7.8.23

Deixem-me só

 
Kamille Corry   

                                                                                 
                                                                                                    
                                                                                                      Para a Graça Neto
Deixem-me só. 
Quero chorar como se me doesse 
o joelho esfolado no jogo da bola 
quando quase nada mais tinha para chorar. 
Quero tapar a cara para rir à gargalhada 
do pavor que a escuridão me causava 
quando quase nada mais me assustava. 

Deixem-me só. 
Porque agora não há pássaros silvestres 
a conceber em seu gorjeio o colo carinhoso 
onde me aninhava na hora da brincadeira 

e são de queixume as sombras 
que me assustam quando a periferia da noite 
declina sobre os meus medos.

Graça Pires 
De O improviso de viver, 2023, p. 19

51 comentários:

Mor Düşler Kitaplığı disse...

It's like a sign that I read your poem on days when I'm thinking of being alone. :)
very meaningful poem. thanks for sharing. :)
have a good week..

chica disse...

Linda poesia e súplica por ficar só!
Linda semana! beijos, tudo de bom,chica

brancas nuvens negras disse...

Não raro, temos sensações inesquecíveis que nos ficaram da infância... quase podemos retornar a elas.
Boa semana.
Um abraço.

Jaime Portela disse...

Por vezes há a vontade de ficar só...
Magnífico poema, gostei imenso.
Boa semana, cara amiga Graça.
Um beijo.

Rogério G.V. Pereira disse...

... e, exactamente, quando
a periferia da noite declina
sobre os teus medos
não contenho os meu dedos
e te deixo, na claridade do dia
esta mensagem:
NUNCA TE DEIXAREI SÓ

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida amiga Graça!
Há muitos momentos em que desejamos ficar sós e nada nos consola
Gostei dos paralelos das lembranças a que remeteram ao desejo de solitude.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos

Marta Vinhais disse...

A noite pode ser assustadora em momentos assim...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta

São disse...

Para mim , um dos teus melhores poemas.

Estar só é, por vezes, uma necessidade, sim.

Caloroso abraço, minha Amiga, excelente semana com saúde e bem estar.

Mário Margaride disse...

Um belo e sentido poema que muito gostei, amiga Graça.
A solidão quando imposta, pode ser muito dura, ao contrário da solidão que impomos a nós próprios, quando é necessária.
Excelente poema.
Votos de uma excelente semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

ManuelFL disse...

Magnífico poema dedicado à Graça Neto, que tenho o privilégio de conhecer.

E que bela ilustração.

Beijos às duas.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Boa tarde Graça

um poema que é quase uma súplica.
há momentos que queremos ficar sós quando a nossa dor é gingantesca e maior que todos os medos.
um poema sentido e que nos remete a um arrepio de mágoa e total compaixão.
muito intenso.
boa semana com paz e saúde.
um beijo
:)

Fá menor disse...

Muito belo, amiga Graça!
Por vezes há assaltos por noites sobre medos, em que não é fácil emergir da escuridão. Que haja sempre alguma mão amiga a levantar uma luz.

Beijinhos

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Um poema muito belo num apelo à solidão, também ao silêncio decerto, numa talvez manifestação de querer interiorizar e esquecer esses medos, que tantas vezes perduram.
Beijinhos minha Amiga e Enorme Poeta.
Um beijinho e uma boa semana.
Ailime

carlos perrotti disse...

Tiempos en los que ya ni llorar ni reir han vuelto a ser lo que eran... Sólo una poeta como usted ve la diferencia.

Abrazo grande, Graça amiga. Que esté muy bien!!

Luís Palma Gomes disse...

A dose de solidão diária devia ser respeitada como um bem precioso para a vida. Quem escreve, como a Graça, entende o quero dizer. Num dos meus poemas dos anos 90, comecei assim "Pobres/ Tão pobres/ Até de solidão privados" e às vezes quando dou por mim a maldizer a solidão dos nossos tempos, julgo-me em contradição. Mas este poema confirma-me essa necessidade de ficar só (em anteposição a viver em solidão). "Ficar só" é uma reação neste poema a um tempo de convívio e de alegria. E é essa dinâmica que transparece nas três estrofes: gostamos de partilhar a alegria e o bom humor; caso contrário, preferimos por cordialidade guardar a tristeza e os medos apenas para nós. A poesia, em especial, e arte, em geral, são uma forma de sublimá-los. Julgo que é essa a chave de leitura deste poema: a sublimação da tristeza. Até a dor e o medo podem ser bonitas 'quando ben cantato'. Bonito poema. Boa semana, Graça.

Nota: gostei bastante da sua análise ao meu "gato ao sol".

Luís Palma Gomes disse...

Um poema bom nunca está lido, por isso voltei a este. Numa terceira e quarta leitura, percebi que o sofrimento nele cresce exponencialmente, ou seja, que as primeiras dores são ridículas comparadas com as recentes. É sobretudo isso que ele nos diz. E o prazer? Cresce ou decresce com a idade? A memória é traiçoeira, eu sei. E o tempo-espaço é uma dimensão da teoria da relatividade, relativizando por isso a nossa perceção das coisas, dos fenómenos. Escreveu muito bem Ruy Belo, no seu "VAT 69" que começa com "Era depois da morte herberto helder(...)" e termina com "Seria realmente após a morte, herberto helder?", demonstrando que até o momento da morte é relativa, podendo inclusive viver-se depois dela.

Flor disse...

Muito lindo soneto!
Beijinho Graça.

bea disse...

Como os nossos medos se transformam sem desaparecer, não é Graça. Postos em poema até se despem de terror, ficam só uns medinhos pequenos, coisa irrelevante.
Boa semana

Edite Lima disse...

Uma linda poesia bem reflexiva.
Ficar só nem sempre significa "solidão ".Por vezes carecemos de nossa companhia . Abraços .

lanochedemedianoche disse...

Llorar se hace necesario a veces, pero siempre es mejor reír, muy bello poema.
Abrazo

J.P. Alexander disse...

Bello poema. Me ha gustado mucho. Te mando un beso.

solfirmino disse...

Minha amiga, querida, adoro esse poema. Você conseguiu mostrar a evolução das emoções ao longo do tempo, da transição da inocência da infância para a complexidade da idade adulta. Há uma melancolia que parece enraizada na nostalgia pelos momentos perdidos e na inevitável passagem do tempo. Maravilhoso!
Boa semana e beijinhos.

Olinda Melo disse...


Belíssimo este seu poema, Graça.
Tive de escolher entre este e o outro que publiquei
no "Xaile de Seda", mas deixei-o em rascunho.
Futuramente lá aparecerá. :)
Mas foi bom assim, porque agora tenho a
oportunidade de o ler aqui, publicado pela
autora, cuja escrita me encanta sempre.
Escrita profunda, única.
Boa terça-feira, minha amiga.
Beijinhos
Olinda

Os olhares da Gracinha! disse...

Por vezes apetece dizer:
_ Deixem-me só!👏😘

Rajani Rehana disse...

Beautiful blog

Anete disse...

Solitude sempre é uma coisa boa, o estar sozinho é importante na caminhada da vida...
Poema muito lindo, amiga Graça!
Boa terça-feira... Bjs

Lucinalva disse...

Bom dia, Graça
Lindo poema, as vezes precisamos ficar sozinhos, um forte abraço.

Laura. M disse...

Necesitamos muchas veces esa soledad. Buena reflexión.
Buen martes Graça.
Un abrazo.

Maria Rodrigues disse...

Por vezes, necessitamos mesmo de ficar sós.
Um poema sublime!
Beijinhos

Alécio Souza disse...

Querida Graça,
Em muitos momentos precisamos ficar só, seja para refletir, para tomar uma decisão, para sofrer por alguma decepção ou simplesmente festejar uma conquista. Lindo poema.
Um beijo!

alberto bertow marabello disse...

Sarebbe davvero molto saggio se recuperassimo un po' di quella ingenuità che hanno i bambini. Un'ingenuità fatta di spontaneità e semplicità.
Bellissima poesia amica Poetisa.
Un beijo

Luiz Gomes disse...

Boa tarde minha querida amiga Graça. As vezes a solidão é o nosso único companheiro. Uma excelente quarta-feira.

teresa p. disse...

Um belíssimo poema de apelo à solidão dedicado à Graça Neto, uma Amiga de sempre, de quem gosto muito e a quem desejo tudo de bom que a vida lhe puder dar. A imagem que ilustra o poema é maravilhosa. Parabéns!
Beijo.

helena maltez disse...

belíssimo poema poeta que admiro, a noite e as sombras que se deixam abraçar entre medos... a imagem que acompanha este seu belo poema é maravilhosa, parabéns, ler o que escreve deixa-me sem palavras,

Tais Luso de Carvalho disse...

Que maravilhoso poema, querida Graça,
forte, intenso...certas dores não esquecemos,
são marcantes demais. E a solidão muitas vezes
é necessária para nos encontrarmos.
Para uma desintoxicação do que não está bem.
A obra é de uma beleza extraordinária!
Um lindo fim de semana, querida amiga.
Beijo.

Maria João Brito de Sousa disse...

Um belíssimo poema que me veio encontrar de volta, depois de cerca de mês e meio de soidão involuntária...

Um beijo, Graça!

baili disse...

i loved this dear Grace the utterly sensitive expression and vigorous enough to make my eyes teary

crying was my favorite thing in many years ago ,i still cry a lot though through smiles and laughter yea a part of modern living

it's liberating indeed specially in solitude
how beautifully you put it is amazing as always !
hugs

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça,
Passando por aqui, relendo este excelente poema que muito gostei, e desejar um Feliz fim de semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Juvenal Nunes disse...

Li o texto como uma evocação da infância com as ocorrências e os medos próprios dessa idade.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

Isa Sá disse...

Bonito poema.
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Déjame...la anáfora para exhalar de adentro lo que duele. Un abrazo. carlos

Gaby Lirie disse...

Sempre bom retornar por aqui e ler tão belas poesias!

Um imenso abraço cheio de carinho.

Ana Tapadas disse...

É um poema maior, na mestria da Língua e na alma nua exposta ao tempo que passa...
Um beijo

lis disse...

Oi Graça
Poema com sentimentos que brotam sempre que as lembranças nos alcança.
Como sempre encontro beleza na sua escrita poética. Obrigada amiga
Tenha uma semana inspirada e feliz.
Te mando abraços

A.S. disse...

"Deixem-me só"! É como um grito de liberdade que ecoa na noite,
quando as sombras tecem os medos e tornam mais distante a alvorada.
Sublime poema!
Um bom fim de semana Amiga Graça, com muita saúde.
Beijo.

partilha de silêncios disse...

Estar só por vezes é uma necessidade.
belíssimo poema.
Uma semana feliz
bjs

Margarida Pires disse...

A solidão por vezes é uma fiel companheira!
Uma semana abençoada!
Beijinhos esvoaçantes!
🌸🌷🌸 Megy Maia

Ana Freire disse...

As nossas ansiedades... sempre de cariz relativo, após dificuldades ultrapassadas, e contudo tão absolutas quando nos confrontamos com elas... mas a vida passa, enquanto vamos substituindo uns medos por outros... que nos impedem tantas vezes de desfrutar a essência do presente...
Mais um belíssimo poema, que sempre nos faz reflectir sobre estados de alma, mais profundos... em poucas linhas... absolutamente admirável, Graça!
Beijinhos! Votos de férias felizes, na companhia dos seus!
Ana

Agostinho disse...

O que custa crescer, meu Deus!
As dores petrificam
Não são de crescimento.
O "deixa-me só"
(sozinho)
conforto de último lençol?

Boa saúde, Graça Pires.

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Graça,
Versos lindos e
de certa forma doídos.
Todavia PoesiA tem
essa magia de mostrar
seja que seja
por nuances e suavemente.
Bjins de bom
finalzinho de agosto dese 023.
CatiahoAlc.

orvalhos poesia disse...

Que maravilha, levou-me a recordar também o meu tempo de moça, com os mesmos sentires, recordar é viver, no caminho coisas boas e menos boas, todos passamos vamos inventando esperanças, mesmo sabendo que os caminhos não têm retorno.

Beijinho amiga Graça