Do lado distante das noites, a lua acesa sobre os muros ilumina o rosto daqueles que sempre entenderam o trajecto escolhido pelos pássaros e pelos rios e pelos amigos que nunca voltaram. Os dias foram cerzindo em seu olhar o caminho esquecido das mais antigas dores, onde guardam agora o destino de suas mãos declinadas sobre as estacas. Graça Pires De Uma vara de medir o sol, 2012
Seguro um marcador
lilás para desenhar um barco que agarre a
alvorada em seu instante breve. Como ajustar
aos dedos o rumo da proa quando as mãos
precárias se entregam ao
fascínio das vagas? Há muito que
partiram os caminhantes em busca
delocais desconhecidos deixando para
trás a memória da cal sobre as casas. Há muito que
regressaram os barcos incertos e os homens:
aqueles que abrigavam no olhar o lugar onde
nasceram. Agora todas as noites podemos ouvir a respiração dos navios que costeiam as casas
recém-pintadas como se um regozijo lhes roçasse os
mastros.
Seguimos pela noite indiferentes a todos os ruídos que rebentam o rigor do silêncio. Temos nos punhos a navalha afiada do tempo rasgando diante de nós o túnel da eternidade. Vamos até onde nos leve a sedução da fuga. Queremos avistar o destino das aves que trazem a luz das auroras riscada em suas penas. Graça Pires De Uma vara de medir o sol, 2012