9.4.13

A rasar-nos o olhar




É indecifrável a mancha de pinheiros
o âmago da sombra
quando a efemeridade do crepúsculo
rasga devagar o coração dos prados.
Aos muros de paredes cruas
agarra-se impetuosamente
uma figueira-brava.
Um punhal de jade a rasar-nos o olhar
golpeia o brilho do trevo ou da trama
na sorte que nos cerca
Apetece colher todo o verde das maçãs
para que não apodreçam nas mãos da chuva
que voa junto ao chão.
Só os salteadores de estrada
conhecem o segredo das ervas rasteiras.

Graça Pires
De A incidência da luz, 2011