto
à violência das mãos.
Depois, a insinuante dialéctica
entre o corpo e a véspera
de um azul impenetrável.


Graça Pires
De Poemas, 1990

12.4.07

Apenas os barcos nos perturbam

André Kertész
Entre o rio e o mar
apenas os barcos nos perturbam.
A tua figura nada tem de ambíguo.
Mas, como se um pássaro
te atravessasse a boca,
avisas ainda o teu chegar.
Impulso de voar
ou um solitário bater de asas ?


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

11.4.07

Uma canção de roda na lembrança

No círculo das nascentes,
está o enigma materno
da disponibilidade das mãos.
Toca-se um rosto
e há campos ondeando a sede e o trigo,
na pulsação das manhãs.
Embala-se um corpo
e a infância recomeça com múltiplas formas.
Uma canção de roda na lembrança.


Graça Pires
De Labirintos, 1997

10.4.07

A cidade

J.A.Hampton

Improvisamos a palavra adequada
para dizer a cidade, alheia e imprevisível.
Todas as histórias do dia a dia se precipitam,
gradualmente, na estrangulada identidade
dos habitantes urbanos.
É por comodidade que saltamos por cima
dos odores, do lixo, da multidão, da indiferença
e contornamos a evasão de um tempo arruinado,
onde nos dizemos ecológicos e solidários,
e nos indignamos, e coleccionamos protestos
com que nos agredimos nas horas de ponta.
Somos, na cidade, os viciados
de um pseudo-conforto que nos inibe de sonhar.


Graça Pires
De Ortografia do olhar, 1996

9.4.07

Em seara alheia


A VARANDA DE JULIETA

Uma vez, entrei em verona para não entrar
em veneza. Entre o vê de verona e o vê
de veneza optei por ver verona. Gostei da
coincidência das consoantes na janela
de julieta; e sei que em veneza não ouviria
o vento da vingança, nem provaria o veneno
de uma volúpia que só em verona se
desvenece com a vida. Não há canais em
verona, como em veneza; nem há janelas
em veneza, como em verona; mas julieta
espreita a rua, da janela que é sua, e se
ninguém diz a senha que só ela sabe, agita
o lenço molhado pelas lágrimas que as
nuvens bebem, levando-as de verona até
veneza, onde a chuva as deita nos canais.

Nuno Júdice
In Pedro, Lembrando Inês, Lisboa, Dom Quixote 2001

8.4.07

O rumo das aves litorais

Jeff Greenberg

Nos meus lábios, tão subitamente
comprometidos com a noite,
existe um mar alto, onde sulco
remotas lembranças, como se navegasse
todos os oceanos do mundo.
Amanhã serei eu a manejar as velas,
sem que me doam as mãos.
Seguirei o rumo das aves litorais,
como quem troca abraços
para subverter emoções.

Esta noite vi o teu nome estampado
nas velas de um barco em fuga.

Graça Pires
De Uma certa forma de errância, 2003

7.4.07

Náufrago de um poema adiado



Náufrago de um poema adiado,
dei à costa na curva de uma concha
onde me exilei.
A sombra de Teseu foi a cama
sobre a qual perdi a inocência das palavras,
com a boca possessa de barcos transparentes.
Há itinerários marítimos nos meus dedos,
insinuando viagens da memória,
à altura de todos os fascinios.
Labirinto abissal e sinuoso do pensamento.


Graça Pires
De Labirintos, 1997

6.4.07

Há um pressentimento feliz



Não há bom senso entre as paredes
de uma emoção dilatada até à própria sedução.
Ao comprido da vida, encena-se um bailado lento
e decalca-se, sobre a fantasia,
um aceno que redime culpas
e traz, pela tardinha,
um vento favorável à adolescência do corpo.
Há um pressentimento feliz
na concha das mãos perturbadas de afecto.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

5.4.07

Vamos falar de poesia



Arte poética

o poema não tem mais que o som do seu sentido,
a letra p não é a primeira letra da palavra poema,
o poema é esculpido de sentidos e essa é a sua forma,
poema não se lê poema, lê-se pão ou flor, lê-se erva
fresca e os teus lábios, lê-se sorriso estendido em mil
árvores ou céu de punhais, ameaça, lê-se medo e procura
de cegos, lê-se mão de criança ou tu, mãe, que dormes
e me fizeste nascer de ti para ser palavras que não
se escrevem, lê-se país e mar e céu esquecido e
memória, lê-se silêncio, sim, tantas vezes, poema
lê-se silêncio, lugar que não se diz e que significa,
silêncio do teu olhar de doce menina, silêncio
ao domingo entre as conversas, silêncio
depois de um beijo ou de uma flor desmedida,
silêncio de ti, pai, que morreste em tudo para só
existires nesse poema calado, quem o pode negar?,
que escreves sempre e sempre, em segredo,
dentro de mim e dentro de todos os que te sofrem.
o poema não é esta caneta de tinta preta, não é
esta voz, a letra p não é a primeira letra da palavra
poema, o poema é quando eu podia dormir até
tarde nas férias do verão e o sol entrava pela janela,
o poema é onde eu fui feliz e onde eu morri tanto,
o poema é quando eu não conhecia a palavra poema,
quando eu não conhecia a letra p e comia torradas
feitas no lume da cozinha do quintal, o poema é aqui,
quando levanto o olhar do papel e deixo as minhas mãos
tocarem-te, quando sei, sem rimas e sem metáforas,
que te amo, o poema será quando as crianças
e os pássaros se rebelarem e, até lá, irá sendo
sempre e tudo. o poema sabe, o poema conhece-se
e, a si próprio, nunca se chama poema, a si próprio,
nunca se escreve com p, o poema dentro de si é
perfume e é fumo, é um menino que corre num
pomar para abraçar o seu pai, é a exaustão e a
liberdade sentida, é tudo o que quero aprender
se o que quero aprender é tudo, é o teu olhar
e o que imagino dele, é solidão e arrependimento,
não são bibliotecas a arder de versos contados porque
isso são bibliotecas a arder de versos contados e não é
o poema, não é a raiz de uma palavra que julgamos
conhecer porque só podemos conhecer o que possuímos
e não possuímos nada, não é um torrão de terra
a cantar hinos e a estender muralhas entre os versos
e o mundo, o poema não é a palavra poema porque
a palavra poema é uma palavra, o poema é a carne
salgada por dentro, é um olhar perdido na noite
sobre os telhados na hora em que todos dormem,
é a última lembrança de um afogado,
é um pesadelo, uma angústia, esperança.
o poema não tem estrofes, tem corpo, o poema
não tem versos, tem sangue, o poema não se escreve
com letras, escreve-se com grãos de areia e beijos,
pétalas e momentos, gritos e incertezas, a letra p
não é a primeira letra da palavra poema, a palavra
poema existe para não ser escrita como eu existo
para não ser escrito, para não ser entendido,
nem sequer por mim próprio, ainda que o meu
sentido esteja em todos os lugares onde sou,
o poema sou eu, as minhas mãos nos teus cabelos,
o poema é o meu rosto, que não vejo, e que existe
porque me olhas, o poema é o teu rosto, eu,
eu não sei escrever a palavra poema, eu, eu só sei
escrever o seu sentido.

José Luís Peixoto
In A criança em ruínas. V.N.Famalicão: Quasi,2002

4.4.07

Parto esta noite

Pascal Renoux


Parto esta noite com uma chama
entornada na boca.
Atravesso as ruas em direcção ao rio.
Passeio sobre os escombros
de uma ficção com âncoras,
e bordo o teu nome, letra por letra,
no pano de um veleiro pronto a largar à bolina
na liquidez enchente do meu olhar.
Mas não posso descrever-te.
Um perpétuo segmento constrói a teia
num lugar oposto à intimidade.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

3.4.07

À mercê da lua

Amedeo Modigliani


A noite enrosca-se-me na cintura,
a mover-me um cerco,
a colocar-me à mercê da lua.
Um trilho de água-doce
humedece a orla de uma nudez
convergente com o desejo.

Perante a indiferença de toda a gente,
uma mulher desceu a montanha,
prenhe de solidão. Fascinada pela noite,
deixou que lhe mutilassem as mãos,
para parir sem algemas.
E doeu-lhe no peito o grito de nascer
de todos os filhos, o soluço sufocado
de todas as mães. Depois, pairou no ar,
um estranho aroma de sardinheiras brancas.

Graça Pires
De Reino da lua, 2002

2.4.07

Em seara alheia


Kyrie

Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!

José Carlos Ary dos SantosIn: Vinte Anos de Poesia, 1963-1983.Lisboa: Distri, 1983

1.4.07

Primavera

Shirley Novak

Entre abril e a liturgia das papoilas,
o perpétuo equívoco das cerejas brancas:
diurnos frutos que o sol protege
dos sobressaltos de maio.
Apenas os pássaros migrantes
conhecem os locais onde se enlouquece
por adiar o destino do coração,
ou o caminho por onde se foge
de impossíveis voos, sem deixar,
nas asas, vestígios de cansaço.


Graça Pires
De Ortografia do olhar, 1996