27.8.18

Mulher com chapéu

Amedeo Modigliani


Não sei há quanto tempo me ardem
os olhos, quando um bando
de pássaros invade o sossego
da paisagem, como se me ofuscasse
a espessura agitada do seu voo.

Comecei a usar um chapéu de abas
largas para iludir o brilho desmedido
que desliza sobre as coisas.

Os meus olhos, é certo, já não têm
a mesma cor que tinham na infância.
Perderam a transparência e o dom
de fitar o sol sem enceguecerem.

Por isso, apenas posso olhar a lua cheia
como fazem os poetas e as bruxas.

Graça Pires
De Fui quase todas as mulheres de Modigliani, 2017, p. 30


47 comentários:

_ Gil António _ disse...

Bom dia: - Apenas uma palavra: MAGISTRAL
.
* Ventanias *
.
Uma semana feliz.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um excelente trabalho poético de que gostei bastante.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

chica disse...

Triste quando olhos já não suportam mais o brilho e luz do sol! Bela poesia! bjs, ótima semana! chica

silvioafonso disse...

Belíssimo, Graça. Belíssimo,
volto a dizer.

Um beijo e parabéns pela obra.


.

Marta Vinhais disse...

Continuam a ver-se as memórias do Sol e do azul do mar...
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Célia disse...

Esse seu "Olhar" pela poesia da vida jamais se cegará! Como nos faz bem, Graça!
Abraço.

carlos perrotti disse...

Perfeito na letra como no espírito seu poema. Eu parabenizo você, Graça. Tem a cadência e nitidez de um Modigliani.

Abraço admirado.

ANNA disse...

Gracias por tu participacion en mi blog
Maravilloso o pino como todas magnifico un 10.
Besos

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, Graça, mais um belo poema de sua lavra, inspirado poema no qual tu demonstras que a melhor visão da poeta está na alma.
Parabéns, minha amiga.
Uma excelente semana.
Beijo
Pedro

Lucinalva disse...

Olá Graça
Lindo poema, bjs querida.

Tais Luso de Carvalho disse...

Ai, minha querida... se eu pudesse ver mais pássaros voando e tivesse meus olhos nebulosos para deixar de ver outras coisas que a vida nos apresenta!
Belo e profundo poema, gostei muito.
Uma feliz semana, beijos!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...


o chapéu que esconde os olhos
e os olhos que escondem
apenas o que querem
ou não ver

nem sempre...quase sempre

beijinho

:)

José Carlos Sant Anna disse...

Gosto, Graça, da estética do "teu olhar" para revelar o espelho da alma, como diria Machado. Na mulher com chapéu, a poeta serve-se do "objeto" para inocular outro modo de ver ou sentir a realidade.
Um beijo, Graça!

Ailime disse...

Boa noite Graça,
Tao belo este poema!
"Comecei a usar um chapéu de abas largas para iludir o brilho desmedido que desliza sobre as coisas", mas que não impede que observe com o coração e poetize com a alma!
Gostei imenso, minha Amiga e enorme Poeta!
Beijinhos e uma boa semana.
(Muito obrigada pelo carinho no meu Sinais).
Ailime

Nadine Granad disse...

Oi, Graça!
Que versos fortes, que imagens lindíssimas!

Olhos sensíveis - sempre!

Beijos! =)

Alfredo Rangel disse...

Graça,

poetas e bruxas conhecem nossos versos como ninguém. Eles nos espreitam e absorvem nossas rimas e sonham nossos sonhos. Parabéns por tua arte, imensa. Grande beijo.

Ana Bailune disse...

Lindo de viver!
Amei. Os poetas e as bruxas têm muito em comum.

lis disse...

Sou bem como tu Graça, Modigliani também me inspira_pena não ter o mesmo talento para criar poemas tão belos quanto a 'mulher de chápeu'.
Mas,tento mirar-te poetinha,e fico a ver a lua cheia entre os prédios que invadem meu céu.
Gostei muito!
abraço

Luísa Fernandes disse...

https://poemasdaminhalma.blogspot.com/
Boa noite Graça!
Poema interessante, eu também costumo usar chapéu de abas largas para proteção da vista. Gostei!
Beijinho

Manuel Luis disse...

Ao ler, voltei ao Bié para resgatar essa transparência.
Agora olho a lua com menos dificuldade mas com poesia.
Vi as mulheres de Modigliani.
Bjs

Mar Arável disse...

Os olhos não mentem
Bjs sempre

Zilani Célia disse...

OI GRAÇA!
SE NOSSOS OLHOS JÁ NÃO NOS PERMITEM VER O SOL COMO O FAZÍAMOS EM CRIANÇA, OLHEMOS PARA A LUA, ELA NÃO CEGA E TEM MUITO BRILHO TAMBÉM.
ADOREI AMIGA.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

A Paixão da Isa disse...

O chapeu que tudo esconde seja o bom seja o mau adorei mais um lindo poema bjs

Franziska disse...

A mi me encantó este poema y los dos últimos versos los comparto plenamente porque ya soy un poco bruja -por mi edad- y un poco poeta por lo que siento.

Un abrazo.

Anete disse...


Poema realista e com grande reflexão...
Os olhos, os chapéus e os brilhos ao nosso redor... Cativar a poesia e o encantamento é preciso...
Abraço e boa terça-feira

Manuel Veiga disse...

o brilho desmedido das coisas é perturbante, tens razão, Graça!
mais vale um filtro que lhes amenize a intensidade

e a serenidade da Lua, senhora de todos os feitiço
gosto muito deste teu livro!...

beijo, minha amiga

espero que continues a distinguir-me com a tua presença e comentários no meu blog

ManuelFL disse...

Os olhos ardem, mas a poeta mantém-nos bem abertos, para que, deslumbrados, partilhemos o brilho desmedido que desliza sobre as coisas.

Beijo.

Catiaho Reflexod'Alma disse...

Graça,
Adorei todo Poema
mas esses versos
me arrebataram:
" Por isso, apenas posso olhar a lua cheia
como fazem os poetas e as bruxas. "
Os Poetas e as Bruxas, para que mais?
Bjins
CatiahoAlc.

Cadinho RoCo disse...

O tempo passa pelo chapée, pelos pássaros e pelos voos que levam-nos a instantes outros.
Cadinho RoCo

Ani Braga disse...

Olá Graça querida


Lindo poema... Gostoso de ler.

Beijos
Ani

Teresa Almeida disse...

E como brilham os teus versos! Que plenitude, Graça!
Beijos.

teresa p. disse...

Os olhos podem já não ter a "mesma cor que tinham na infância" mas vislumbram, com mais lucidez, as coisas que dão brilho e significado à vida.
Beijo.

Teresa Durães disse...

Enquantohouver a lua que reflete a luz do sol, temos toda a magia!

Jaime Portela disse...

Chapéus há muitos... mas por vezes dá imenso jeito usar um...
Parabéns pela excelência do poema. Gostei imenso.
Graça, bom fim de semana.
Beijo.

Graça Alves disse...

Maravilhoso, Graça!
O que uma imagem pode despoletar, a combinar com a mestria de quem a tem!
Beijinho

Toninho disse...

Que os olhos possam sempre se encantarem com brilho da Lua.
Ainda que amanheça nos olhos nublados haverá o encanto,poque sois poeta.
Debaixo da aba do seu chapéu os versos se multiplicam em elegância.
Abraços querida Graça.
Beijo amiga.

baili disse...

outstanding dear Grace!

this so beautiful poetry remind me my childhood and teenage staring to the sun which hurt my eyes and i knew that later after years
i found that brightest object challenging who invited me to peek in his world of gold :)

LuísM Castanheira disse...

é neste estado d'alma, que o corpo se entrega ao tempo, e tempera;
é nessa luz, crua, que desce e tem de ser medida, compassada, ao ritmo dos olhos, que tanto já viram;
é todo o universo preso por uma linha, numa teia da vida;
é, enfim, um poema profundo, num olhar 'azul' sob um chapéu de filtro.
- há sempre um céu, à medida dos sonhos!
muito belo, Graça.
um beijo, minha Amiga

Fá menor disse...

Usar um chapéu de abas largas protege-nos os olhos. Também sinto dificuldade com o brilho das coisas. E sim, à medida que a idade avança, a cor clara dos olhos, que antes se confundia com a sua transparência, passa a ser mais opaca. E isso troca-nos as voltas.
Para trás ficou a inocência.

Gostei muito do poema!

Bom fim-de-semana, amiga!
Beijinhos.

FILOSOFANDO NA VIDA disse...

Querida Graça, que lindo poema! Enquanto a luz do sol brilhar amiga, haverá esperança.
Desejo que este fim de
semana os teus olhos
brilhem com o
resplendor de quem
viu o sonho mais
difícil ser concretizado.
Abraços da amiga Lourdes Duarte.

Sinval Santos da Silveira disse...

Querida Escritora/Poetisa e Mestra, Graça Pires !
O charme da mulher, ostentando um chapéu, por mais
simples que seja, é um momento mágico de sedução.
Lindo, até para se proteger do brilho do sol, ou do
voo dos pássaros...
Parabéns. Mais um belo texto !
Uma ótima semana e um afetuoso abraço, aqui do Brasil.
Sinval.

Emília Pinto disse...

Os olhos são o espelho da alma, mostram com clareza o que nela vai, por mais que os lábios se abram em sorrisos timidos, ou as gargalhadas saiam um pouco forçadas. Podem já não ser os mesmos olhos de outros tempos, podem ter perdido algum do seu brilho, mas continuam a mostrar que, apesar do sol, apesar do céu azul clarinho, apesar da lua cheia acompanhada de estrelas cintilantes, a nossa alma está escura, inquieta, muito triste e sofrida; não queremos que vejam os nossos olhos , que sintam a angústia que nos atormenta, que percebam que naquele dia, para nós o sol não brilha; temos na mão uns óculos escuros, temos também uma lindo chapéu de abas largas...é só escolher...os dois esconderão o nosso olhar, esconderão a inquietude da nossa alma; não uso óculos, não coloco chapéu, mas também não ouso olhar o sol; limito-me a abrir a janela e olhar a lua; a minha alma não quer luz, a minha alma está doída. Quem sabe amanhã ? Ę sempre um novo dia que começa, um dia com toda a certeza, diferente, um dia com mulheres " de chapéu de abas largas ", com mulheres sofridas, mas também mulheres com olhar brilhando de alegria .
Esta que aqui nos apresentas mereceu um belo poema teu, Graça, um poema que quiseste partilhar connosco e que muito agradeço. Adorei, como sempre. Um beijinho e que amanhã o sol ilumine o teu dia.
Emília

teresa dias disse...

Poema de um «brilho desmedido» que um «chapéu de abas largas» não esconde, antes engrandece.
Olhe a poeta o sol ou a lua cheia que achará sempre versos iluminados para nos encantar.
Amei!
Beijo, querida amiga.



Agostinho disse...

Dos poetas e das bruxas diz-se.
Mas quem pode negar o gume da faca?
Nem o chapéu de abas largas impede a perturbação que o brilho exerce, antes a realça o que procura esconder.
Diz-se do poeta e da bruxas da clareza com que lêem olhos. E as mãos.
A Graça fá-lo sem eclipses, com uma facilidade inclível - tem na mão os segredos da palavra.Retira o "cê" da sombra para surgir percetível o brilho do poema - como elípse.
Bj.

Erika Oliveira disse...

Gostei muito dessa imagem e da poesia também. Bom fim de semana.

Majo Dutra disse...

Uma interpretação poética da pintura de Mondigliani
arguta e muito interessante.
Dias inspirados, Amiga.
Abraços
~~~

Ana Freire disse...

Mais um notável momento poético...
A maturidade, talvez nos retire a capacidade de olhar em volta... com as mesmas cores... mas em compensação... começamos a conhecermo-nos bem melhor... cá por dentro...
Beijinho!
Ana