16.1.23

Ajoelho-me na terra

Katia Chausheva 

Ajoelho-me na terra, vulnerável e insubmissa. 
Perto do chão há gritos aferrados à vida e à morte. 
Há partos e perdas dolorosas. 
Há o urgente fôlego de cada nascente junto às pedras 
com nervuras de erosão e luz 
a depurar o reflexo da água. 
Há flores e bichos. 
Há raízes de árvores e de plantas e musgo 
e alfazema e cardos e fenos. 
Há campos repousando do cansaço da terra. 
Perto do chão onde me ajoelho, 
há o reino subterrâneo da noite 
em conflito tenso com o dia, 
numa dialéctica posta à prova por olhares videntes. 

Graça Pires 
De Antígona passou por aqui, 2021, p. 27

58 comentários:

chica disse...

Tanto há nesse ato de ajoelhar-se na terra!
Linda poesia e instigante imagem! Linda nova semana! beijos, chica

A Paixão da Isa disse...

muito bonito como sempre é tao bom ler bjs feliz semana saude

brancas nuvens negras disse...

Há sofrimento, para muitos, nos dias de hoje. Também é missão do poeta deixar testemunho da tragédia.
Um abraço.

" R y k @ r d o " disse...

Poema intenso, profundo, poderoso, lindo de ler.
.
Saudações poéticas.
.
Poema: “”Pedaços que dividem o coração ””…
.

fatimawines disse...

Olá, Graça!

Excelente!
Santo Agostinho disse:- Deus apenas permite o mal, se puder retirar dele um bem superior.
Para o ser humano, a questão do mal e do sofrimento é um grande mistério, no entanto, podemos nos aperceber que através das provas e das nossas dores, crescer no amor. Tudo depende do modo como encaramos o sofrimento.
Este seu poema , deixa-nos a pensar.

Jaime Portela disse...

No chão há de tudo...
Excelente poema, como sempre. Os meus aplausos.
Boa semana, amiga Graça.
Um beijo.

Roselia Bezerra disse...

Há flores e bichos.

Há raízes de árvores e de plantas e musgo

e alfazemas e fenos.

há campos repousando do cansaço da terra.

Boa tarde de paz, querida amiga Graça!
Saboreio cada verso e encontro sempre belezas ímpares.
Tenha uma nova semana abençoada!
As fotos ilustrativas são muito boas e significativas.
Beijinhos

Marta Vinhais disse...

Há dor e paixão... Há desespero e esperança... Há quem desista e quem procure sempre a luz...
Brilhante...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Regina Graça disse...

Belíssimo poema!
Sintamos a terra, o ventre de onde vimos e para o qual havemos de regressar.

Beijinhos

ManuelFL disse...

Primeiro perturba-nos a imagem, da autoria de Katia Chausheva.

O coração bate-nos mais depressa, quando começamos a ler o poema da Graça:

Ajoelho-me na terra, vulnerável e insubmissa.
há o reino subterrâneo da noite
em conflito tenso com o dia,
numa dialéctica posta à prova por olhares videntes.

A beleza deste poema contém em si próprio uma insubmissão, que nos desafia e nos comove.

Que maravilha, Graça

Beijos

São disse...

Permito-me subscrever o comentário de ManuelFL, pois transmite exactamente o que penso.



Amiga, beijinho e excelente semana para ti

Mário Margaride disse...

Belíssimo poema, amiga Graça!
De facto, o ambiente que nos rodeia é cruel.
Sabe a fel e cheira a mofo.
Gostei muito. Parabéns!
Votos de uma excelente semana, com muita saúde.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

teresadias disse...

“Perto do chão onde me ajoelho, há o reino subterrâneo da noite em conflito tenso com o dia”
Um poema/denúncia, um grito forte e intenso de indignação e revolta. Para ler e reler.
Gostei muitíssimo, minha querida amiga Graça.
Beijo, boa semana, protege-te bem do frio e do vento.

carlos perrotti disse...

Profundos versos que tu sensible mirada nos para que paladeemos tu poética... Me lo llevo en la memoria, amiga. Magistral una vez más.

Abrazo agradecido, Poeta, con el placer de siempre de leerla.

Marina Filgueira disse...

Es un poema profundo y bello transmite un gran sentimiento y una gran sensibilidad.
ha sido muy placentero leerlo, gracias por saber escoger lo mejor para una mirada detenida.

Te dejo besitos, mi gratitud y bendiciones.
Se muy, muy feliz.

Cidália Ferreira disse...

Que poema tão bonito. Obrigada pela partilha!
.
Coisas de uma Vida
.
Beijos. Uma excelente semana.

Caderrno de San disse...

Ajoelhar-me-ia, se necessário, minha amiga Graça.
Mas fiquei contrito ao ler o seu poema. Contrito como se fosse uma oração (não tenho certeza de que não o é, ouso afirmá-lo que sim), e que bela oração com a força de transformar o olhar diante da vitalidade e da mortificação.
Como é bom saber que a sua poética está sempre ao nosso alcance, minha amiga!
Beijo, minha amiga e boa semana!

Ailime disse...

Boa noite Graça,
Um poema muito belo que nos transmite os sentimentos profundos e sensíveis da Poeta em que, como numa prece, nos coloca perante os conflitos entre o bem e o mal, a luz e a noite, o sofrimento e a esperança.
Um poema brilhante com o seu cunho muito pessoal.
Parabéns, minha Amiga e Enorme Poeta!
Beijinhos e uma boa semana.
Ailime

José Ramón disse...

Es un placer pasar por sus blog, hermoso poema Saludos

Rogério G.V. Pereira disse...

Para além do lido
para além do dito
sobra
por dizer
o sentimento
do profundo respeito pela natureza
quando se ajoelha

Beijo

J.P. Alexander disse...

Hermoso y perfundo poema que nos hace reflexionar. Te mando un beso. .

solfirmino disse...

Esse ainda é meu livro de cabeceira...
Amiga, o conflito do poeta, o conflito do ser humano, o conflito de todas as eras será sempre a dialética entre vida e morte? São muitas, mas parece ser esta a principal.
Um beijinho e ótima semana

Isa Sá disse...

Mais um bonito poema que vim cá conhecer.
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Os olhares da Gracinha! disse...

Um belo ajoelhar poético sobre a natureza...👏👏👏... Adoro o olhar! Bj

Anete disse...

Ajoelhar é um gesto de quebrantamento e clamor. Um poema lindo e radiantemente reflexivo.
O meu abraço nesta boa terça-feira, Graça.

milesaheadeducation disse...

Amazing writting. You know how to write what you feel and the way of your writting is truly exceptional. Great work.

Lucinalva disse...

Bom dia, Graça
Poema reflexivo, um forte abraço.

manuela barroso disse...

Chão: lugar onde se dão tantas metamorfoses de beleza e vida mas também de partos tantas vezes com tanta dor. É tantas vezes para ti um sitio donde arrancas as mais belas insinuações onde embarcamos gostosamente contigo.
Belo, querida Graça
Um abraço

Ana Freire disse...

Se todos estivéssemos preparados para olhar o chão, e extrair dele mais lições de vida, do que pensarmos em chegar o mais alto possível, tantas vezes por qualquer meio, e não passo a passo... talvez soubéssemos dar passos mais firmes e sensatos, neste nosso atribulado mundo... e a dar valor a todas as etapas do caminho...
Um poema muito belo e profundo que é sempre um gosto imenso descobrir!
Deixo um beijinho, e votos de uma feliz semana, Graça!
No meu próximo post, mais daqui a uns dias, destacarei um dos seus trabalho, Graça, se não vir inconveniente... com o respectivo link para aqui, claro!
Tudo de bom!
Ana

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Boa tarde Graça
Um ajoelhar perante a natureza e agradecer.
Um poema que é um misto de sentimentos e respeito.
Mais um belissímo trabalho poético que me fez bem ler.
Boa semana com muita saúde e alegria.
Um beijo
:)

Elvira Carvalho disse...

Um poema muito intenso que "vive" a angústia que grassa pelo mundo, a guerra a fome as tragédias que assolam o planeta.
Mais um poema que reli com a mesma emoção da primeira vez.
Abraço e saúde

teresa p. disse...

Poema de grande sensibilidade que leva à reflexão sobre o conflito entre a vida e a morte, o bem e o mal a que o ser humano está sujeito. Dor, desespero, mas também esperança e alegria.
"Perto do chão onde me ajoelho, há o reino subterrâneo da noite em conflito tenso com o dia".
A imagem que ilustra o poema é emocionante e tem tudo a ver com o texto. Maravilhosa!
Gostei muito.
Beijo.

bea disse...

O que a Graça encontra perto do chão é sempre iluminado. Mesmo se é miséria. E grito. E rouquidão cansada. A voz da Graça é sempre uma coisa que é outra coisa do que existe.
Boa semana Graça

Edite Lima disse...

Um poema intenso e profundo , Ajoelhar-se para para poder mais se aproximar da realidade e demonstrar prontidão diante da vida .
Abraços . Fica na paz , Graça.

Alécio Souza disse...

Querida Graça,
Existe vida em cima e embaixo da terra, ela é a natureza e a beleza do planeta.
Lindo texto poético.
Beijos!

Laura. M disse...

Profundas palabras. No olvidemos que al final volvemos a ella. Me encantó Graça. Gracias.
Buen miércoles.
Un abrazo.

lanochedemedianoche disse...

Intenso poema, maravillas de tu pluma querida poeta.
Abrazos

Jovem Jornalista disse...

Belas palavras! Adorei!

Boa semana!

O JOVEM JORNALISTA está no ar com muitos posts interessantes. Não deixe de conferir!

Jovem Jornalista
Instagram

Até mais, Emerson Garcia

Manuel Veiga disse...

os teus e teus livros são sempre inspiradores
sda minha admiração pelo teu "universo poética"

poema muito belo e profundo
adorei ler

beijo, querida POeta e amiga




Emília Pinto disse...

E temos todos de ajoelhar neste chão que um dia receberá o nosso corpo, ajoelhar de agradecimento, ajoelhar de angústia, ajoelhar pelo peso do tempo em nós; uma luta diária é travada neste nosso caminho entre as alegrias, os desanimos, as tristezas, porque tudo encontramos a cada passo que damos em direcção ao fim. O chão que nos foi dado percorrer é fértil em bênçãos que nem sempre sabemos agradecer, mas exige de nós força, sensatez e uma grande capacidade de saber dar valor ao que realmente importa, deixando de lado as animosidades que só prejudicam a nossa vida e a dos outros. Este nosso chão é constantemente " adubado " com o sangue de inocentes que tombam nas guerras, treme com os gritos desesperados de pessoas violentadas, com o choro silencioso de crianças com fome, já sem forças para gritar. E tudo isto desespera os homens e mulheres de boa vontade que ajoelham, não para agradecer, mas sim, pela frustração de nada poderem fazer. Houve, alguém, num comentário acima que comparou este poema a uma oração e eu concordo, querida Amiga. Uma oração sentida que fazes, com humildade, de joelhos. Obrigada ! Também orei. Um beijinho e que a saúde não te falte , nem a ti, nem aos teus
Emilia 🙏 🤲 🌻





Luiz Gomes disse...

Boa noite de quarta-feira minha amiga Graça. Obrigado pela visita e comentário. Acho que precisamos ter mais os nossos joelhos na terra. Obrigado pela reflexão e textos maravilhosos.

Jaime Portela disse...

Gostei de reler este magnífico poema.
Continuação de boa semana, amiga Graça.
Um beijo.

Juvenal Nunes disse...

No chão há, enfim, a vida.
Gostei muito do poema, desenvolvido numa dialética existencialista, que nos inquieta e empolga.
Abraço de poética amizade.
Juvenal Nunes

orvalhos poesia disse...

É sempre com prazer que leio o seu mar de palavras tão belas, duma grandeza onde não falta a ternura e a lavareda da vida. Saio sempre mais rica
Agradeço o apreço pela minha simples poesia e, desejo tudo bom neste novo ano.

Beijinho

Franziska disse...

Aquello que expresa el poeta, no siempre es fácil de comprender pero en éste, se siente una gran emoción. Hay un problema latente que hunde las rodillas pero que, al mismo tiempo, levanta el corazón con el mensaje que recibe de la naturaleza. Abrazos de paz y un mundo pleno de emoción y poesía.

alberto bertow marabello disse...

È una continua lotta il nostro cammino. Fatto di gioie e di fatiche. Camminiamo, non fermiamoci.
Um beijo

teresadias disse...

Querida Graça, vim deixar um beijo e desejar um fim-de-semana bem quentinho.
Obrigada, amiga!

Duarte disse...

SIM, junto à TERRA está tudo, aí a nossa origem.
Belo poema, intenso, que convida a uma reflexão profunda.
Mesmo de joelhos no chão, sim, porque é terra.
Forte abraço de vida

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça,
Passando por aqui, relendo este excelente poema que muito gostei, e desejar um feliz fim de semana, com muita saúde.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Majo Dutra disse...

Junto à terra há luz e escuridão, raízes e perfumes, vida e morte...
E ao pó tudo regressa...
Um poema bastante contundente, expressivo e eloquente...
Bom fim de semana. Beijinhos, querida Poeta.
~~~~~~~~~~~~~~

Fatyma Silva disse...

Ajoelhar em profunda reflexão e gratidão.
Um poema intenso e muito forte.
Obrigada pela partilha.
Bom fim de semana!
Beijinhos

Arthur Claro disse...

Linda poesia, meus parabéns.

Arthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com

Olinda Melo disse...


Imagem forte, quase trágico, que acompanha bem a essência
deste poema. A terra aqui invocada num dos momentos
em que a revolta se assanha e os joelhos se dobram
num contacto de pertença.
Aos poucos "Antígona..." vai-se insinuando no nosso
espírito e descobrimos quanto tem a ver connosco em alguns
momentos da vida. E aqui ficamos em estado de pura
reflexão.
Um dos seus melhores livros, querida Graça. Um prazer
relê-lo assim, tão compassadamente.
Bom domingo, minha amiga.
Olinda

Fá menor disse...

Muito belo, amiga Graça!
DE joelhos, a humildade nos faz bem.

Beijinhos e boa semana!

Vicky Cahyagi disse...

Great article and good blog. I followed your blog now. Thx

A.S. disse...

De joelhos na terra. Insubmissa até que sangrem os joelhos
e se liberte o grito sufocado na garganta!
Deixa que junte o meu grito ao teu neste teu maravilhoso poema!

Uma boa semana para ti minha Amiga Graça, com muita saúde.
Beijos!

baili disse...

Exceptional, beautiful, powerful!!!!!

Yes ground holds numerous secrets and burden of life my friend. Dark conspiracies of time and glorious narration of light. Conflict between darkness and light is from the beginning and Will continue ti eternity. Being left in the middle of this fight we are forced to pick a side and survive :)
Health peace and happiness to you and your family

Parapeito disse...

Mais um momento maravilhoso
Gosto muito dos poemas Antígona, passa e fica em nós.
Abraço e brisas doces ***