Na folha branca
rolam como pedras as palavras
do poeta: lisas,
nuas, brancas de tanta luz.
É possível
articular seus versos,
encontrar na
dança das sílabas
o mais
deslumbrado silêncio,
ainda grito,
ainda sangue, ainda pólen.
É possível ir de
sombra em sombra,
pela margem do
vento,
até à branca
clareira do poema.
É possível dizer
seu nome
rasgando na boca
o cantar dos pássaros
no inverno
quando a neve cobre as árvores
de brancura e um
fio de água
lhes escorre
pelas asas brancas, de seda.
Depois quem
poderá adiar este abraço
que o coração reclama?
Graça Pires
In: Um poema para Ramos Rosa. Labirinto, 2008