6.11.23

Nenhuma palavra

Moisés Saman


Nenhuma palavra destrói um grito mudo 
um silenciamento em desamparo 
um muro farpado com arame 
uma chocante perfídia humana. 

Tentamos decifrar gestos confusos 
na turbulência de mãos intermináveis 
que enfrentam tormentas 
com o olhar cheio de cegueira 
à procura de um deus no suor da morte. 

Nenhuma palavra circunscreve o medo 
de olhares indefesos a pairar 
sobre uma paisagem impessoal. 
Nenhuma palavra redime as sombras 
dispersas no sangue de quem conhece 
o chicote da frieza e busca um ponto 
de fuga para agarrar a vida. 

Graça Pires 
De O improviso de viver, 2023. p.59

49 comentários:

chica disse...

Imagem forte que bem combina com a frieza, tristeza desses tempos...Nenhuma palavra pode explicar!

Linda semana!


beijos praianos, chica

Jaime Portela disse...

A História não se repete, mas o medo sim, interminável.
Um soberbo poema, os meus aplausos.
Um beijo e boa semana.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Vidas difíceis.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Marta Vinhais disse...

Nada responde ao Medo...As palavras soam a oco nessa altura....
Beijos e abraços
Marta

São disse...

Realmente , não existe consolo para um sofrimento que não se consegue perceber....


Amiga, beijinho de boa semana e tudo de bom.

Lucinalva disse...

Bom dia, Graça
Poema reflexivo, o sofrimento é doloroso, que dias melhores façam parte dos corações aflitos, um forte abraço.

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde de paz, querida amiga Graça!
"Um muro farpado com arame" e com agressividade e sangue nos olhos igualmente.
Um verdadeiro absurdo irracional.
Deus tenha piedade das pobres criancinhas!
"O chicote da frieza" de quem assiste e se ri do sangue jorrado.
As palavras não descrevem mesmo tanta crueldade a olhos vistos em todo mundo.
Excelente resgate poético da dor nossa de cada dia.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos com carinho fraterno

Laura. M disse...

Tremenda imagen nos dejas hoy. Y palabra que gritan ante tantas pérdidads humanas...
Buenna semana.
Un abrazo.

Fá menor disse...

Palavras pertinentes!
Os gritos mudos são mais que muitos... quem os deveria ouvir faz-se de surdo.

Beijinhos, amiga Graça! Boa semana!

Mário Margaride disse...

Poema forte, intenso, que retrata a inquietude da humanidade, perante o absurdo que nos afronta.
Gostei muito, amiga Graça.
Votos de uma feliz semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

partilha de silêncios disse...

Belo poema. É esta a triste realidade.
Continuação de boa semana
bjs

stella disse...

Imágenes que debieran hacernos reflexionar, versos que duelen porque es lo que estamos viviendo¡que tristeza por Dios! cuantos inocentes nos hablan con su dolor...
Se me ha encogido el alma
Un abrazo amiga

Marina Filgueira disse...

No hay palabras para descifrar tanto dolor, es verdad querida amiga, y decir que no hay nadie que pueda pararlo¡ Es verdaderamente angustioso¡¡¡ Para ellos y para la humanidad. Gracias por compartir tus sentires a los que yo te acompaño, porque se me muere el alma por tanta crueldad.

Te dejo mi abrazo de buena amistad y gratitud.

Feliz semana.

Mariete Salema disse...

Poema que me encantou ler
*
Abraço/beijinho.
*/*
Poema: Até amanhã meu amor
*/*

lanochedemedianoche disse...

La realidad supera la fantasía, algun dia tiene que cambiar, aunque no sé, no veo ni vislumbrar nada, solo dolor en el mundo, muy buena reflexión en el poema.
Abrazo

carlos perrotti disse...

Cada palabra tuya inspira, Poeta, genera memoria y consciencia...

Abrazo grande, amiga Graça. Con el reflexivo placer de leerla otra vez.

Regina Graça disse...

Incompreensível este retrocesso à idade do ódio.
Não nos podemos silenciar, sobretudo nestes dias em que as bocas voltaram a estar amordaçadas.

Querida Graça Pires, por favor, escreva sempre!!!

Beijinho

bea disse...

Não devia ser permitido que pessoas, gente igual a nós, sintam essa necessidade de buscar um ponto de fuga para agarrar a vida. O desejo de poder e supremacia é vingativo, não usa o respeito que todos devemos uns aos outros.
O poema é comovente e sabemos pela forma que é da poeta da blogosfera: a Graça.
Boa semana :)

Elvira Carvalho disse...

Um poema muito intenso. A vida que nos rodeia é cada dia mais temível.
Abraço e saúde

Anete disse...

Realmente uma triste realidade num poema emocionante. Gostei de refletir.
Bjs. Ótima semana...

brancas nuvens negras disse...

Um poema muito oportuno nesta época de desalento que estamos a viver.
Um abraço.

J.P. Alexander disse...

Profundo y conmovedor poema. Te mando un beso.

Olinda Melo disse...


Sim, não há palavra que descreva a desumanidade que
campeia, sem respeito pela vida e pelos direitos
que pensávamos já adquiridos. Cada dia que passa
constatamos que navegamos na ignorância, sem um
pingo da evolução que tanto propalamos.
Um poema que cala fundo nos nossos corações.
Tenha uma boa semana, minha amiga Graça.
Beijinhos
Olinda

Isa Sá disse...

Mais um bonito poema que vim cá conhecer.
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Ailime disse...

Bom dia Graça,
Um poema forte, profundo, repleto de sensibilidade perante uma realidade que nos afixia por tanto sofrimento para o qual não se vê saída.
Muito belo, minha amiga e enorme Poeta.
Beijinhos e continuação de boa semana.
Ailime

ManuelFL disse...

A emoção começa com a imagem das duas crianças com as mãos tocando uma janela, em desamparo, como que a pedir socorro, solidariedade, compreensão.

Depois vem o poema, cheio de humanidade, que nos interpela, nos desassossega, nos desafia.

Um beijo, Graça

manuela barroso disse...

A actualidade do poema e a imagem são confrangedoras. Uma imagem vale por mil palavras, mas consegues delinear de tal forma a angústia, aflição e desespero do mutismo, que devolves ao teu poema a força que te sai da alma.Belíssimo, como sempre!
Um grande beijinho, Graça.

Ana Bailune disse...

Teus poemas sempre me deixam entre duas respirações, parada, encantada.

" R y k @ r d o " disse...

Imagem e poema deslumbrantes de ver e ler.
.
Um dia feliz. Saudações cordiais.
.
Poema: “ Apenas amar-te “
.

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Graça querida,
Como mulher de teatro e
profissional de elencos para
a as cenas, li o texto
visualizando as cenas uma
a uma.
Emocionada agradeço a sua
sensibilidade em mais essa
publicação.
Bjins de boa nova semana.
CatiahoAlc.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Graça

A foto e o poema são de cortar o coração.
A realidade é muito dolorosa.
Fico comovida ao ler este poema tão verdadeiro e chocante.
Boa semana com saúde.
Um beijo
:)

alberto bertow marabello disse...

Bellissimi versi, molto forti e carichi di umanità. E forse parole come queste potrebbero cambiare qualcosa in questo mondo triste, se solo le pronunciassimo in tanti.
Un abbraccio,amica Poetisa. Grazie per i tuoi versi
Un beijo

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, amiga Graça,
muito bonito este poema com admiráveis
imagens poéticas.
Votos de uma linda semana, amiga.
Um beijo.

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Seus versos doeram em mim enquanto lia... Mas sua escrita é muiito tocante e bonita. Bju

Alécio Souza disse...

Querida Graça,
Nenhuma palavra é capaz de definir o medo de não se ter o amanhã, de viver esperando a morte chegar a qualquer momento como nas guerras que infelizmente vivemos atualmente.
Triste e sofrido poema que adorei ler.
Um beijo!

Maria Rodrigues disse...

Não há palavras para definir tanta dor e sofrimento.
A dor do sentir em plena sintonia com uma dolorosa imagem.
Um poema sublime!
Beijinhos

Klaudia Zuberska disse...

As always, you arouse a lot of emotions with your text. Thank you for your creativity!
Greetings from Poland!

Luiz Gomes disse...

Boa tarde de quarta-feira Graça. Imagem com muita dor e infelizmente elas se repetem cada vez mais.

Alice Alquimia disse...

Nenhuma palavra tem o poder de traduzir algo tão forte e verdadeiro. Muito sentido o texto. Obrigada por nos permitir fazer parte desse momento.

Betonicou disse...

Olá, Graça! Este poema é uma expressão poderosa da luta humana contra a adversidade, explorando temas de dor, medo, incompreensão e a busca incessante pela sobrevivência. Apesar da dor e do medo, o poema termina com a imagem de alguém que "busca um ponto de fuga para se agarrar à vida". Isso sugere uma determinação para sobreviver e encontrar esperança, mesmo em meio à adversidade. Que nestes tempos de caos, Deus esteja com todos nós! O poema é belo, com reflexões muito verdadeiras. Beijos.

Juvenal Nunes disse...

O planeta Terra é o único habitado pela espécie humana.
Apesar disso há quem teime em não deixar que haja lugar para todos-
Abraço de poética amizade.
Juvenal Nunes

teresadias disse...

Querida Graça, que poemão!!!
Tentei mas não encontrei palavras para descrever o que senti ao lê-lo.
Adorei, minha amiga.
Vivemos tempos de terror e horror.
Beijo, bom fim-de-semana.

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça,
Passando por aqui, relendo este belo poema que muito gostei, e desejar um bom fim de semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Luís Palma Gomes disse...

Ultimamente tenho pensado com frequência que o corpo tem uma consciência alternativa da mente e quase exclusiva. É isso que diz este poema, que a linguagem não consegue mapear a realidade completa. Tenho também tentado entender o que escreveu Lacan sobre esta matéria. Deixo aqui duas frases dele que me parecem aplicar a este poema:"Penso onde não sou; portanto, sou onde não me penso." e "O significado é produzido através da linguagem, mas permanece sempre indefinido.". Tentando uma conclusão rápida (à sexta-feira à noite já estou algo cansado), as palavras não conseguem definir com eficácia as sensações. Logo, por mais que nos narrem o horror, a desgraça será sempre apenas uma abstração simbólica. Por isso, a linguagem poética pode encurtar este hiato entre interlocutores, entre emissor e recetor. O teatro também tem essa valência, porque tem palavra e gesto e enviar mensagens sensoriais de toda espécie. Este poema faz sentido agora, porque pode ajudar-nos a compreender o sofrimento da guerra, dos migrantes, dos mais frágeis. Espero que esteja bem, amiga Graça. Um beijo para si.

Carlos augusto pereyra martinez disse...

Cuánta alusión siento en estos versos a,los niños, muertos impunemente en la franja de Gaza, ante impávidas miradas de organismos como la ONU. UN abrazo
Carlos

solfirmino disse...

Sim, minha querida, o grito é mudo, pois os homens da guerra de qualquer tempo são surdos. Quantas vidas foram perdidas, histórias que nunca vão acontecer por causa dessa brutalidade que nunca acaba?
Um ótimo domingo

Os olhares da Gracinha! disse...

Viver com sofrimento 😔😘

Emília Pinto disse...

Nenhuma palavra por mais bela que seja, por mais horrenda, seja em poesia ou prosa, consegue entrar em nós, fazendo-nos entender o que se passa na cabeça do ser humano; as lágrimas queimam-nos os olhos, pedindo que as deixemos cair rosto abaixo, como caiem nos rostinhos inocentes; é estarrecedor ver tanta gente a fugir sem qualquer esperança de encontrar um abrigo seguro que os proteja dos misseis que caem a todo o instante. Gritam as crianças, tentam protegê-las as mães angustiadas, mas nada trava a ferocidade dos senhores da guerra. E nós, impotentes, olhamos toda esta miséria humana com uma tremenda vergonha de pertencermos a esta raça, considerada a mais inteligente deste nosso planeta dito azul. Somos capazes das coisas mais maravilhosas mas que ficam ofuscadas pela atitude de uns poucos " alucinados " que colocam o poder acima da vida humana, não poupando sequer as crianças inocentes e indefesas. Não há palavras, querida Amiga! Será que " Horror " chegará para tudo o que vemos nestas guerras? Será que encontraremos outra? Penso que não! NENUMA PALAVRA, querida Graça! Um beijinho e votos de que estejam todos bem de saúde
Emilia

Ana Freire disse...

Ainda não se inventaram palavras, que expliquem a necessidade de guerras... ou o sentido de uma qualquer guerra...
Só as suas palavras, fizeram total sentido, Graça, delineando tais tragédias, na perspectiva de quem realmente sente... as guerras são um profundo desperdício de tudo... num combate sem verdadeiros vencedores... haverá sempre danos irreparáveis em qualquer dos lados...
Como sempre, um poema notável, Graça!
Um beijinho!
Ana