23.9.13

Um abraço para Ramos Rosa




Na folha branca rolam como pedras as palavras
do poeta: lisas, nuas, brancas de tanta luz.
É possível articular seus versos,
encontrar na dança das sílabas
o mais deslumbrado silêncio,
ainda grito, ainda sangue, ainda pólen.
É possível ir de sombra em sombra,
pela margem do vento,
até à branca clareira do poema.
É possível dizer seu nome
rasgando na boca o cantar dos pássaros
no inverno quando a neve cobre as árvores
de brancura e um fio de água
lhes escorre pelas asas brancas, de seda.

Depois quem poderá adiar este abraço
que o coração reclama?

Graça Pires 
In: Um poema para Ramos Rosa. Labirinto, 2008