19.7.17

No estio da terra

Ricardo Nascimento

De súbito, um submerso silêncio a ocidente das manhãs
entretece o cúmplice coração das searas no estio da terra.
Adivinha-se a quentura das águas através da brisa
que desliza pelos cabelos das crianças, num aconchego
quase tão delicado como o chamamento das mães.
Apetece resgatar alegrias e dar às coisas
nomes de flores, de anjos, de amigos.
Para lá do espaço há uma linha inclinada que não perturba
a curva do sol no recanto mais sensível do horizonte.
Os dias resguardam longamente a luz, e o crepúsculo
até dói no olhar desprevenido dos que esperam da noite
a transparência das sombras.

Graça Pires
In: Solstícios e Equinócios: antologia. Coord. de Emanuel Lomelino. Lisboa: Edições Vieira da Silva, 2016, p. 62

50 comentários:

Diana Fonseca disse...

Um texto maravilhoso.

OQMDNT disse...

Ver ali o nome do Emanuel fez-me lembrar o quanto o mundo é pequeno...

Adorei o poema :)

Cidália Ferreira disse...

Um poema fantástico! Amei

Beijinhos com carinho

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, a foto do Ricardo Nascimento é maravilhosa. está em sintonia com o seu belo texto que assenta na perfeição na bela linha do horizonte.
continuação de boa semana,
AG

AvoGi disse...

Lindo texto...
Esperar pela sombra numa noite de luar
Kis:=}

Aline Goulart disse...

Eis um belíssimo poema.
Gosto muito desse tipo de poema que retrata a beleza da natureza.

Beijinhos.

Laura Ferreira disse...

lindo...

José Carlos Sant Anna disse...

Graça,
Outro belo poema. O que me faz pensar que o encanto da sua dicção é ser tão intensamente lírica e ao mesmo tempo tão completamente ligada aos acontecimentos exteriores. Sua voz lírica, ou filtrada pelo lirismo, à medida que encontra ressonância no sentimento do mundo, faz brotar um poema com esta força, com esta musicalidade, com este ritmo.
Beijos, minha cara amiga!

Victor Barão disse...

Um poema de sonho!

Parabéns

Beijo

Marta Vinhais disse...

E tanto que a linha do horizonte diz....
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Tais Luso de Carvalho disse...

A foto é belíssima, emociona de tão grandiosa! E teu poema, querida Graça, é como um hino à natureza, bem de acordo com a foto. Enfim, a natureza de nada precisa, se mostra por inteiro, reinando sozinha, completa, orgulhosa, e nos impõe respeito.
Beijo.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Graça, gostei muitíssimo do teu poema No estio da terra, do teu livro "Solstícios e Equinócios". Coord. de Emanuel Lomelino. Lisboa: Edições Vieira da Silva, 2016, p. 62, que tem belos versos como estes;

Adivinha-se a quentura das águas através da brisa
que desliza pelos cabelos das crianças, num aconchego
quase tão delicado como o chamamento das mães.


Um beijo. Graça.

Célia disse...

Divino poema no verbal e no extraverbal! Provoca-nos a olhar, a cuidar, a amar a Terra e a Natureza que tanto nos dá e nós, não retornamos na mesma proporção.
Abraço.

Smareis disse...

Poema tão belo Graça. A foto é maravilhosa. Gostei imenso de ler.
Continuação de boa semana!
Abraço!
***Escrevinhados da Vida***

baili disse...

Oh dear!!!
It is magical.
You stimulate my imagery through your powerful and magnificent poetry.
You are wonderful in your portrait of your delicate thoughts and display of supreme imagination

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Magnifico e belo poema muito bem ilustrado por uma fotografia fantástica.
Um abraço e continuação de boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

CÉU disse...

A imagem, O sol, a luz, o verão, a transparência das palavras, que nos aconchegam tanto e tão bem.

Agradeço a sua visita e palavras, Graça. Não sei se dei a entender no meu post, que a Leninha, Helena Medeiros de Albuquerque, de seu nome próprio, blogueira e médica ginecologista, morreu no dia 10 deste mês durante uma intervenção cirúrgica, a 2ª, devido a tumor que tinha no cérebro. Contava 32 anos.

Beijos e boa semana.

Suzete Brainer disse...

A sua poética é surpreendente, Graça!!
Um caminho encantador das palavras na extensão
dos significados, na beleza poética e no
alcance do sentir daqueles que a leem...
Sempre maravilhosa a leitura aqui!
Beijo.

silvioafonso disse...

.


Cara, que coisa linda...
Vale a pena conhecer páginas
iguais as suas.

Um beijo.




.

Cadinho RoCo disse...

Pelo tempo a magia dos instantes e eo aqui te querendo sintonizando a nossa www.hellowebradio.com ... você.Vem!
Cadinho RoCo

Mar Arável disse...

Um beijo apertado

LuísM Castanheira disse...

Apetece passar os dedos entre os cabelos cedidos das manhãs e deixar correr o tempo por entre translúcidas sombras.
Belo e cativante momento de poesia.
Um beijo, minha Amiga.

Marta Moura disse...

Bom fim de semana Graça!

Sinval Santos da Silveira disse...

Oi, Mestra Poetisa, Graça Pires !
Perfeitamente lindo !
Versos que emergem das profundezas
da alma, angustiados para falar.
Parabéns, com o meu carinhoso abraço,
aqui do Brasil !
Sinval.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

palavras delicadas
em que a memória e o presente se tocam
a ternura destilada entre palavras sentidas
a foto de suporte foi muito bem escolhida

bom final de semana.

beijinhos

:)

CÉU disse...

Olá, estimada Graça!

Deduzi que não tinha entendido o conteúdo do meu post como uma homenagem, muito discreta e "genérica", eu sei, a uma amiga, que partiu, muito cedo, daí eu ter voltado ao seu blogue.
Agradeço as suas palavras, de novo.

Beijos e bom fim de semana.

Nadine Granad disse...

Oi, Graça!

Nossa, de tirar o ar!
A vida que os elementos naturais ganham em seus versos, linda!

Beijos! =)

teresa p. disse...

"No estio da terra" um poema cheio de imagens calorosas e afectivas. Um verdadeiro hino à natureza. "Apetece resgatar alegrias e dar às coisas nomes de flores, de anjos, de amigos". Uma maravilha! A foto é magnífica e tem tudo a ver com o poema.
Beijo.

Ana Tapadas disse...

Lindo! A começar pelo fantástico e significante título!

Beijo, querida Graça.

Anónimo disse...

Um bela ilustração a um poema que é uma exaltação à natureza. Escreves divinamente bem Graça. Aplausos.
Abraços

ManuelFL disse...

Este poema da Graça – ilustrado por uma excelente foto - é uma celebração da chegada do Verão: «de súbito um submerso silêncio … adivinha-se a quentura das águas … apetece resgatar alegrias … a curva do sol no recanto mais sensível do horizonte … os dias resguardam longamente a luz».
Em dois textos de Claudio Magris, de Agosto de 2001 e Julho de 2002 , agrupados com o nome A CONJURA CONTRA O VERÃO, e incluídos numa antologia editada em Portugal pela Quetzal, o escritor italiano escreve: “quando penso na incerteza dos anos vindouros […] não me interrogo sobre o que será da minha vida, mas antes o que será dos meus Verões. É como se o Verão fosse a estação e o rosto da vida verdadeira, o clarão do seu significado …”.
O rosto da vida verdadeira, de que fala Magris, está no poema magnífico que a Graça, oferece, generosa, a todos aqueles que amam as suas palavras.
Beijo.

Agostinho disse...

A poeta dá-nos um poema
generosamente estival.
Um fio de ternura desliza al-
to no "ocidente das manhãs" da alma
até aos mais retardatários raios
de luz do horizonte
coalhado de Verão.
E fixam os olhos no deleite
na transparência da sombra.

Bj.

Jaime Portela disse...

Uma narrativa poética que encanta.
O resultado é mais um excelente poema.
Graça, um bom fim de semana.
Beijo.

Marco Luijken disse...

Amazing shot. Wonderful.

Greetings, Marco

Olinda Melo disse...


Um canto à Natureza e aos seus mistérios,
os quais a ciência pretende explicar. Mas, tudo
vem embrulhado num encantamento imenso.
O dia e a noite, o Sol e a Lua. As estações
do ano. Os tons e os sons. Maravilhas a
cada passo. E aqui nos seus versos, Graça,
a expressão dessas maravilhas.

Bj

Olinda

Ana Freire disse...

Mais um maravilhoso trabalho... enaltecendo a paixão pela vida... em cada uma das suas palavras, Graça... plenas de força e emoção...
Para ler e reler... e destacar qualquer dia, lá no meu canto, se me permitir...
Beijinho! Bom domingo!
Ana

Daniel Costa disse...

Graça Pires
Este poema é bem o caso, diria não só apenas um poema poema, mas uma esplêndida imagem poética. Poesia bem conseguida, vemos aqui.
Beijos

Ives disse...

Que linda descrição do calor humano! beijos

tulipa disse...


De súbito...
Graça Pires
muitos parabéns
Belíssima poesia,
bem conseguida

silêncio
coração
brisa
aconchego
alegrias
horizonte
crepúsculo
Palavras básicas para a felicidade!

Obrigada pela partilha.
Boa semana. Beijinho

Marli Terezinha Andrucho Boldori disse...

Boa tarde, querida Graça,
uma imagem que completa as suas palavras em um poema,
que mais parece uma prece à natureza.
Um encontro da quentura das águas com a felicidade das crianças.....
Belíssimo! Beijos!

AC disse...

As suas palavras transportam-nos para patamares onde tudo é possível...
Mais um grande poema, Graça.

Um beijinho :)

Fá menor disse...

E é tudo ouro.

Bjinhos

Maria Rodrigues disse...

Um poema sublime!!!
Beijinhos
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco

Franziska disse...

Es un poeema que auna el sentimiento con la añoranza de la noche que llega y se apodera de nuestra vida, un caminar hacia la noche clara de la esperanza y la plenitud. Me ha gustado. Muy bueno. Parabens y gracias por compartirlo. Un abrazo. Franziska

Arroz Di Leite disse...

Lindo trabalho e muita dedicação.
Bjs

Tânia Camargo

Graça Alves disse...

É muito lindo, Graça!
beijinho e boas férias

Teresa Almeida disse...

E, de súbito, o estio e o encontro no lugar mais sensível do horizonte.
Fascinante, Graça.

Beijinho.

Odete Ferreira disse...

Da contemplação à expressão das mais íntimas sensações, surge um poema quente, com a qualidade literária que já conhecemos.
Um bjinho, Graça

manuela baptista disse...

quando as férias eram grandes e o estio,
terra, mar, areia, vinhas e sandálias de couro

um abraço, Graça

solfirmino disse...

Que lindo, amiga. Chorei aqui e até senti 'dor', querendo nomear "essa linha inclinada que não perturba a curva do sol no recanto mais sensível do horizonte". Adorei mesmo.
Beijos