12.10.20

Habitava aquele sítio por engano

                                                                 Richard Misrach 

Habitava aquele sítio por engano. 
Não era ali o lugar que procurara para viver. 
O que o fascinava era o deserto: 
a boca viciada pela sede, 
o vento ardido no olhar, 
a seiva dos cactos infiltrada nas veias. 
E, à distância da mão, a linha curva 
do poente a incendiar-se de estrelas. 
Em momentos da mais magoada solidão, 
saem de seus olhos tempestades de areia. 
Como se fosse um pranto. 

Graça Pires 
De A solidão é como o vento, 2020, p. 35

61 comentários:

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Excelente trabalho poético.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

AC disse...

Graça,
Acho este poema uma pequena maravilha.
Gratíssimo.

brancas nuvens negras disse...

Gostei muito. É um poema de alguém que fala da sua condição de vivente causticado pela vida.
Muito Obrigado.
Muita saúde e boa semana.

As Mulheres 4estacoes disse...

Olá, Graça!

A solidão pode ser bem doída,mas ainda assim, tem aqueles que preferem viver o deserto das ausências a viver determinadas emoções.

Lindo poema!

Um abraço

alberto bertow marabello disse...

La natura, anche la più estrema, se ti entra dentro, non esce più.
Bellissima poesia, amica
Uma boa semana

Lucinalva disse...

Bom dia, Graça
Poema lindo, um forte abraço.

A.S. disse...

Um maravilhoso poema, de fino recorte poético!
Gostei muito minha Amiga Graça Pires.
Votos de uma boa semana.

Beijo.

Rajani Rehana disse...

Fabulous blog

São disse...

Muitissimo bom, este teu poema!!

Beijinho, Amiga, excelente semana

neyborba disse...

Belíssimo! Como se chorasse a saudade da solitude.
Abraço e boa semana.

Luísa Fernandes disse...

Olá Graça!
Um poema fascinante. Gostei imenso.
Beijinhos de paz e saude.
Luisa Fernandes

LuísM Castanheira disse...

Como até os desertos podem ser belos
na tua mão...
E nos olhos as tempestades magoada da
solidão. Tão profundo...(como sempre).
Um beijo, queria Amiga Graça.
Saúde e semana feliz.

" R y k @ r d o " disse...

Poema muito interessante de ... bonito
.
Saudações poéticas

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde de muita paz, querida amiga Graça!
Você infiltra-se na imagem e extrai o melhor sumo do que contempla.
Parabéns, amiga!
Gostei dos olhos lacrimejando tempestades de areia...
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Cidália Ferreira disse...

Poema e imagem muito interessante! :)
-
Flores que sublimam o olhar
-
Beijos e uma excelente semana.

A Paixão da Isa disse...

lindo poema e essa foto diz o que nele escreves adorei bjs tudo de bom saude

bea disse...

"em momentos da mais magoada solidão,/ saem de seus olhos tempestades de areia./Como se fosse um pranto." Disse em três versos as solidões irresolúveis. Gostei muito do poema.
Boa semana, Graça.

Teresa Durães disse...

Estes últimos poemas têm sido de uma tristeza e falta de crença no ser humano. Também não creio e partilho a tristeza no que nos tornámos Resta-nos a esperança que haja um punhado que façam a diferença antes que seja tarde demais. Mas tarde demais estamos porque vence o dinheiro e os glaciares irão descongelar e a próxima guerra será pela água. A estupidez humana é tão grande que os nossos filhos e netos terão um futuro duvidoso, eu que lutei por eles. Usaremos máscaras até à próxima doença, o mundo não será igual, os glaciares derretem e os países ditos do 1º mundo não querem saber, teremos a subida do mar, o clima travesso e não é por mim, tenho cinquenta anos, vivi mais do esperado das antigas civilizações, mas os meus filhos não encontram esse deserto, porque num deserto popula vida e será negada a todos quando o mar subir. ninguém está preocupado a não ser meia dúzia, meia dúzia que terá razão. E brincamos à Economia e esqueço o essencial. Os Deuses eliminam, a natureza vingar-se-á do que fazemos e no fim o melhor que poderá acontecer é extermínio do Homem, dos meus filhos e dos outros. Estragámos tudo na ganância, perdemos os desertos, perdemos as florestas, perdemos o sentido e os poetas e escritores, cientistas e filósofos chamam a atenção, ninguém nos ouve. Aminha filha esteve perto de um caso de covid, espero que tudo corra bem, maldita pandemia

Fá menor disse...

Belo jogo de palavras, como sempre.
Há quem não aprecie a solidão, mas ela é interioridade e tem o seu quê de sublime e gratificante.

Boa semana, amiga Graça!
Beijos.

Os olhares da Gracinha! disse...

A solidão pode provocar essa sensação!
Gosto do poema 👏👏👏👏👏

Juvenal Nunes disse...

Falar de solidão é falar de isolamento e o deserto complementa muito bem essa ideia.
Parabéns por mais um poema muito bem conseguido.
Abraço poético.
Juvenal Nunes

Majo Dutra disse...

Há pessoas assim -- completamente apaixonadas pelo deserto.

Saramago mum dos seus Cadernos de Lanzarote, afirmou que não percebia como se tinha afeiçoado àquela paisagem lunar...

Belíssimo texto poético!

Beijinho, estimada Poeta.
~~~~~

Sinval Santos da Silveira disse...

Mestra / Poetisa, Graça Pires !
Ao ler este Poema, deu-me a impressão
de que o deserto o ditava para ti,
tamanha a fidelidade da inspiração.
Parabéns, uma ótima semana e um especial
abraço, aqui do Brasil !
Sinval.

JUAN FUENTES disse...

Amiga poeta,tu continua continua con tu cariño hacia la literatura.

Luiz Gomes disse...

Boa noite minha querida amiga Graça. Sítio poético e muito especial. Mesmo no deserto, Deus nunca nos deixa só.

minhas pinturas disse...

Querida Amiga Graça: Foi como ler um livro, onde toda uma historia se revelou. A pobreza, não ter infância, solidão.
Lindo poema Graça, onde toda a sua sensibilidade veio a tona.
Beijinhos, muita saúde e paz.
Léah

Siby disse...


Felicidades por tan hermoso
poema que nos regalas, un
placer visitarte.

Besitos dulces
Siby

carlos perrotti disse...

Só a visõe do poeta não está deserta, só a voz do poeta descreve a verdadeira natureza... os seus versos cheios de mistério são sempre inspiradores, Graça.

Abraço imenso.

Isa Sá disse...

A passar por cá para conhecer mais um bonito poema.

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

João Santana Pinto disse...

Um dos espaços mais belos da blogosfera.

Tentei encontrar um e-mail seu e na impossibilidade deixo aqui o pedido. Gostava de tentar escrever um texto na minha rubrica de "palavras paralelas" no qual, tendo por base palavras/excertos seus, acabo por criar um conto meu e deixo os links nas frases retiradas, ficando igualmente claro terem sido retiradas do seu blogue. Mas não o vou fazer sem a sua autorização...

Deixo um beijo

Marta Vinhais disse...

A solidão pode ser um deserto... e não é realmente um bom local para se morar...
Mas, um dia, pode chover e florir...
Como sempre, brilhante....
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Rajani Rehana disse...

Fabulous blog

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Não era aquele lugar que procurava para viver, mas encontrava nele toda a mística do deserto que mitiga a sede e provoca no olhar a saciedade da contemplação.
Um poema muito belo!
Um beijinho minha Amiga e Enorme Poeta.
Continuação de boa semana.
Ailime

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Me encanta esa figura de cierre de los ojos llorando tormenta de arena. La nostalgia de su desierto. Un abrazo. Carlos

solfirmino disse...

Nossa, meu coração até pulou do peito agora. Esse é um dos meus preferidos. Só não digo que é o absoluto, pois quando leio outros, também acho que seja o que estou lendo. Mas já fiz uma postagem com esse poema assim que li o livro...

Um beijo

Minhas Pinturas disse...

Querida Graça, A saudade das raízes, deixa espaço para sofrimento, solidão, e uma busca constante do que se idealizou como perfeito.
Tocante e maravilhoso poema.
Beijinhos, saúde.
Léah

baili disse...

Oh that made my eyes teary dear Grace

you have powerful way to paint your more than real expressions my wonderful amazing friend

desert are fascinating ,thirst may be is their them but "longing" for rain does not display itself exclusively
it symbolize the purity of promise that desert keeps with water somehow
beyond beautiful dear friend !
congratulations for such amazing blog !
hugs!

© Fanny Costa disse...

"Em momentos da mais magoada solidão,
saem de seus olhos tempestades de areia.
Como se fosse um pranto."

Adorei, Graça ! Que encanto!
Um beijinho

ManuelFL disse...

Neste poema sobre a solidão, a Graça invoca palavras como engano, deserto, sede, mágoa, seiva, vento.

À medida que lemos o poema uma tempestade varre as nossas emoções mais íntimas. Como se fosse um pranto.

Beijo,

Olinda Melo disse...


A morada que nos calha seja dos afectos
seja espaço físico, nem sempre é aquela
que corresponderia à nossa medida das
coisas. Deserto de amor, deserto de
emoções e a vida vai acontecendo no
pêndulo que cadencia o passar do tempo.

Belo poema, querida Graça. Sempre a
remexer em nós com a sua peculiar
forma de ver o mundo...e de escrever.

Beijinhos

Olinda

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Amiga Graça

nem sempre estamos no lugar certo â hora certa
mas, achei este poema de uma beleza crua e bela
a solidão, a sede e a areia nos olhos
tudo com uma mensagem muito avassaladora

beijinhos
:)

Ulisses de Carvalho disse...

dos poemas que li até agora, extraídos do teu livro mais recente, esse talvez tenha sido o que mais gostei. e apesar de a solidão nunca ser magoada para mim, senti identificação com o tema e com a imagem que o poema faz brotar na mente, como essa compartilhada por ti para ilustrar, que é linda. um beijo, Graça.

manuela barroso disse...

Não foi por acaso que deste o título a este teu último livro “ A Solidão é como o Vento” .nele contrapões as histórias, quase sempre baseadas no quotidiano e onde a fragilidade da rotina as poderias tornar banais sejam ou não de solidão. Há ventos que muitas vezes alteram solidões
Mas tens o património de nos encantares com a beleza das palavras ( quotidianas) e lançá- las num deserto para se transformarem em algo que parece uma miragem .
Além da beleza do poema, Graça , o teu perfeccionismo completa- se com imagens lindíssimas , dentro da mesma mensagem e a que muitas vezes não refiro( desculpa- me) porque entro, absorvo o poema e saio com ele ainda nos dedos .
Um abraço para ti 🌿
🍃
Muitos Parabéns pelo teu novíssimo Canal no YouTube, - Arte _ Facto , onde com a Ana e o Pedro , se faz a diferença . Uma Curta Metragem do Pedro verdadeiramente excepcional , o Vídeo maravilhoso da Ana com a tua poesia ...de sonho . Muitos e muitos e muitas Visualizações 👏👏👏👏👏👏👏

Alice Alquimia disse...

Ler você é quase como fazer uma prece.

Toninho disse...

Ali onde tudo parece estranho e agreste.Ali que o vento cantava sobre suas dores e desilusões. Ali diante do adverso, ali era seu dourado berço.
Beleza de poética Graça querida poetisa.
Bjs e esteja bem.

Anete disse...

Um sentir forte e corajoso. Palavras que revelam a dureza e aspereza da existência. Mas, mesmo assim, há beleza e contentamento no percurso do viver...
Belo poema!
Meu carinho de hoje...

Mar Arável disse...

... e assim inscreveste uma flor no deserto
Excelente
Bj

Jaime Portela disse...

Um poema soberbo, que termina como só os mestres o sabem fazer.
Muito talento, é no que dá...
Continuação de boa semana, querida amiga Graça.
Beijo.

Mirtes Stolze. disse...

Boa noite Graça
Um poema bem sensível. A solidão machuca muito. Nesta época de isolamento mesmo com minha filha ao meu lado as vezes bate a solidão, e também muita saudade das crianças. Feliz fds. Beijos.

Ana Freire disse...

Um poema notável, Graça... para mais numa fase como esta, em que, muitos de nós à sua maneira, sentem estar a fazer uma verdadeira travessia no deserto... num mundo que ultimamente, não se tem deixado reconhecer...
Adorei cada palavra! Beijinho! Bom fim de semana!
Ana

Mariazita disse...

Olá, Graça
Com este esquema de férias divididas por dois meses - Agosto e Setembro - acabei por ficar um pouco baralhada com as visitas aos blogs amigos, e penso que estou em falta para consigo...😢
Peço que perdoe a minha ausência tão prolongada...

Gostei imenso deste seu poema, em parte, talvez, porque me diz muito.
Às vezes a solidão pesa tanto! E dói! É preciso um esforço muito grande para a afastar e pôr de parte os pensamentos que nos arrastam para tempos idos...

Desejo-lhe dias com muita saúde - primordial nos tempos que vivemos.

Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS




Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, Graça, gostei imensamente desse teu belo poema, que me levou a mais de uma leitura.
Parabéns, um bom domingo com saúde.
beijo.

Marli Terezinha Andrucho Boldori disse...

Boa noite, Graça, parece-me que todos estamos vivendo em um lugar, que não nos pertence, e às vezes até desejamos voltar à solidão da alma, comparando-nos ao deserto, o momento é propício para estes versos que foram tão bem escolhidos.
Gostei muito. Grande abraço!

saudade disse...

Um excelente poema, adorei ler.
Boa semana
Beijo

Emília Pinto disse...

A vida brinda-nos com momentos de grande alegria, de contentamento de tão grandes maravilhas que nos apetece dizer " valeu a pena ter amanhecido, mas também nos dá o outro lado, o sofrimento, as inquietações, dores tamanhas que dizemos...mais valia não ter nascido e sabemos, querida Amiga, que há muita gente que sofre muito, que nunca vê a vida a sorrir; parece que foram fadados ao infortúnio. A solidão é boa quando desejada, por uma tarde, por um ou dois dias, periodo que aproveitamos para conversar com o nosso eu, reflectindo no que temos feito até aqui e como tencionamos continuar a caminhada; faz-nos bem este " retiro " espiritual....aquieta-nos, mas, a solidão imposta pela vida é terrivel, ou melhor, deve ser, pois, felizmente não a senti ainda; imagino-a pesada, doída, dificil de carregar dia após dia, mas, penso sempre que o melhor é estarmos prepardos porque, de um momento para o outro tudo muda. Mas, agora, Amiga, vou falar de um nomento que vivi há poucos minutos, um momento de grande alegria que me fez pensar que, nestes tempos atribulados, momentos destes animam-nos. Obrigada Graça por esse instante em que ouvi, no youtube, a tua voz doce a declamar um dos teus belos poemas; ouvi vários, alguns já conhecidos , lidos aqui no teu cantinho. Parabéns, Graça! Gostei muito. Espero que estejam todos bem de saúde, pois Portugal está a atravessar um momento muito dificil que requer muitos cuidados de todos nós. Um beijinho carregadinho de amizade
Emilia

Teresa Almeida disse...

O deserto parece uma alucinação. Nele extraíste um poema de fascínio e solidão. E dos mais apreciados.

Apetece escrever nas areias sem fim.

Parabéns, minha amiga Graça.

Um beijo.

Agostinho disse...

Mais um poema de superior recorte.
Primeiro sede, depois sede e mais:
a sede até à ânsia verde

Agitam-se então os troncos
expostos nús e,

para os imobilizar, lançam
a areia seca e aumenta
a solidão das carcaças

até à última gota

Desejo que uma "asa" a proteja, Amiga Graça Pires. Beijo.

manuela baptista disse...

Pergunto-me se ele também sonharia com oásis

e um poço cheio de água fresca, para lhe matar a seda e refrescar os olhos de areia que pareciam pranto.

Bonito, Graça!

José Carlos Sant Anna disse...

Este é o mais belo deserto que conheci, quase colhi uma flor de surpresa, com tamanho lirismo, que emana de cada verso. Muito bela a linguagem.
Um beijo grande, minha amiga!

Alfredo Rangel disse...

Quando me ataca a solidão e as palavras que ouço podem me resgatar, corro até este sítio onde sei que encontrarei a beleza das palavras... Obrigado, Graça...

baili disse...

poignant and exquisite poem dear Grace

it has might to make one fee the lone moment within desert filled with despair and grief indeed !

i am completely lost in the magic your words created my friend !

the storm rising from eyes seemed like calming rain that will vanish the heat and thirst though :)
hugs