Maria Clarinda
Monótonos se tornam os gestos com que refaço,
grão a grão, o celeiro dos dias, mil vezes ardilosos,
na arca onde se guarda o pão
sem a pressa da fome em ávidas bocas.
Pela janela iluminada vê-se a jarra das mimosas
e o lenço colorido preso à haste do candeeiro.
É o instante em que as sombras dançam
em redor da noite perseguindo as mínimas variações
da luz no amarelo excessivo dos malmequeres
e nas asas das borboletas presas nas traves do tecto.
Graça Pires
De A incidência da luz, 2011