30.3.20

Um surdo alvoroço




Francesca Woodman

Envelhecemos com uma vara
de medir o sol na linha do olhar.
Não entendemos os sinais inscritos
nas margens do abismo.
Nem os bosques onde se abrigam
as sombras e a chuva.
Nem a misteriosa relação dos astros
no lado mais silencioso dos céus.
Um surdo alvoroço ecoa, fúnebre, na paisagem
quando, para além das montanhas, o piar dos pássaros
é tão nítido como o sopro do medo que transtorna
a leve inclinação das planícies.

Graça Pires
De Uma vara de medir o sol, 2018, p. 59

58 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia:- A verdade é que vivemos quase um clima de terror e nada mais ouvimos ou pensamos para além do sentir.... o medo.
.
Votos de uma semana feliz

bea disse...

Tão bonito, Graça. Assim uma coisa de poesia à solta.
Bom dia:)

chica disse...

Linda poesia,Graça. Continuas inspirada sempre!Que bom! Isso nos encanta e é bom aqui estar! beijos, te cuia! Fica bem! chica

Marta Vinhais disse...

E tudo fica diferente....
Lindo....
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Luis Eme disse...

Sim... continuamos a ser muito ignorantes em relação a tudo o que nos cerca.

abraço Graça

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de paz e saúde, querida amiga Graça!
Uma imagem como se estivesse nas trevas... Lembrei-me de um canto:
Indo e vindo, trevas e luz,
Tudo é Graça,
Deus nos conduz...
Só assim consigo serenar em meio às incógnitas reinantes, amiga.
Tenha dias abençoados livres do vírus impiedoso!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Daniel Costa disse...

Graça Pires julgo que já ninguém utilize a vara a medir a inclinação do sol, reporto- me à pré-adolescência: no campo, para determinar a hora do "jantar" ao meio-dia, era vulgar se recorrer a um caniço, por cuja sombra se avaliava. "recordar é viver".
Beijos

Cidália Ferreira disse...

Um poema fantástico que (me) serve de reflexão! Obrigada. Graça Pires!
-
Eu posso...
-
Beijos. Uma excelente semana...Fiquem em casa.

Mar Arável disse...

... entretanto os melros continuam a cantar
e devagar a vida continua
Bj sempre

Maria Emilia B. Teixeira disse...

" Um surdo alvoroço ecoa, fúnebre, na paisagem
quando, para além das montanhas, o piar dos pássaros
é tão nítido como o sopro do medo que transtorna
a leve inclinação das planícies."

Parece o atual momento em que vivemos com o corona vírus, mas o pássaro do poema da sinal de vida quando canta, vamos ter fé apesar do medo e de ver nossos semelhantes serem atingidos por esses que usam o estilingue com um vírus invisível e em sua maioria mortal.
Os pássaros parecem enxergar o que não vemos, pois ainda cantam.
Uma tarde abençoada para você. Beijos.

Lucinalva disse...

Olá Graça
Poema interessante, bjs querida e uma ótima tarde.

Ana Bailune disse...

Lindo e mágico poema!
Adorei a imagem. Ela parece se mover!

LuísM Castanheira disse...

A Poeta, ao escolher e publicar este belo Poema,
traz-nos a incompreensão dos sinais ecoados para la'
das montanhas e da silenciosa aproximação das margens.
Porem, deixa-nos a esperança, um esvoaçar de sonho,
um leve medo que proteja e abra caminhos.
Poderemos envelhecer, sim, mas o Tempo da'-nos a perspectiva e
a doce certeza dum Mundo feito de Beleza.
Ou nao fosse a Poesia, um desabrochar em flor...
Gostei imenso.
Um Beijo< minha Amiga Graça. Bem-hajas!

Regina Graça disse...

O piar do pássaro apagará os nossos medos, sim!
Obrigada pelo poema, o poema sagrado, alimento de cada dia...
Beijinho

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Graça

um poema interessante e muito intenso e com tanta reflexão, que até parece que foi escrito agora nestes momentos angustiantes que atravessamos.

muito actual, muito reflexivo.

Beijinhos

:)

A Paixão da Isa disse...

temos que ter paciencia pois tudo vai passar e vamos todos ser mt felizes mt bonito desejo mta saude feliz semana

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Cuánta relación con estos tiempos que vivimos, cuando la naturaleza nos reclama por el daño a su equilibrio. Un abrazo. Carlos

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Graça,
A Poesia nos auxilia nesse
tempo tão complicado.
Pois pensamos e criamos
e na falta do convívio
vamos registrando nossos
versos, muitas vezes
o fazemos para não enlouquecer.
Lindos versos.
Bjins no desejo que Vc e os Seus estejam bem.
CatiahoAlc.
https://delasdelesouviceversa.blogspot.com/
https://reflexodalma.blogspot.com/
https://fragmentosdeserluaflor.blogspot.com/

Vanessa Casais disse...

Graça adorei.

O medo sempre nos transforma, como agora. Pode ressaltar o melhor de nós, a solidariedade e a empatia, ou pior de nós, como a corrida ao supermercado.

Um beijinho e boa semana,
Vanessa Casais
https://primeirolimao.blogspot.com/

JUAN FUENTES disse...

Tu amas a la cultura

Juvenal Nunes disse...

Toda a vida é um alvoroço de tal ordem que uma antiga descoberta ainda hoje nos assombra.
Saudações poéticas,
Juvenal Nunes

Teresa Almeida disse...

Minha querida,
sinto uma vara a barimbar no olhar e no corpo. É que estamos no auge de um surdo alvoroço e não vemos terra à vista.

Muito belo e oportuno este poema.

Um beijo. :)

solfirmino disse...

Nossa, amiga, bem no nosso momento esse poema,já publicado. Na "linha do meu olhar" não vejo paisagem aqui da minha janela, somente minhas plantas. Não saio há dias e faço exercícios em casa. Só dá para ver o céu, a chuva, o sol em algum momento da manhã; e, quando houver lua, somente depois de meia-noite. Mas ouço bastante os vizinhos.
Não, nunca entendemos os sinais, nunca aprendemos com os erros passados. Resta esperar...
Beijo, querida.

carlos perrotti disse...

O poeta confronta o medo com versos e metáforas iluminados e inspiradores ... Outro grande poema, Graça, para esses tempos tristes.

Abraço sempre admirado.

Isa Sá disse...

Bonito poema!

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

R's Rue disse...

Beautiful.

ManuelFL disse...

Sirvo-me das palavras de Goethe para comentar este belo poema da Graça:

«Cerra os olhos, espeta as orelhas e, do mais suave som ao mais selvático barulho, do mais simples tom à mais elevada harmonia, do grito mais violento e apaixonado às mais gentis palavras da doce razão, é a Natureza que fala, revelando o seu ser, o seu poder, a sua vida e a sua afinidade, para que uma pessoa cega, a quem é negado o mundo infinitamente visível, possa captar a infinita vitalidade daquilo que pode ser ouvido.»

manuela barroso disse...

A belíssima fotografia que escolheste , transporta- nos para o medo do abismo que presentemente nos assola
A Natureza que tanto amo , este Eu Poético faz com que a veja mais receosa pois em vez da Luz vejo sombras . Em vez das aves canoras , ouço o guincho e o esvoaçar torto dos morcegos ...
E tanto , tanto me trazes para reflectir !
Quão bela é a tua poesia , minha doce amiga !
Teabraço 🌷

Mirtes Stolze. disse...

Boa tarde querida amiga Graça
Seu poema reflete muito o quê estamos a passar. Lhe desejo de coração quê você e toda a sua família saiam vitoriosos dessa guerra, onde o inimigo ataca sem nem ao menos pordernos vermos. Mas vamos confiar e não nos entregarmos ao medo. Por maior que seja a escuridão, o sol voltará a brilhar. Forte abraço. 💚⚘💥

João Santana Pinto disse...

Penso que a Graça não consegue escrever nada que fique abaixo do extraordinário…

Parece-me um poema diferente, sem aqueles seus fundamentos (que tanto gosto) com suporte no elemento mar.

Um poema que nos aproxima de um fim, talvez, como alguém diz acima, um poema sagrado…

Um beijo e boa semana

Ailime disse...

Boa noite Graça,
Muito belo este poema que dá título ao seu maravilhoso livro "Uma Vara de Medir o Sol"!
Na verdade, não temos visto os sinais e tantos têm sido como prenúncio de algo como o que agora grassa entre nós.
Que durante estes tempos tão difíceis saibamos enxergar com o olhar bem atento tirando as devidas lições que possam alterar os nossos comportamentos, para encararmos o mundo com uma visão mais transparente.
Um beijinho, minha Amiga e Enorme Poeta.
Votos de boa saúde para si e todos os seus.
Ailime

silvioafonso disse...

.


Graça, toda vez que leio seus versos
me sinto mais próximo dos poetas e mais
distante das minhas poesias, se as soubesse
fazer. Como, meu Deus, essa mulher pode ir
tão fundo na alma da gente pra dizer o
que nos emociona e encanta? E que jogo
bonito das palavras na composição dos
sentidos.
Um beijo virtual e boa tarde.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, Graça!

Uma maravilha o poema (Um surdo alvoroço)! Nele está expresso a sensibilidade e o talento da Poeta. Já está dito, pois, querida amida, que gostei muito deste seu belo poema. Parabéns!

Votos de uma boa semana, com os cuidados com a saúde, Graça.

Um beijo.

Pedro

anamar disse...

As palavras fluem ao sabor do tempo que vivemos . Os poetas,melhor do que ninguem usam a paleta ortografica para o definir.
Beijo amigo,
Ana

Ana Freire disse...

Maravilhosa inspiração... que me remeteu para os tempos de agora... estranhos... impensáveis... e para os quais... já havia tantos sinais... mas que a humanidade, foi sempre preferindo ignorar...
Excelência, como sempre, ao mais alto nível, por aqui, Graça! Gostei imenso!
Beijinhos! Uma semana, o melhor possível, dadas as circunstâncias!
Ana

José Carlos Sant Anna disse...

Em nós é que tudo existe e não se extingue jamais.
Este poema aviva o drama que vivemos, traduz metaforicamente o medo que nos acomete e a chama vacilante da vida que nos escapa por entre os dedos.
A vara de medir o sol talvez não nos dê conta do sentimento de medo em cada um de nós.
Só uma antena da raça poderia pintar um retrato tão duro da realidade e tão poético ao mesmo tempo. Malgré tout, um belíssimo poema!

E cuide-se, e aos seus!
Beijos, minha amiga!

Teresa Durães disse...

Morremos e deixamos a natureza respirar

Alice Alquimia disse...

Um encanto de escrita.

Jaime Portela disse...

Quem assim escreve é poeta. E dos grandes.
Excelente poema, os meus aplausos.
Graça, continuação de boa semana.
Beijo.

Olinda Melo disse...


Um poema quase premonitório dos tempos que estamos a viver.
Se a natureza continua viçosa, os passarinhos a chilrear num
louvor à Primavera, nos nossos corações começamos a ver a
cor do abismo.

Vacilar ou não está nas nossas mãos. Enquanto depender de
nós, que o canto e a alegria sejam o nosso suporte diário.
E o olhar de compaixão e entreajuda naquilo que estiver
nas nossas possibilidades e nos for permitido pelas
contingências dos dias que estamos a viver.

Sempre a admirá-la, minha amiga Graça.

Beijos

Olinda

baili disse...


what a gift you have dear Grace

i don't know if someone else has such mastery over expressions ,how magnificently you painted the whole scenario we are experiencing as life
thoughts fit to chosen words as perfectly seems beyond perfection
image is utterly mature and goes with poetry to all measures
i am so happy to have you as my friend!
stay blessed and well !

Toninho disse...

Que imagem maravilhosa Graça!
De um livro que adorei ler e releio.
Um poema magico Graça no infinito de nosso medo,
um sopro a medir nossa inquietação com a vara do tempo.
Maravilhoso ler suas poesias encantadas.
Cuidar e cuidar amiga.
Beijo

Fá menor disse...

Muito bom!

Não sabemos nada, mas achamos que temos muito conhecimento, e olhamos tantas vezes desconfiados para os outros e o mundo.

Proteja-se!
Beijinhos.

teresa p. disse...

Este magnífico poema retrata o tempo incomum e dramático que se vive atualmente.
"...o piar dos pássaros é tão nítido como o sopro do medo que transtorna a leve inclinação das planícies."
A foto é maravilhosa.
Beijo.

tulipa disse...


Envelhecemos
sim, essa é a realidade
por isso ainda mais me custa
estar aqui "parada" e o tempo a passar!

Apetecia-me hoje um bosque mágico, onde pudesse
andar sem me cruzar com ninguém
Onde as sombras seriam minhas companheiras!

Lindo poema
Obrigada pela partilha
e muito obrigada pela sua presença nos meus blogues

Quando quiser
(porque segundo dizem agora há tempo para tudo)
aqui vão alguns links meus
https://meusmomentosimples.blogspot.com/  

https://orientevsocidente.blogspot.com/  

Bom fim de semana.
Beijinho da Tulipa 

Gabriel disse...

Intrigante poesia, gostei.

"Não entendemos os sinais inscritos
nas margens do abismo."
Acredito que soubéssemos o que viria adiante, jamais aprenderíamos a seguir em frente, ou pior, deixaríamos de nós encantar.

Desejo um ótimo final de semana.

AC disse...

Poema escrito em 2018, mas onde se "adivinha" o cenário actual. Afinal a Graça sabe ler os sinais...

Um beijinho, Graça :)

Emília Pinto disse...

Parece um surdo alvoroço, porque é o nosso interior que sente um tamanho alvoroço,
Com o medo que sentimos a cada noticia dada: ninguém ouve esse alvoroço por mais ruido que ele faça dentro de nós. Parámos, finalmente e finalmente a natureza respira de alivio; foi preciso um ser minusculo, imvisivel, dar a ordem e nós embora contrariados, obedecemos; ficamos em casa, deixamos de consumir em exagero, deixamos de desperdiçar e de poluir. Vamos resistir a tudo isto e despois? Creio que seremos pessoas melhores. Tentemos, pelo menos! Graça, um poema, como sempre, maravilhoso e que serve de alento nestes momentos dificeis; consegue acalmar o alvoroço em que todos nos encontramos; uma alvoroço silencioso, para não atrapalhar o alvoroço daqueles que estão connosco em clausura. Obrigada, querida Amigae espero que estejam todos bem. Um beijinho e boa noite
Emilia

neyborba disse...

Um poema lindo e mais bela é a pintura dele que você faz com as palavras.
Beijão no coração.

Agostinho disse...

Agora,
sabemos a morfologia do lado obscuro da Lua
"The Dark side of the moon"
tão bem cartografada no chão do Poema.
Nestes dias vivemos na certeza da incerteza:
veremos a luz que há-de pulverizar o medo?
De passos tolhidos desesperamos
na dúvida dos dias a acontecer

Cara Amiga, encenou magistralmente neste Poema, com uma densidade dramática intensa, a impensável incerteza que nos estava reservada.
Desejo-lhe a si e aos seus a maior riqueza que se pode desejar - a saúde.
Beijo.

tb disse...

Magnífico como toda a tua escrita, minha querida amiga.
Parece que adivinhavas...
Beijo doce.

Parapeito disse...

Doce Graça, sempre bom chegar aqui
e de novo ler as suas palavras, sempre tão cheias de tanto.
Deixo um abraço e o desejo que desse lado sejam leves e doces as brisas *****

Anete disse...

É, o seu poema combina sim com as perplexidades do tempo presente... Indefinições e anelos profundos...
Boa semana... Meu abraço...

Vanessa Casais disse...

Adoro lê-la. É sempre tão bom visitar esta página.

Boa semana Graça com muita saúde!
Vanessa Casais
https://primeirolimao.blogspot.com/

Majo Dutra disse...

Muito belo, este poema é uma ótima escolha para estes dias
sobressaltados e temerosos.
Beijinhos, Amiga Graça.
~~~~

teresa dias disse...

"...o piar dos pássaros
é tão nítido como o sopro do medo que transtorna"
Sente-se a inquietação neste teu poema, minha amiga.
Nestes dias de uma tristura sem fim, é bom ler-te.
Ontem, domingo, reli as 11 cartas de Marta para Maria. Uma fascinação!
Beijo, Graça. Por favor protege-te.

Micaela Santos disse...

É verdade! Envelhecemos e pouco ou nada percebemos!
Os sinais são difíceis de interpretar e só revelam meias verdades!
Creio que um dia tudo será revelado!

Beijinho e muita saúde!

Sinval Santos da Silveira disse...

Mestra, Escritora / Poetisa, Graça Pires !
A sutileza desta Poesia, ao descrever a passagem
pela vida, só pode ser comparada ao imperceptível
desnível da Planície, como bem observas no texto.
Parabéns, Amiga !
Uma ótima semana e um carinhoso abraço, aqui do
Brasil !
Sinval.