30.11.15

Sempre em novembro

Obrigada a todas as amigas e a todos os amigos pelo caloroso acolhimento no Porto.


Isenta de mim estarei pronta para riscar
os dias no pó que será barro de oleiro,
em mãos que talham enredos.
Prendo no pescoço um friso
de alecrim e sigo, por atalhos,
a linhagem das árvores de troncos espessos.
É agora meu o tempo acutilante do silêncio.
Faço o inventário inexplicável
dos pássaros que morrem todos os anos,
sempre em novembro,
sempre no fundo de meus olhos,
sempre ao som das primeiras chuvas.
E morro também, de morte lenta,
no cetim das flores desfolhadas
sobre o musgo dos sentidos.

Graça Pires
De Uma claridade que cega, 2015

Fico à espera dos meus amigos mais a Norte para o lançamento do livro no dia 4 de Dezembro, na Livraria Unicepe, às 18.30 h.

Aproveito para informar a 12 de Março de 2016 haverá o lançamento do mesmo livro na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz.

19.11.15

Uma claridade que cega - Convites

Foi uma festa linda! Obrigada a todos os que a partilharam comigo. Obrigada também aos que quiseram estar e não puderam. Agora conto com os meus amigos do Norte para o dia 4 de Dezembro...


Neste ano, em que comemoro 25 anos de edição, gostava de contar com a presença de todas as minhas amigas e de todos os meus amigos: os meus leitores, que dão sentido ao meu lugar de poeta


Impossível encontrar o esteio certo
para entrelaçar a subtil anuência da fala.
As palavras, essas
são arrastadas pelo vento
que geme nas montanhas
onde se pode olhar de frente
o imponderável declive da neve
que rasga no peito
uma claridade que cega.

Graça Pires
De Uma claridade que cega, 2015

Aproveito para informar em Março de 2016 haverá o lançamento do mesmo livro na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz.

12.11.15

Em seara alheia



XVII

Este é o delírio que sempre me ronda. Senta-se comigo à mesa 
dos cafés. Escorre pelas páginas do que folheio. Dialoga com 
as minhas dúvidas, as minhas crenças, as minhas verdades, tão
provisórias e falíveis como todas as verdades. Este é o espectro,
que me acusa e protege, o súplice olhar ante a ganância do
mundo, frente à voracidade cônscia com que nos devoram a
esperança, frente ao frenesim que atravessa a História e com
que os criadores enfeitam a efemeridade da Arte ou com que os
crentes assinalam a sacralidade do princípio. Este é o delírio
que sempre me ronda, o reflexo fiel que nunca parte, o meu
nicho de miséria e grandeza, o estilete com que abro postigos
no breu. Esta é a minha loucura, aquela que defendo com unhas
e dentes, ou seja, a minha lucidez, serena e persistente como na
infância já se me oferecia.

Victor Oliveira Mateus
In: Negro Marfim. Fafe: Labirinto, 2015, p. 31 

6.11.15

Regresso

Andre Kertesz

Esperei que viesses.
E chegaste do lado onde as dunas
acrescentam ao vento os sobressaltos da noite
que trazias escondida nos cabelos.
A linha das águas cabia toda nos teus olhos.
Como se as nascentes da montanha
cobrissem a tua sombra.
Escolhi então a face nómada das sílabas
mais incertas para dizer: palavra a palavra
edifiquei a casa. 
Pelo silêncio a ocupei no teu olhar.

Graça Pires
De Caderno de significados, 2013